Curitiba e São Paulo - Das 25 pessoas detidas sexta-feira na Operação Lava-Jato, pelo menos dez já prestaram depoimento à Polícia Federal, em Curitiba. Executivos de empreiteiras acusadas de formar um cartel para negociar contratos com a Petrobras negaram a existência do "clube". Alguns admitiram que conhecem o doleiro Alberto Youssef e que suas empresas fizeram doações, dentro da lei, a PT, PMDB e PP. A expectativa dos policiais é terminar de ouvir os depoimentos na tarde de hoje, quando vence a prisão temporária de pelo menos 15 investigados.

Um dos depoimentos prestados ontem foi o do ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, acusado pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa de receber propina das empreiteiras. Um dos cúmplices de Duque teria recebido US$ 100 milhões, segundo uma fonte ligada às investigações. Em seu depoimento, o ex-diretor de Serviços negou fazer parte do esquema de corrupção e disse que não foi indicado ao cargo pelo PT, ao contrário do que dissera Costa.

Duque não descarta acareação

Segundo o advogado Renato de Moraes, que representa Duque, ele não tem relação com o partido e foi indicado para a diretoria pelo Conselho de Administração, "após 30 anos de serviço prestados à estatal". Moraes disse que seu cliente não teria quem ou o que delatar, mas admitiu que poderá fazer uma acareação com Costa.

Também ontem, a PF ouviu os executivos da OAS José Ricardo Nogueira Breghirolli, Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Mateus Coutinho de Sá Oliveira, Alexandre Portela Barbosa e José Aldemário Pinheiro Filho. Eles permaneceram em silêncio, de acordo com o advogado deles, Juliano Breda. Da empresa Iesa Petróleo e Gás, prestaram depoimento Valdir Lima Carreiro e Otto Garrido Sparenberg, mas o teor de suas declarações não foi revelado.

O diretor-executivo da Queiroz Galvão, Othon Zanoide de Moraes Filho, foi ouvido sábado, mas só teve o depoimento revelado ontem. Ele admitiu que foi apresentado a Youssef pelo ex-deputado federal José Janene (PP), morto em 2010, e que o doleiro era o "responsável por orientar sobre a forma de contribuição da empresa Queiroz Galvão ao PP".

Ouvido domingo, o ex-diretor-presidente da empresa Ildefonso Colares Filho afirmou que as doações feitas pela construtora a PT, PMDB e PP, três partidos apontados como beneficiários do esquema, ocorreram dentro da lei. Os dois executivos negaram que a Queiroz Galvão participasse de um cartel.

Também foram revelados ontem os depoimentos de dois diretores da Engevix, ouvidos no fim de semana. Carlos Eduardo Strauch Albero e Newton Prado Junior disseram que os contratos entre a companhia e empresas mantidas por Youssef, como a GDF Investimentos e a M.O. Consultoria, foram feitos pelos sócios da construtora. Apontado como o responsável por pagar e acompanhar o cumprimento dos contratos, um desses sócios, Gerson de Melo Almada, foi preso sexta-feira. (*Enviado especial)

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PMDB busca se distanciar de Baiano

O Globo - 18/11/2014

"Institucionalmente, jamais houve qualquer operador do partido", diz Temer

 

Cristiane Jungblut

 

BRASÍLIA - A cúpula do PMDB se reuniu ontem à noite com o vice-presidente Michel Temer e discutiu uma estratégia para tentar, pelo menos no discurso, se distanciar de Fernando Soares, o Fernando Baiano, que foi apontado como operador do PMDB dentro das investigações da Operação Lava-Jato e está foragido.

A intenção é utilizar o discurso de que Baiano pode ser conhecido de alguns peemedebistas, mas não é ligado ao partido. Integrantes do partido já lembram que depoimentos mais recentes apontaram ligação de Fernando Baiano com Néstor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional a Petrobras, que teria sido indicado para o cargo pelo PT. Cerveró está sendo investigado pela compra da refinaria de Pasadena.

O líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), disse ontem ao GLOBO que "não tem nenhum relacionamento ou relação com Fernando Baiano", mas admitiu que o recebeu, em seu escritório no Rio, na condição de representante da empresa espanhola Acciona, que fez obras no Rio em empreendimentos de Eike Batista. Cunha vem dizendo a aliados estar tranquilo com as investigações.

Ontem à tarde, Temer deu uma declaração sobre o escândalo, ao participar de seminário no Tribunal de Contas da União (TCU), e depois se reuniu com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e com o líder Cunha. Apesar do clima de preocupação no partido sobre os nomes de parlamentares que podem ser citados, Temer tentou distanciar a sigla das denúncias:

- Ele (Fernando Baiano) não tem relação nenhuma com o PMDB, ele pode ter eventualmente relação com um ou outro membro do PMDB. Institucionalmente, jamais houve qualquer operador do partido.

Geddel cobra executiva

No encontro com Temer, os peemedebistas leram em detalhes a representação do Ministério Público. Há trechos onde o empresário Júlio Gerin Camargo, executivo da empresa Toyo-Setal e que entrou no processo de delação premiada, diz que havia uma relação entre Fernando Baiano e Cerveró.

Em entrevista ao Panorama Político, do colunista Ilimar Franco, Geddel Vieira Lima, candidato derrotado ao Senado, cobrou de Temer um pronunciamento oficial da Executiva:

- Sou militante do PMDB há 30 anos e nunca ouvi falar de Fernando Baiano. A Executiva Nacional precisa se pronunciar oficialmente sobre o episódio.