Uma operação da Polícia Federal deflagrada ontem em Mato Grosso para investigar a venda ilegal de áreas da reforma agrária no valor de R$ 1 bilhão trouxe à tona o suposto envolvimento de Odair e Milton Geller, irmãos do ministro da Agricultura, Neri Geller. O episódio acontece num momento em que há expectativa pela nomeação oficial da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para a Pasta e Geller tenta articular sua manutenção no posto. Kátia foi convidada na semana passada pela presidente Dilma Rousseff e teria aceito, segundo fontes.

Na manhã de ontem, a PF expediu 198 mandados de prisão e de busca e apreensão, além de 29 mandados de medidas proibitivas, em 10 municípios, incluindo a capital Cuiabá. A polícia apura supostas irregularidades na concessão e manutenção de lotes do Incra, órgão do governo responsável pela política de reforma agrária, que teriam como maior foco de atuação os municípios mato-grossenses de Itanhagá e Lucas do Rio Verde, polos agrícolas do Estado.

O ministro disse ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, que foi informado da operação policial apenas no fim da tarde, ao voltar de viagem nos Emirados Árabes Unidos, onde esteve em evento de inauguração de uma planta industrial da BRF. "Um irmão meu mora em um dos assentamentos, mas pesquise sobre a vida de minha família e vais ver que não tem absolutamente nada [contra ela]", afirmou. "Estou muito tranquilo."

A denúncia pode inviabilizar os planos de Geller de se manter no ministério, hipótese que já é dada nos bastidores como definitiva pelo Planalto. Enquanto a troca de comando no ministério não é oficializada, porém, o ministro aposta no apoio de integrantes da Frente Parlamentar da Agricultura no Congresso Nacional, e de entidades do agronegócio de Mato Grosso.

Ao seu lado, Geller também conta com a aprovação de parte do setor agropecuário, que não concorda em ver Kátia Abreu assumindo o Ministério. O Valor apurou que, em conversas com autoridades do governo, executivos do peso de Joesley Batista, do Grupo JBS, vêm demonstrando reservada insatisfação com a indicação dela para a Pasta. Na última semana, Joesley teve algumas reuniões com o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, mas a empresa nega que ele tenha defendido a permanência do atual ministro ou desaprovado Kátia.

Líder mundial no processamento de proteína animal e primeiro lugar no ranking das companhias que mais fizeram doações para campanhas eleitorais em 2014, a JBS protagoniza episódios de atrito com a senadora.

No ano passado, ela fez duras críticas a propagandas da empresa, que promoviam a marca Friboi na TV.

Em outra frente, a própria Kátia tenta se legitimar como a preferida da presidente Dilma. Seu futuro marido, Moisés Pinto, tem ligado para presidentes de entidades empresariais pedindo apoio formal à senadora na imprensa.

Sua eventual nomeação para o ministério, contudo, só deve acontecer após 15 de dezembro, quando ela toma posse na CNA, pelo terceiro mandato seguido.