O sócio da Sanko-Sider, Márcio Andrade Bonilho, era um elo entre o doleiro Alberto Youssef e empreiteiras, concluiu o relator substituto da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional para investigar suposto esquema de corrupção envolvendo contratos da Petrobras, deputado Afonso Florence (PT-BA), ontem após o depoimento de Bonilho - que já responde a ação penal na Justiça.

Na sessão, ele admitiu que pagou entre R$ 33 milhões e R$ 37 milhões em comissão a Youssef por intermediar negócios da empresa com construtoras, mas negou ter cometido algum crime ou dado propina. Revelou ainda que parte desse dinheiro foi destinado a executivos da Camargo Corrêa, também acusada de irregularidades. Principal investigado pela operação Lava-Jato da Polícia Federal, Youssef é apontado como comandante de suposto esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões.

"Ficou evidenciado que, a partir de um determinado momento, [Bonilho] sabia das operações do Youssef. Ficou evidenciado que ele era um canal da relação do Youssef com empreiteiras apesar de ele reconhecer esses fatos com um conjunto de argumentos que buscam isentá-lo", afirmou Florence. Ele substituiu o deputado Marco Maia (PT-RS), que sofreu um acidente há alguns dias.

A Sanko-Sider informou que Youssef trabalhou como vendedor da empresa importadora e fornecedora de tubos de aço, pois não tem equipe de vendas. As operações são feitas de forma terceirizada. Foram fechados 12 negócios por intermédio do doleiro, inclusive com outras empresas supostamente envolvidas no esquema, mas o sócio alegou que todos foram legais.

"Calado, não falava nada, pragmático", foi assim que o empresário descreveu o doleiro. Segundo Bonilho, o Youssef que ele está conhecendo diante de informações da imprensa é muito diferente do homem que ele teve relações comerciais. Como representante da empresa, Youssef não tinha autorização para vender a companhias públicas, apenas ao setor privado, e, em poucos meses, conseguiu fechar a maior venda da história da Sanko-Sider.

Bonilho negou ainda que parte do dinheiro pago a Youssef ia para o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, delator do esquema. O sócio da Sanko-Sider foi convocado a depor à CPI para esclarecer suas relações com Youssef e Costa. Bonilho foi citado nas supostas irregularidades após descoberta de áudio de uma conversa com o doleiro.

"Nenhum centavo da minha comissão foi direcionada a nenhum, absolutamente nenhum agente público. Os únicos que receberam foram esses dois executivos. [...] Eu pagava apenas uma comissão a ele [Youssef]. Inicialmente imaginava que 100% do dinheiro era só dele. No final, ele apareceu com esses dois executivos da Camargo Corrêa", declarou o empresário.

Apesar de trabalhar com Youssef, Bonilho disse que não teve contato com Meire Poza, ex-contadora do doleiro. Em depoimentos, inclusive à CPI, ela admitiu que Youssef usava empresas de fachada para lavar dinheiro e deu detalhes de como funcionava o esquema. Questionado se conhecia a ex-contadora, o sócio da Sanko-Sider respondeu: "Nunca tive relações com Meire Poza [...] Nunca tive contato".

Outro requerimento aprovado pelos parlamentares para levar Bonilho à CPI cita a Sanko-Sider como uma das empresas com contratos com a refinaria Abreu e Lima que "eram tidas como contribuintes de recursos para pagamento de propinas".

Bonilho argumentou que a empresa dele vendeu produtos a consórcios, empresas e construtoras que tinham contrato com a Abreu e Lima. "Minha empresa não vendeu nenhum produto à refinaria. Vendo para empresa privada. Vendo para construtoras. Minha empresa não recebe dinheiro público", defendeu.

Ainda de acordo com ele, apenas 2% do faturamento da Sanko-Sider se deve a vendas diretas à Petrobras e esses negócios são feitos por pregões eletrônicos - sem o intermédio de funcionários e, portanto, sem chance de haver irregularidade.