Sem ter sido notificado ainda da decisão judicial que o obriga a voltar para Brasília, o ex-ministro José Dirceu passou o dia de ontem em sua casa, num condomínio fechado em Vinhedo, a 80 quilômetros de São Paulo. O ex-ministro informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que só retornará à capital federal quando for oficialmente informado sobre a decisão tomada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, que cancelou a autorização para a viagem a São Paulo.

Embora o despacho assinado por Barroso, sábado, informe que Dirceu deveria retornar com urgência a Brasília, onde cumpre pena em prisão domiciliar, a expectativa do ex-ministro é que ele só seja notificado hoje, segundo seu advogado, José Luís de Oliveira Lima. De acordo com Lima, a Justiça trabalha em esquema de plantão no fim de semana, o que explicaria a demora da chegada da intimação. Por volta das 16h, o ex-ministro já dava como certo que não havia mais tempo para receber a visita do oficial de Justiça ontem.

Dirceu deve retornar a Brasília de carro, mesma forma como chegou a São Paulo no meio da semana - o ex-ministro evitou pegar avião. Preocupado com o retorno repentino, Dirceu chegou a avisar amigos que o visitariam ontem que já estava de malas prontas para retornar a Brasília. Ele passou o dia em casa com a namorada, Simone, e a filha de 2 anos. Não recebeu visitas, e não deixou a casa nem para almoçar.

Dirceu havia sido autorizado a viajar a São Paulo entre os dias 18 de novembro e 2 de dezembro pelo juiz Nelson Ferreira Junior, da Vara de Execuções Penais e Medidas Alternativas (Vepema) do Distrito Federal. Ao justificar o pedido para sair de Brasília, o ex-ministro argumentou que precisava cuidar do escritório que mantém em São Paulo.

advogado estranha decisão

Sábado, o ministro Barroso, relator do processo que julgou Dirceu no caso do mensalão, argumentou que não houve qualquer comunicação formal a ele da decisão tomada pelo juiz Ferreira Junior. Em comunicado enviado à imprensa, o advogado Lima disse que a decisão do ministro Barroso causa "estranheza":

- Em primeiro lugar, porque não ocorreu em recurso do Ministério Público. Em segundo lugar, o próprio ministro Barroso havia declinado da competência do processo da AP 470, conferindo ao juiz da Vepema o poder para tomar decisões mais corriqueiras.

Dirceu foi condenado a sete anos e 11 meses por corrupção ativa, no processo do mensalão. O ex-ministro foi preso no dia 15 de novembro do ano passado, mas conseguiu, dia 28 de outubro, o direito de cumprir a pena em regime domiciliar, em Brasília.