O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá pedir, em breve, a abertura de inquérito contra pessoas acusadas nos depoimentos do doleiro Alberto Youssef, assim que receber o conteúdo da delação premiada. Ele enviará ao Supremo Tribunal Federal (STF) as investigações contra pessoas com direito a foro especial, como parlamentares e ministros. As demais serão alvo da Justiça Federal no Paraná.

Para Janot, os conteúdos das delações de Yousseff e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa são suficientes para embasar as investigações de corrupção na estatal. Mais delações premiadas devem ser acordadas entre o Ministério Público e outros suspeitos, especialmente dirigentes de empreiteiras envolvidos. Caso os próximos depoimentos apresentem novos indícios, outros inquéritos serão abertos.

Os primeiros indícios de fraude na Petrobras foram enviados ao STF com base nos depoimentos de Costa. Janot, porém, pediu que as investigações só fossem iniciadas após a conclusão de todas as delações premiadas. Agora, com os novos depoimentos de Youssef, Janot pedirá abertura de inquérito contra pessoas apontadas como participantes do esquema.

Os casos tramitam em segredo de justiça. Caso o Ministério Público apresente denúncia contra os suspeitos, e se a Justiça abrir ações penais contra os acusados, o conteúdo das delações poderá ser revelado. As fraudes na Petrobras vieram à tona na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Foram presos dirigentes da estatal e de empreiteiras envolvidas no esquema.

Em seus depoimentos, Youssef denunciou 80 suspeitas de fraudes, corrupção, movimentação ilegal de dinheiro e outros crimes praticados por ele, grandes empreiteiras, políticos e funcionários da Petrobras. A íntegra dos interrogatórios deve ser enviada a Procuradoria-Geral da República na próxima semana e, a partir daí, ao STF.

Caberá o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, decidir se homologa a delação do doleiro. Com base nas revelações de Youssef e de Costa, Teori decidirá se abre inquérito contra parlamentares acusados. Investigadores calculam que Teori só deverá deliberar sobre o tema em janeiro ou fevereiro do próximo ano.

Youssef assinou acordo de delação com o Ministério Público Federal em setembro. Desde então, vinha prestando uma média de quatro a seis horas de depoimento, cinco dias por semana. O doleiro e as demais pessoas e empresas investigadas na operação movimentaram de forma suspeita R$ 23,7 bilhões entre 2011 e 2014, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Youssef e Costa citaram políticos beneficiários dos desvios.

 

 

Deputado é citado em planilha de doleiro

Nelson Meurer (PP) aparece como beneficiário de r$ 42 mil

 

Cleide Carvalho
e Germano Oliveira

O nome do deputado federal Nelson Meurer (PP-PR) apareceu pela segunda vez na Operação Lava-Jato. A planilha com a contabilidade paralela do Posto da Torre, em Brasília, do doleiro Carlos Habib Chater, mostra pagamento de R$ 42 mil para "Nelson Meurer". Na mesma página, há três remessas endereçadas só a "Nelson", no total de R$ 103 mil.

A Lava-Jato começou com investigações das atividades do posto de combustíveis. No local, também funcionam uma casa de câmbio, uma lavanderia e um lava-jato de veículos, o que deu o nome à operação.

O doleiro Alberto Youssef afirmou que fazia remessas para Chater que, por sua vez, se encarregava de distribuir os valores para políticos em Brasília. Na contabilidade de Chater, ainda há diversas operações feitas com o codinome "amiguinha", identificadas pela Polícia Federal como sendo entregas de dinheiro feitas a pedido da doleira Nelma Mitsue Panasso Kodama - um dos quatro doleiros presos.

Chater negou em depoimento que tenha recebido dinheiro para repassar a terceiros. Ele afirma que pegava empréstimos com doleiros, como Youssef, para manter o fluxo de caixa de seu posto de combustíveis, que não estaria bem financeiramente.

Meurer apareceu pela primeira vez na Lava-Jato na agenda apreendida na casa do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, na qual é detalhado o valor repassado ao PP em 2010. De acordo com as anotações de Costa, o partido recebeu R$ 28,5 milhões, dos quais R$ 4 milhões para "Nel", que a Polícia Federal identificou como sendo Nelson Meurer, também presidente do PP do Paraná. Outros R$ 5,5 milhões registrados na agenda teriam sido pagos ao deputado João Pizzolatti (PP-SC), que nega ter recebido esse valor.

Meurer nega envolvimento

Procurado, Meurer disse desconhecer Chater e afirmou não ter recebido dinheiro dele.

- Não sei quem é e não tenho conhecimento desse depósito de R$ 42 mil em meu nome. Nunca recebi nada dele, nem sabia que tem um Posto Torre em Brasília. Nunca falei com ele, nem sabia que ele existia. A não ser que alguém recebeu esse dinheiro em meu nome, mas eu desconheço.

Meurer afirmou que, fora das doações oficiais registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não recebeu dinheiro para suas campanhas eleitorais. Em 2010, explicou, recebeu R$ 500 mil da Queiroz Galvão e R$ 206 mil do PP nacional.