Investigadores da Lava Jato acreditam que está em curso estratégia da defesa de alguns empreiteiros citados na Operação Juízo Final, sétima fase da Lava Jato, para neutralizar o peso das acusações dos principais delatores do esquema de propinas e corrupção na Petrobrás.

Para os investigadores, a versão dos empresários de que foram alvo de exigências de propinas para ter contratos firmados ou mantidos com a estatal petrolífera pode ser uma forma de tentar enfraquecer as denúncias e inverter os papéis – neste caso, eles passariam de corruptores a vítimas da ação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.

Costa e Youssef relataram a existência de um cartel de construtoras em praticamente todas as unidades da estatal. Apontaram 13 empreiteiras supostamente envolvidas no conluio. Eles afirmaram que até 3% dos valores contratuais eram destinados a partidos políticos, como o PP, PMDB e PT, com repasses para o PSDB e o PSB.

Na terça-feira, 18, o vice-presidente da Mendes Júnior, Sérgio Mendes, disse em depoimento à Polícia Federal, em Curitiba, que foi pressionado por Youssef e Costa a pagar R$ 8 milhões em quatro parcelas, entre julho e setembro de 2011, sob ameaça de rompimento do contrato da obra da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná.

Mendes declarou que o doleiro “agia em nome do ex-diretor de Abastecimento”. Ele apontou como fez os pagamentos para empresas de Youssef, a quem os investigadores atribuem o papel de operador do esquema do PP.

Antes do vice da construtora, o empresário Erton Fonseca, da Galvão Engenharia, afirmou a agentes federais que sofreu pressão dos delatores para “pagamento de vantagens ilícitas no âmbito da Diretoria de Serviços, à época em que o cargo era ocupado por Renato Duque”. Ex-diretor de Serviços e indicado para o cargo pelo PT, Duque foi preso sob suspeita de integrar a rede de corrupção.

Na avaliação dos investigadores, os relatos dos executivos da Mendes Júnior e da Galvão Engenharia buscam “emparedar” os delatores. Para eles, a tática dos empresários visa desmoralizar os delatores ou, no mínimo, estabelecer dúvidas sobre a real participação das grandes construtoras no esquema.

Uma outra ala de policiais e procuradores que compõem a força-tarefa da Lava Jato considera que as versões de Sérgio Mendes e Erton Fonseca não têm força porque a investigação não se ampara apenas nas provas testemunhais.

Ao decretar a prisão dos executivos, o juiz Sérgio Moro assinalou: “Relativamente aos pagamentos milionários no exterior a dirigentes da Petrobrás, já há prova documental de que Paulo Roberto Costa mantinha no exterior, especialmente na Suíça, valores milionários, pelo menos US$ 23 milhões. Agora, mais recentemente, outro dirigente, subordinado a Renato Duque, ou seja, Pedro Barusco confirma valores vultosos de até US$ 100 milhões no exterior. Tais fatos confirmam em linhas gerais o esquema criminoso, conferindo credibilidade aos colaboradores”.

O juiz reforçou ainda a importância das provas documentais contra as empreiteiras. “Embora o depoimento de criminosos colaboradores deva ser visto com reservas, cumpre destacar que o esquema criminoso encontra confirmação na prova documental, especialmente, como visto, na prova documental das transferências sem causa efetuadas em favor de contas controladas por Youssef por parte das diversas empreiteiras.”

‘Olhos verdes’. O criminalista Marcelo Leonardo, que representa Sérgio Mendes, rebateu enfaticamente a suspeita de que a versão da extorsão não passa de estratégia. “A extorsão é fato objetivo, concreto, não é versão. Ninguém está inventando isso agora. Empresário ia dar dinheiro de graça por causa de olhos verdes de alguém?”.

A defesa do executivo da Galvão Engenharia também rebateu. Em nota, o criminalista José Luís Oliveira Lima destacou que Erton Fonseca foi vítima.

“O dr. Erton Fonseca esclareceu que todos os contratos da Galvão Engenharia S/A junto à Petrobrás foram obtidos de maneira absolutamente lícita. Ele foi vítima de uma concussão praticada por um funcionário público (Paulo Roberto Costa) e de uma extorsão cometida por um particular (Alberto Youssef). O fato de se colocar à disposição de uma acareação com os srs. Costa e Youssef é a demonstração cabal da veracidade das suas afirmações”, diz a nota da defesa do executivo.