Plataformas petrolíferas de águas profundas estão paradas. Planos de extração por fraturamento hidráulico foram enxugados. Projetos gigantes de explorar areias betuminosas no Canadá foram engavetados. No fim das contas, o baixo preço do petróleo pode não ser ruim para o ambiente.
Os preços internacionais do petróleo caíram mais de 30% em cinco meses, uma queda profunda e surpreendente, após um período de quatro anos de preços perto ou superiores a US$ 100 por barril.
Há não muito tempo, essa queda teria sido sentida pelos ambientalistas como um soco no estômago. Quanto mais baixos os preços dos combustíveis fósseis, dizia a lógica, menor seria o incentivo para o desenvolvimento e uso de alternativas mais "limpas".
Com o barril a US$ 75, porém, o preço é suficiente para manter o fluxo de investimentos em fontes alternativas e, ao mesmo tempo, desestimular o setor a fazer investimentos caros e arriscados em campos petrolíferos que representam grande ameaça ao ambiente.
Economistas e ambientalistas ressaltam que, se os preços caírem demais, o consumo pode crescer e a busca por alternativas "limpas", paralisar-se. Calculam que um bom preço para o ambiente estaria na faixa de US$ 60 a US$ 80.
Quando a demanda por petróleo cresceu na década passada, as petroleiras não acompanharam o ritmo e os preços subiram. Parecia que o mundo estava ficando sem petróleo. Investidores despejaram dinheiro em empresas de biocombustíveis e em fabricantes de baterias para carros elétricos. Mas esses setores não decolaram.
Os preços elevados, por sua vez, levaram petroleiras e investidores a procurar petróleo onde quer que fosse, sem se importar com o custo. Desenvolveram projetos em áreas ambientais delicadas ou valendo-se de métodos mais nocivos ao ambiente. Também desenvolveram tecnologias que liberaram vastos volumes que antes se pensava estarem fora de alcance. O que era escassez, agora parece ser excesso.
"Foi um [resultado] líquido negativo do ponto de vista climático", diz Andrew Logan, diretor dos programas de petróleo e gás do grupo ambiental Ceres. "Prendeu-nos em uma dependência de longo prazo em relação ao petróleo."
A questão agora é se a forte queda dos preços vai ajudar ou atrapalhar esses esforços. Para alguns, a resposta é clara. "Haverá mais demanda [por combustíveis fósseis] e menos incentivos para as tecnologias alternativas", diz James Stock, economista da Universidade Harvard. "No longo prazo, do ponto de vista ambiental, é inequivocamente ruim ter um preço do petróleo baixo."
Baixos preços, porém, nem sempre se traduzem em maior demanda. Nos EUA, padrões mais rigorosos de consumo de combustíveis vêm tornando carros e caminhões mais eficientes, ajudando a reduzir a demanda, a despeito do preço. Em grande parte do mundo emergente, que impulsiona o aumento na demanda por petróleo, os preços dos combustíveis são fixados pelo governo. Os consumidores não pagam menos, mesmo se o preço no mercado aberto cai.
E, embora os baixos preços do petróleo encorajem os motoristas a dirigir mais, também obrigam as petrolíferas a extrair menos. As primeiras interrupções acontecem nas áreas de maior risco financeiro, como as do Ártico ou as de águas profundas, ou nas que exigem maior uso de energia, como as das areias betuminosas canadenses, porque são mais caras.
Logan, da Ceres, vê o preço ideal seria em torno de US$ 70 por barril, perto do atual. O consumidor ainda teria cautela em gastar e as petroleiras, também. "É baixo o suficiente para tornar antieconômico o petróleo de alto carbono, mas não tão baixo para matar o investimento em [fontes] renováveis"