Os envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras investigado pela Operação Lava-Jato ganharam um motivo a mais para se preocupar. Em conferência na última quarta-feira, a procuradora-geral assistente do Departamento de Justiça dos EUA (DoJ), Leslie Caldwell, responsável pelos casos de corrupção fora do país, foi bastante clara sobre a intenção de prender mais pessoas corruptas, em vez de punir companhias e seus acionistas, apelando para países parceiros colaborarem na busca dos protagonistas dos crimes. A Petrobras vem sendo acompanhada pelas autoridades dos EUA, que mantêm contato com o escritório Gibson, Dunn & Crutcher LLP, contratado pela própria estatal brasileira.

- O nosso histórico de sucessos nesses processos (mais recentes) nos permite mostrar aos executivos que, se eles participam de atos de corrupção, como influenciar indevidamente um funcionário público estrangeiro, individualmente terão uma perspectiva muito real de ir para a prisão - disse ela, durante conferência em Washington sobre a Lei contra Atos de Corrupção no Exterior (FCPA, na sigla em inglês).

A legislação permite ao Departamento de Justiça e à SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA), com dose extra de rigor, investigar e punir empresas estrangeiras, sob alegação de que elas podem comprometer a competitividade de companhias americanas.

Os casos são ainda mais rigorosos quando as empresas têm ações ou ativos nos EUA ou competem com empresas globais, quesitos nos quais a Petrobras se encaixa.

Das 50 pessoas individualmente processadas pelo DoJ, em casos relacionados à lei anticorrupção nos últimos cinco anos, metade foi em 2013, afirmou Leslie Caldwell. Há nos EUA uma grande pressão da sociedade para que pessoas envolvidas em crimes de “colarinho branco” sejam presas, e não apenas suas companhias multadas em valores significativos, o que não deixou de continuar acontecendo.

Caso a Justiça americana comece a responsabilizar e punir com cadeia executivos de empresas envolvidas em fraudes, dirigentes da Petrobras e de empresas envolvidas nos escândalos da estatal poderão ser impedidos de pisar em solo americano e até em outros países, sob risco de prisão.

Se forem responsabilizados nos EUA, pode-se repetir com eles a situação do deputado Paulo Maluf (PP-SP). Indiciado pela Justiça de Nova York em 2007 por roubos de fundos públicos, transferência de recursos de origem ilícita e conspiração, Maluf seria preso se pisasse nos EUA. A partir de 2010, a situação se agravou com sua inclusão na difusão vermelha da Interpol. Isso o impede de deixar o Brasil e de passar por qualquer um dos 188 países signatários da organização policial internacional.

Uma eventual condenação pela Justiça americana, porém, não pode redundar em prisão no Brasil e em extradição, já que a Constituição impede a extradição de brasileiro nato. Assim, eles só serão presos no Brasil se condenados aqui.

Se a Operação Lava-Jato levou para a prisão presidentes e diretores de grandes empreiteiras tradicionais, e pôs em xeque as operações da maior empresa do Brasil, nos EUA a Petrobras, seus executivos e conselheiros deverão enfrentar rigor ainda maior. No âmbito das pessoas jurídicas, os EUA tendem a punir as empresas não só pelos atos, mas pela falta de controles anticorrupção, explica Richard Craig Smith, chefe de Investigações Regulatórias e Governamentais do escritório Norton Rose Fullbright em Washington, e ex-procurador do DoJ.

- As empresas também podem ser consideradas vítimas de processos de corrupção pelas autoridades americanas, mas apenas se tiverem os controles internos e comprovarem que seus processos são suficientemente acurados para indicar essas situações - disse Smith.

Qualquer ação no sentido de maior controle é bem-vinda pelos EUA. Em um caso envolvendo a Statoil, por exemplo, o governo da Noruega, que controla a empresa, preferiu diluir a diretoria da empresa, investigada nos EUA, para mostrar boa vontade em relação às autoridades americanas. A Embraer possui um processo em curso junto às autoridades americanas que envolve investigações sobre o pagamento de propinas em países estrangeiros para a venda de aeronaves, e também optou pela criação de um departamento de controle (“compliance”).

- As empresas não têm culpa ou dolo em atos desse tipo, o que compete às decisões de pessoas físicas, mas estão sujeitas a penalidades e têm de provar seus métodos de controle, para indicar que não são lenientes - explica Marta Viegas Rocha, integrante do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

CONSELHO DA ESTATAL NÃO DEVE SER INCRIMINADO

O caso da Embraer mostra um pouco como funcionam as investigações da SEC e do DoJ. Ele se arrasta desde 2010 e levou a empresa brasileira a conviver com restrições operacionais ou de acesso a crédito. A Embraer vem indicando em seu balanço, desde 2011, que as investigações no âmbito do FCPA “podem resultar em multas significativas ou em outras sanções ou consequências adversas”. A empresa diz que vem conduzindo uma investigação interna e cooperando com autoridades do Brasil e dos EUA, mas que não pode fazer comentários adicionais.

Assim como a Embraer criou a área de “compliance”, a Petrobras vem atuando em sua defesa — e na de seu conselho, principalmente — ao anunciar diretoria similar e ao abrir investigação contra ex-diretores e empreiteiras envolvidas. Essa vem sendo considerada, por especialistas e parlamentares, uma tentativa do conselho de dar satisfação ao mercado e tentar evitar que o caso chegue aos seus integrantes da época de negócios como a compra de Pasadena.

Tradicionalmente, o DoJ aceitava acordos propostos pelas empresas que envolviam multas elevadas (na casa até do bilhão de dólares) mas que preservavam as pessoas envolvidas nos atos. Nessa linha, especialistas e advogados ainda veem como pequena a possibilidade de o Conselho de Administração da Petrobras, do qual fazia parte a presidente Dilma Rousseff, ser incriminado nos EUA. Ao focar nas empresas, e não nas pessoas, o governo americano vinha amealhando bilhões de dólares do exterior em investigações no âmbito do FCPA.

Para Glen Kopp, advogado do escritório Bracewell & Giuliani LLP, é difícil que uma investigação do FCPA puna membros do Conselho de Administração de uma empresa processada.

- As pessoas que atuavam na autorização de pagamentos, na intermediação de valores, que deveriam saber o que ocorria, mas olhavam para o outro lado, os que cobrem ações e que fraudam documentos são tipicamente as pessoas processadas em casos envolvendo o FCPA. É algo que o DoJ gostaria de fazer, mas os sistemas de gestão e a burocracia acabam protegendo diretores e conselheiros - disse Kopp.

O destino mais provável para o caso da Petrobras nos EUA, mantida a tradição das autoridades, seria assumir novas posturas de controle de práticas e pagar uma salgada multa, correndo o risco de sofrer ações judiciais por parte de acionistas minoritários em busca de compensações.

 

 

Monitores fiscalizam empresas investigadas

 

 

Uma das iniciativas frequentes, em decorrência de processos da lei anticorrupção dos EUA, é a instalação do "monitor externo" nas empresas investigadas. Em geral, funcionários de longa data de bancos tradicionais, entidades multilaterais ou grupos de empresas reconhecidas são instalados nas empresas condenadas para assegurar a transição para um modelo livre de corrupção.

- Essa é uma maneira de o governo americano ter um controle maior das consequências de suas determinações, principalmente para empresas estrangeiras - disse Glen Kopp, ex-procurador do Departamento de Justiça dos EUA e advogado do escritório Bracewell & Giuliani LLP, de Nova York.

Assim como a punição de pessoas, a adoção de um "monitor" se tornou mais comum nos últimos dois anos, afirmou Kopp. Um monitor foi imposto, por exemplo, à Siemens, num caso de corrupção com maior multa da História dos EUA.

 

Congresso deve aprovar parecer do TCU sobre Refinaria Abreu e Lima

 

Tribunal diz que há irregularidades e pede suspensão de pagamentos

 

Fernanda Krakovics

 

Diante do escândalo de corrupção na Petrobras, integrantes da base aliada e da oposição afirmam que o Congresso não terá outro caminho a não ser aprovar a recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU) para suspender o repasse de R$ 19,8 milhões para as obras de terraplanagem da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, onde foi detectado superfaturamento. Segundo levantamento do tribunal, as obras de terraplanagem da refinaria têm um custo total de R$ 534 milhões.

Os parlamentares acreditam que a presidente Dilma Rousseff não terá condições políticas de vetar essa decisão, ao contrário do que fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, quando vetou a decisão do Congresso, liberando R$ 13,1 bilhões para quatro obras da Petrobras com irregularidades "graves" apontadas pelo TCU.

- Nessa condição, não tem como fazer diferente - disse um senador do PMDB, em referência à recomendação do TCU.

Essa também é a opinião do deputado Rodrigo Maia (RJ), ex-presidente do DEM:

- Só se o Congresso estiver doido para não aprovar.

Em 2009, o TCU recomendou ao Congresso a paralisação, devido a irregularidades consideradas graves, das obras das refinarias Abreu e Lima e Getulio Vargas, no Paraná; do terminal do Porto de Barra do Riacho, no Espírito Santo; e de unidades do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Para Maia, diferentemente de Lula em 2010, Dilma não terá como vetar:

- É um momento diferente. O Lula tinha como dizer que não tinha informações (sobre esquema de desvio de dinheiro).

Essa avaliação não é unânime. Há integrantes da base que afirmam que suspender parte dos repasses atrasaria ainda mais a conclusão das obras da Refinaria Abreu e Lima, o que prejudicaria o país:

- A conta petróleo é o maior déficit das contas externas, o Brasil exporta óleo cru e importa óleo leve. Se for atrasar ainda mais as refinarias, vai aumentar ainda mais esse déficit. Isso não quer dizer que tem que persistir a roubalheira, mas temos que ter cautela - disse o líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ).

Integrante da Comissão do Orçamento, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) afirma que é preciso analisar primeiro se o contrato das obras de terraplanagem de Abreu e Lima, às quais o TCU se refere, está no escopo das investigações da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal

 

Último foragido pretende se entregar hoje em Curitiba

 

Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades, é acusado de levar malas com dinheiro

Germano Oliveira

Adarico Negromonte Filho, irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, vai se entregar hoje à Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, levado por sua advogada Joyce Roysen. Ele é considerado foragido pela Justiça há 15 dias, quando teve a prisão temporária decretada pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, por suspeita de integrar o grupo criminoso investigado pela Operação Lava-Jato, que desviou ao menos R$ 10 bilhões da Petrobras.

Adarico é acusado de levar malas e sacolas, com grande quantidade de dinheiro, do escritório do doleiro Alberto Youssef a políticos e empresários integrantes do esquema.

Por Adarico ter "quase 70 anos", sua advogada enviou petição a Moro na qual pede que a prisão temporária seja revogada. Caso isso não ocorra, Adarico ficará na carceragem da Polícia Federal em Curitiba pelo menos até a próxima sexta-feira.

Caso o juiz aceite o pedido do Ministério Público Federal (MPF), que deseja que Adarico tenha prisão preventiva decretada, ele ficará detido por tempo indeterminado.

A advogada diz que Adarico é considerado "foragido da Justiça, o que não é condizente, pois em momento algum foi realizada diligência em sua residência na cidade de registro, para o cumprimento da medida coercitiva". Na verdade, a PF esteve lá, mas não o encontrou em casa.