Os bancos nunca cobraram juros tão altos das famílias brasileiras. A taxa média subiu de 42,8% para 44% ao ano em outubro - a maior já registrada pelo Banco Central (BC) desde que passou a contabilizar esse dado, em 2011. Com juros maiores, o peso das dívidas no orçamento mensal também aumentou. O comprometimento da renda com pagamentos subiu de 19,23% para 19,36% em setembro (o dado é divulgado com defasagem), o terceiro maior percentual já registrado pelo BC.

Já o endividamento das famílias brasileiras ficou praticamente estável e passou de 45,9% para 45,88% em setembro. O percentual reflete o tamanho da dívida em relação à renda anual das famílias. Quando o BC excluiu o crédito imobiliário - considerado pelo governo um investimento e não despesa -, o endividamento caiu de 28,6% para 28,48% naquele mês. Foi a oitava queda seguida desse indicador.

A expectativa é que os juros continuem a subir, já que a alta ocorreu antes mesmo de o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros (Selic) no fim do mês passado. Três dias após as eleições, o BC aumentou a Selic de 11% para 11,25% ao ano, surpreendendo os bancos. Com o custo de captação do dinheiro maior e expectativa de juros mais altos, as instituições devem continuar a elevar o valor cobrado dos clientes.

O crédito pessoal foi a modalidade que teve maior alta de custo no mês passado: 7,3 pontos percentuais a mais do que em setembro. Em outubro, a taxa média para tomar um crédito pessoal foi de 103% ao ano, a maior da História. Mas não se compara aos juros do cheque especial, que chegaram a 187,8% ao ano - os maiores dos últimos 15 anos. Em doze 12 meses, essa taxa cresceu 43,3 pontos.

- É uma modalidade de custo elevado e, por isso, deve ser usada com bastante parcimônia e em momento específicos - disse o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.

Segundo Maciel, a alta de 4,5 pontos percentuais na taxa do cheque especial foi o fator que mais pesou na elevação da média dos juros em outubro.

"Spread" recorde

- O que se espera de reação no canal de crédito é a elevação das taxas aos tomadores. É um processo lógico - explicou.

A diferença entre o custo de captação do dinheiro e o que é cobrado pelos bancos dos clientes - o Spread , que inclui o ganho das instituições - também bateu recorde. Subiu de 31,2 pontos percentuais para 32,1 pontos percentuais, o mais alto já registrado.

Já a taxa média cobrada das pessoas jurídicas saiu de 22,8% ao ano para 23,4%, a maior desde março de 2012. A alta no custo dos empréstimos veio num momento de queda da inadimplência. A taxa das pessoas físicas caiu de 6,6% em setembro para 6,4% em outubro - menor nível desde que o BC passou a registrar esse dado, em março de 2011.

 

 

Ministra afirma que parcela de miseráveis não aumentou

 

Demétrio Weber
 

 

A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, disse ontem que o aumento do índice de miseráveis no Brasil, no ano passado (de 3,6% para 4%), está dentro da margem de erro e não passa de uma flutuação dentro da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. Ela afirmou que a proporção de extremamente pobres segue uma tendência de queda no país e que isso será comprovado no ano que vem, quando forem divulgados os dados da Pnad que estão sendo coletados em 2014.

Tereza participou de sessão da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados. Segundo ela, a margem de erro da Pnad é de 0,22 ponto percentual para mais ou para menos, no cálculo do índice de miseráveis. Assim, a variação de 0,4 ponto percentual estaria dentro da margem de erro e não representaria inversão na trajetória de queda da pobreza extrema.

-Eu gostaria de defender que a pobreza e a pobreza extrema continuam numa tendência de queda - disse Tereza, que foi convidada a comparecer à comissão pelo líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE).