Título: G-20 contra comida cara
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 24/06/2011, Economia, p. 9

Os ministros da Agricultura do G-20 ¿ grupo das 19 principais economias do planeta e a União Europeia (UE) ¿ chegaram ontem, em Paris, ao consenso de que é necessário combater de forma coordenada a persistente alta dos preços dos alimentos. Eles, contudo, não cederam à proposta francesa de imposição de regras mais rígidas aos mercados internacionais de commodities. "Os membros do G-20 concluíram acordo para um plano de ação", informou o ministro da Agricultura francês Bruno Le Maire, após a reunião do chamado G-20 Agrícola. Apesar disso, fontes próximas às negociações avaliaram que ficou a sensação de falta de um comprometimento em favor da repressão aos especuladores. Em defesa dessa tese, o presidente francês Nicolas Sarkozy realizou uma campanha na abertura do primeiro encontro do grupo sobre o tema.

A França, que preside temporariamente o G-20, propôs um plano de ação para melhorar a transparência dos mercados de produtos agrícolas, aumentar a produtividade, coordenar a produção mundial, regular os mercados financeiros e reduzir os efeitos da alta dos preços dos alimentos para as nações mais vulneráveis. Alguns desses pontos, como o da transparência para permitir oscilação menor de preços, não agradam a todos os países que integram o G-20, que representam 77% da produção mundial de cereais e 80% do comércio mundial de produtos agrícolas.

Segurança

As cotações internacionais de produtos alimentícios chegaram a um recorde mais cedo este ano, dando urgência ao debate sobre como aprimorar um sistema produtivo global de alimentos, uma vez que ainda existem 925 milhões de pessoas passando fome no mundo. "Com o acordo, os membros do G-20 concordaram em interromper a restrição à exportação de alimentos para ajuda humanitária", disse o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack.

Além da falta de um envolvimento maior com a regulação de mercado proposta no documento, outros assuntos ainda dividem opiniões, como os biocombustíveis e os estoques emergenciais de alimentos. Com isso, esses temas também terão alcance limitado.

No início dos debates do G-20 Agrícola, o ministro brasileiro da Agricultura, Wagner Rossi, destacou que os países desenvolvidos precisam firmar consenso para assegurar o fornecimento de alimentos para todos os povos do mundo. "O Brasil está pronto para assumir a sua parte e aumentar a oferta de alimentos para o mundo. Temos 120 milhões de hectares de terras antropizadas (com domínio da presença humana) que podem e devem ser reincorporadas ao processo produtivo e ambiental", afirmou.