Na contramão do consumo das famílias, o aumento da despesa do governo federal no período eleitoral contribuiu de forma significativa para evitar que a economia continuasse em queda no terceiro trimestre, na avaliação de economistas. Segundo a média das projeções de 19 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,2% de julho a setembro sobre os três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais.
 
Caso esse desempenho seja confirmado, a economia terá deixado o status de "recessão técnica" - jargão econômico usado para designar recuo da atividade por dois trimestres seguidos -, mas não vai recuperar totalmente a queda de 0,6% registrada entre abril e junho. As estimativas para as Contas Nacionais Trimestrais, a serem divulgadas amanhã pelo IBGE, vão de retração de 0,6% até crescimento de 0,5%.
 
Mesmo entre os economistas com previsões mais otimistas, a percepção é que atividade econômica seguiu estagnada, dado que ligeira expansão deve ocorrer principalmente pelo fim do efeito Copa do Mundo, que reduziu o número de dias úteis no segundo trimestre e derrubou a indústria e o investimento. No terceiro trimestre, esses dois componentes do PIB devem ter voltado ao campo positivo, mas não há sinais de retomada consistente, porque o ramo industrial enfrenta estoques altos e a confiança de empresários segue em nível bastante baixo.
 
Maurício Molan, economista-chefe do Santander, avalia que não é possível falar em recuperação. A economia segue "meio parada", diz ele, ainda que a estimativa do banco seja de avanço de 0,4% do PIB no terceiro trimestre. Apesar das oscilações trimestrais, "estamos mais ou menos no mesmo nível de atividade observado no segundo trimestre de 2013", afirma.
 
Neste cenário, a política fiscal expansionista praticada pelo setor público deu contribuição relevante para evitar novo comportamento ruim da atividade. Para Molan, o consumo do governo teve a maior alta entre os componentes da demanda, com avanço de 0,6% no terceiro trimestre, após queda de 0,7% no período imediatamente anterior.
 
Um pouco mais otimista do que a média dos economistas em relação ao consumo das famílias, Molan acredita que a demanda privada subiu 0,3% entre julho e setembro. Em sua opinião, mesmo que as famílias priorizem a poupança no momento atual, os aumentos reais de salários não sugerem retração do consumo.
 
Doze analistas ouvidos pelo Valor Data projetam alta de 0,2% dessa parte do PIB na passagem trimestral. Com previsão de expansão de 0,1%, Igor Velecico, do Bradesco, sustenta que os desafios para aceleração da demanda privada se intensificaram nos últimos meses devido a uma gama de fatores, tais como a alta dos juros básicos, o baixo nível de confiança dos agentes econômicos e a menor geração de postos de trabalho formais.
 
Apesar do consumo mais fraco, 12 economistas estimam, em média, que as importações de bens e serviços subiram 2,2% de julho a setembro, contra alta menor das exportações, de 0,7%.
 
Leandro Padulla, da MCM, explica que os dados do setor externo no PIB têm maior correlação com o balanço de pagamentos, que tem mostrado aumento relevante das importações de serviços, devido ao aluguel de plataformas de petróleo. Em seus cálculos, as importações avançaram 2,5% no terceiro trimestre, com alta de 1,8% das exportações. Assim, diz, o setor externo deve ter impacto negativo sobre o PIB.
 
Por outro lado, os economistas ouvidos sustentam que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e equipamentos e na construção civil) interrompeu uma sequência de quatro retrações trimestrais e avançou 1,3%, segundo a média de 12 instituições.
 
Velecico, do Bradesco, estima que os investimentos cresceram 2,6% no período, resultado influenciado tanto pela maior produção de bens de capital quanto de insumos típicos da construção civil. A atividade desse setor já subiu 5% desde a mínima histórica recente de junho, mas ainda está cerca de 5% abaixo do patamar médio de 2013. "A leitura adequada, portanto, é a de que a esperada alta recente é a devolução de fatores atípicos observados ao longo do segundo trimestre, e não representa necessariamente uma mudança de tendência", disse.
 
Em linha com a volta da formação de capital físico, o destaque positivo do PIB do terceiro trimestre sob a ótica da oferta deve vir da indústria, após quatro trimestres de queda. Irineu de Carvalho, do Itaú, calcula que o PIB industrial subiu 1,5%, projeção que se baseia nos indicadores de atividade conhecidos, principalmente no aumento da produção do setor em julho e agosto, de 0,7% e 0,6%, respectivamente. Carvalho ressalta, porém, que a indústria não reverteu a tendência negativa observada nos últimos trimestres porque ainda tem estoques elevados.
 
Para Silvia Matos, do Ibre-FGV, a indústria deve perder protagonismo como setor indutor do desaquecimento econômico no segundo semestre. Segundo ela, este espaço será tomado pelos serviços, que devem ter avançado apenas 0,3% nos três meses encerrados em setembro, depois de uma queda de 0,5% na comparação anterior.