O governo brasileiro obteve a garantia de que as autoridades suíças vão repatriar cerca de US$ 26 milhões (R$ 65 milhões) depositados em contas bancárias naquele país por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, informou o procurador Orlando Martello. Ele e mais dois colegas estão na Suíça com a tarefa de garantir a repatriação desses recursos, obtidos por Costa através de pagamento de propinas, alvo da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Não há, porém, prazo para que a devolução ocorra.

- Que o dinheiro será repatriado, isso nós já sabíamos antes de vir para cá. Já era algo que esperávamos. Mas não tem data - disse Martello.

Segundo Martello, o valor que os suíços devolverão será maior do que todo o dinheiro que o Brasil já conseguiu repatriar em casos como esse no exterior

Martello disse que a Procuradoria- Geral da República não pressionou em relação a prazos, por respeitar o procedimento suíço, aproveitando o clima de "muito boa" cooperação :

- Não pedimos prazos. Vamos respeitar o procedimento dos suíços. Pode levar um mês, dois meses, um ano&

A novidade da primeira reunião dos procuradores brasileiros com autoridades do Ministério Público da Suíça, ontem, em Lausanne, foi o acesso a documentos - os extratos bancários que revelam a extensão da corrupção. Os procuradores também buscam contas de outros suspeitos do esquema de corrupção da Petrobras, como o ex-diretor de Serviços da estatal, Renato Duque.

Além de Martello, estão na Suíça os procuradores Delton Dallgnol e Eduardo Pelella, chefe de gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Pelella também acompanhou este ano na Itália a batalha para a tentativa de extradição do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado no julgamento do mensalão e que que fugiu para a Itália.

- Analisamos os documentos pela primeira vez, mas não podemos falar do conteúdo - disse Martello

A reunião no Ministério Público começou ontem de manhã e se prolongou pela tarde. Hoje, os procuradores se reunirão novamente com os suíços com o mesmo propósito: analisar documentos. Martello informou que, segundo os acordos de cooperação entre Brasil e Suíça, o dinheiro poderá ser repatriado antes de uma condenação judicial de Costa.

O Ministério Público da Suíça informou que as investigações no país que levaram à descoberta do dinheiro desviado por Costa continuam:

As investigações suíças começaram em 11 de abril e fazem parte de um esforço daquele país para combater a lavagem de dinheiro.

 

 

Foragido, Baiano desfez sociedade que mantinha negócios com estatal

Antes de se entregar, investigado tirou Technis de relação com BR Distribuidora

Germano Oliveira
e Cleide Carvalho

A empresa Technis Planejamento e Gestão em Negócios, que, segundo a Polícia Federal, seria do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, foi sócia até outubro da FTC Card Inc. A FTC administra o processamento e serviços de fidelização de clientes da BR Distribuidora e das Lojas BR Mania. A empresa processa cerca de 500 mil transações por dia na rede de postos da Petrobras.

A informação consta de documento entregue à Justiça Federal do Paraná ontem, no qual a FTC Cards desfez a sociedade com a Technis. Baiano é apontado como operador do PMDB no esquema de desvio de recursos da Petrobras

A FTC foi criada em 2011, mesmo ano em que assinou o contrato com a BR Distribuidora, e tinha sede em Barueri (SP). A sociedade foi desfeita em 17 de outubro, no primeiro dia útil após decretada a prisão de Baiano, quando ele era considerado foragido. Baiano só se entregou no dia 18 deste mês.

Segundo o documento, a FTC é uma empresa constituída em Vancouver, no Canadám, e representada no Brasil pelo procurador Celso Luís Posca, morador de Campinas. A Technis é administrada por Antonio Furlan Junior, possivelmente testa de ferro de Baiano. O terceiro sócio da FTC é Arie Halpern, um brasileiro que mora na Suíça e é representado por um procurador, o advogado Eduardo Zobaran.

Halpern tem 10% na sociedade. Já a FTC Cards Inc ficou com 90% das cotas. Com a saída da Techinis, o capital da empresa foi reduzido de R$ 23,9 milhões para R$ 16,7 milhões. A FTC administra o Petrobras Premmia, programa de fidelidade dos postos da BR Distribuidora. Pelo sistema, os clientes acumulam pontos e ganham descontos e ingressos.

A Technis Planejamento e Gestão em Negócio teve R$ 2 milhões bloqueados em conta, por determinação da Justiça. A empresa, segundo investigação da PF, tem conta na Suíça. Baiano é apontado também como dono da Hawk Eyes Administração de Bens, que teve R$ 6,5 milhões bloqueados.

O executivo Júlio Camargo, da Toyo Setal, que assinou delação premiada, disse que depositou R$ 9,6 milhões nas contas da Technis e Hawk Eyes e que Baiano cobrou US$ 40 milhões em propina na venda de duas sondas de perfuração para a área internacional da Petrobras, comandada por Nestor Cerveró.

 

Petrobras recebeu acusação contra Sanko-Sider em 2005

 

Ouvidoria obteve denúncia de fraude, mas empresa foi mantida no cadastro de fornecedores

 

Eduardo Bresciani

A Petrobras recebeu em 2005 denúncia de fraudes promovidas pela empresa Sanko-Sider no fornecimento de materiais para a estatal. A acusação, à qual O GLOBO teve acesso, foi feita à Ouvidoria da Petrobras por uma pessoa que se identificou como funcionária da empresa. Mesmo assim, a Sanko-Sider não foi excluída do cadastro de fornecedores da estatal.

Laudo da Polícia Federal na Operação Lava-Jato mostra que a Sanko-Sider repassou R$ 40,9 milhões para consultorias de fachada do doleiro Alberto Youssef, após receber esse mesmo valor do consórcio chefiado pela Construtora Camargo Corrêa na refinaria de Abreu e Lima (Pernambuco).

A denúncia diz que a Sanko-Sider entregou 3.250 metros de tubos de aço carbono falsificados na obra da refinaria de Paulínea em 2005. Segundo o relato, a suspeita foi levantada por técnicos da Petrobras. A falsificação teria sido atestada pela fabricante dos tubos e informada à Petrobras por carta.

"O fabricante Confab Industrial S/A foi convocado a analisar a suspeita da Petrobras e ao inspecionar o material entregue pela Sanko-Sider, imediatamente confirmou a falsificação dos produtos (fraude esta para compensar o baixo preço unitário ofertado)", escreveu a denunciante à Ouvidoria.

Há no relato a citação de outra licitação no qual a Sanko-Sider ficou na quinta posição, mas acabou contratada após a desqualificação das concorrentes e se comprometer a cobrir o preço da vencedora. A denúncia diz que em outra concorrência o preço oferecido era 16% abaixo do que o próprio fabricante cobrava. Segundo a denunciante, só era possível apresentar esse preço porque os produtos eram fraudados. A funcionária dizia que pediria demissão em breve e estaria disposta a apresentar os documentos à Petrobras.

A Sanko-Sider continua no cadastro de fornecedores da Petrobras e foi subcontratada pelo consórcio liderado pela Camargo Corrêa na Abreu e Lima. Foi com a justificativa deste contrato que repassou recursos a título de "consultoria" para as empresas MO Consultoria e GFD Investimentos.

O doleiro Alberto Yousseff já reconheceu que essas empresas não prestavam serviço algum e eram usadas apenas para recebimento de recursos. Laudo da PF atestou que a Sanko-Sider repassou integralmente R$ 40,9 milhões recebidos do consórcio entre 2010 e 2013. Procuradas, Petrobras, Sanko-Sider e Camargo Corrêa não responderam os questionamentos.