O consultor Shinko Nakandakari foi diretor da Odebrecht, responsável por obras relacionadas à construção de uma hidrelétrica na Argentina e atuou também como executivo da empresa em Portugal. A relação de Nakandakari com a maior empreiteira do país não é investigada pela Polícia Federal (PF), mas a Odebrecht Plantas Industriais, uma das divisões da companhia, é alvo de inquérito da operação Lava-Jato: dois executivos, Márcio Faria e Rogério Medeiros, figuram entre os investigados no procedimento que apura, exclusivamente, a relação da empreiteira com suspeitas de corrupção e superfaturamento na Petrobras.

Shinko trabalhou na Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), empreiteira adquirida em 1980 pela Odebrecht. A aquisição permitiu a entrada da Odebrecht no segmento de Hidrelétricas e sua expansão nas áreas de engenharia e construção no país. “O ex-executivo citado entrou na CBPO, segundo os registros que dispomos, em 1976”, informa a assessoria de imprensa da Odebrecht. Nakandakari trabalhou na empreiteira até 1992. A Odebrecht informa que ele exerceu o cargo de gerente, mas o Valor apurou que o executivo desempenhou também função de diretor na companhia.

Nakandakari foi citado pelo executivo da Galvão Engenharia, Erton Medeiros Fonseca — que está preso — na operação Lava-Jato. Erton disse à PF que foi extorquido por Nakandakari, a quem teria pago propina de R$ 8,3 milhões, em valores líquidos. Segundo Fonseca, Nakandakari se apresentou como emissário de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras.

Os advogados de Erton Fonseca apresentaram à Justiça notas fiscais que comprovariam pagamentos de propina que totalizam R$ 8,8 milhões em valores brutos. Segundo os defensores, os pagamentos foram feitos a Luis Fernando Sendai Nakandakari e a Juliana Sendai Nakandakari, filhos de Shinko, e à empresa LFSN Consultoria Engenharia, da qual Shinko Nakandakari é sócio majoritário. LFSN são as iniciais do nome do seu filho.

O advogado de Nakandakari nega que ele tenha sido emissário do ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque, que também está preso, e afirma que seu cliente foi procurado pela Galvão Engenharia no começo desta década, para serviços de consultoria em infraestrutura: “O Shinko é um consultor reconhecido pelo mercado e foi a Galvão Engenharia quem o procurou. Como fizeram também outras grandes empreiteiras”, disse Rogério Tafarello ao Valor.

“Shinko tem décadas de atuação em grandes obras de infraestrutura, dentro e fora do Brasil, na América Latina e na Europa, inclusive”, diz Tafarello. Segundo o advogado, Shinko tem expertise em economia de recursos, equilíbrio econômico- financeiro em contratos, licitação e elaboração de projetos. “Shinko certamente é conhecido das top 20, top 30 do mercado.”

O advogado diz que Nakandakari tem experiência em lidar com situações que envolvam aditamentos contratuais. “Essas grandes obras perduram por vários anos e às vezes ocorrem imprevistos que, quando se elaborou o projeto inicial, não tinha como prever. Então é preciso buscar reequilíbrio do contrato. Era esse serviço que Shinko oferecia. Ele foi procurado pela Galvão diante desse histórico.”

Tafarello não soube precisar quando a aproximação entre a Galvão Engenharia e Nakandakari ocorreu ou quem o procurou, mas disse que talvez no início dessa década. Outras empreiteiras procuraram o serviço de Shinko, disse o advogado sem citar nomes.

O serviço para a Galvão Engenharia partiu de iniciativa da empreiteira e foi executado, disse Tafarello. “Esse mercado de grandes empreiteiras e grandes obras é pequeno, as pessoas se conhecem.

O advogado reforça que Nakandakari nunca trabalhou na Petrobras, sempre atuou na iniciativa privada e que ele não era emissário da estatal. "Posso assegurar que ele jamais foi enviado da Petrobras."

Tafarello diz que até agora não recebeu informação de quando Nakandakari será intimado a prestar depoimento. A defesa do consultor procurou a Polícia Federal nesta semana para dizer que o cliente está à disposição para prestar esclarecimentos.

A investigação que apura suspeitas de envolvimento da Odebrecht Plantas Industriais teve início com depoimentos do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Youssef. Em suas delações, os executivos da empreiteira, Márcio Faria e Rogério Medeiros, foram citados como contatos diretos da Odebrecht no esquema que envolveria um clube de empreiteiras, grupo “Vip” com acesso a contratos bilionários da Petrobras sob orientação de Duque, afirmam os investigadores. No dia 8 de outubro, em interrogatórios ao juiz Sergio Moro da 13a vara criminal de Curitiba, os delatores Costa e Youssef ratificaram as versões apresentadas em seus termos de colaboração com a Justiça.

Além do inquérito que apura suspeitas de ilícitos envolvendo a Odebrecht Plantas Industriais, outras 12 investigações individualizadas foram abertas para apurar suspeitas de envolvimento de executivos das seguintes empresas: OAS, Construtora OAS, Galvão Engenharia, Mendes Junior Engenharia, Constran, Engevix Engenharia, Toyo Setal Empreendimentos, Iesa Projetos, Jaraguá Equipamentos, JSM Engenharia, Consórcio Sehab e Coesa Engenharia.

Sobre Costa, a Odebrecht informa que “informou ao juiz responsável pelas investigações que os únicos pagamentos de empresas da organização ao ex-diretor da Petrobras foram feitos por meio de sua controladora Braskem, como proventos a que ele fazia jus como membro do conselho de administração daquela companhia, indicado pela Petrobras para uma das vagas que a empresa pública tem direito, como sócia minoritária”. Sobre o inquérito que envolve Medeiros e Faria, a empreiteira informa que “todos os contratos conquistados, há décadas, pela Odebrecht, junto à Petrobras, são resultantes de processos de seleção e concorrência previstos em lei”.