SÃO PAULO - Investidores que têm em suas carteiras ações da Petrobras estão assustados com a perda de valor desses papéis, que no ano chega a 21,5%. Corretoras ouvidas pelo GLOBO contam que, depois que os desvios de recursos da estatal tornaram-se públicos, triplicaram os telefonemas de pequenos investidores em dúvida sobre manter ou vender as ações. Analistas recomendam que aqueles que já têm dinheiro aplicado na Petrobras mantenham a ação em seu portfólio. Para quem quer aproveitar o preço baixo - a ação está sendo negociada a pouco mais de R$ 12, perto da mínima registrada este ano - a recomendação é de cautela, já que o valor pode cair ainda mais. Alguns apostam que a ação poderá, em breve, recuar até R$ 10.

- O clima é de insatisfação total entre os investidores. Para quem está pensando a longo prazo, a recomendação é manter o papel em carteira. O negócio de petróleo é promissor e lucrativo no mundo inteiro, e a Petrobras está atravessando uma má fase por problemas de gestão. A curto prazo, os papéis podem cair ainda mais e chegar a R$ 10, com as incertezas sobre como o balanço do terceiro trimestre será afetado - diz Maurício Pedrosa, sócio da Queluz Asset Management.

Uma estratégia recomendada por ele para quem quer aproveitar o preço baixo da ação é comprar parceladamente. Segundo Pedrosa, a cada dia de mal-estar da Petrobras, o papel tende a se desvalorizar. Mas mesmo esse investidor deve ter em mente que o investimento só poderá ser resgatado a longo prazo. O sócio da Queluz lembra que, se a empresa virar o ano sem apresentar seus números, a situação tende a se complicar. Investidores institucionais, como fundos de pensão ou estrangeiros, não poderão ter em carteira uma empresa cujos números não tenham sido auditados.

pode-se recorrer a CVM e SEC

O raciocínio de não vender agora as ações da Petrobras e assumir o prejuízo vale inclusive para aqueles que aplicaram os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em fundos de ações Petrobras, afirma Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos.

- É melhor ficar para não realizar o prejuízo. Eu não retornaria para o FGTS, a menos que estivéssemos falando de uma empresa pré-operacional. A Petrobras é uma grande empresa e vai voltar à normalidade - afirma Bittencourt.

Ele lembra que, embora não seja possível pagar dividendos enquanto o balanço da empresa não for divulgado, isso deve mudar no futuro, quando os auditores independentes assinarem a prestação de contas da empresa.

Embora haja o risco de revisão até de balanços anteriores e mudanças nos planos da empresa, Elad Victor Revi, analista da Spinelli, afirma que alguns investidores veem isso como uma oportunidade.

- Está todo mundo no escuro, e não se sabe como isso pode afetar os dados contábeis. Alguns investidores estão preocupados, mas há os que veem que o preço está barato em relação à média histórica do papel - afirmou.

O advogado Pierre Moreau, do escritório Moreau Advogados, afirma que os acionistas minoritários que se sentirem prejudicados pela perda de valor das ações da Petrobras podem requerer à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que investigue as responsabilidades pelos prejuízos. Ele lembra que os detentores de títulos da empresa no exterior ou de American Depositary Receipts (ADRs, recibos emitidos na Bolsa de Nova York que equivalem a ações) também podem reclamar à Securities and Exchange Commission (SEC), que regula os mercados financeiros dos Estados Unidos.

- Os detentores de títulos podem inclusive pedir antecipação do vencimento desses papéis, diante do fato de a empresa não ter divulgado seu balanço. Uma alternativa seria a própria Petrobras recomprar esses títulos, garantindo a liquidez. Já os minoritários que investiram seu FGTS em fundos Petrobras e estão se sentindo lesados podem requerer à CVM que apure as responsabilidades pela perda de valor da empresa - afirma Moreau.

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