Para reforçar base no Congresso, presidente mantém loteamento entre partidos aliados, contempla legendas recém-criadas como o PROS, que assume o lugar do PT na Educação, e escolhe Jaques Wagner para a Defesa; falta confirmar titulares de 22 pastas

BRASÍLIA - Num processo de escolha que reedita o loteamento da Esplanada dos Ministérios como forma de reforçar a base governista no Congresso, a presidente Dilma Rousseff anunciou nesta terça-feira, 23, 13 novos ministros originários de seis partidos. Como antecipado pelo portal estadão.com.br, a petista entregou ao PMDB seis ministérios - um a mais que hoje - e o controle do setor elétrico e de infraestrutura do País.

Dilma desalojou o PT do Ministério da Educação, um enclave do partido desde o primeiro mandato de Lula, ao escolher o governador do Ceará, Cid Gomes (PROS). Em compensação, deu ao petista Jaques Wagner, também seu conselheiro político, o comando da Defesa.

Pela primeira vez nos governos do PT, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que decidiu abandonar a vida pública, ficou sem nenhum representante no ministério. Em compensação, o vice-presidente Michel Temer - que se tornou uma espécie de bombeiro do governo nas crises com o Congresso e contraponto ao “dissidente” líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) - passou a ter mais influência no governo. Dos escolhidos do PMDB, são ligados a Temer os futuros ministros da Aviação Civil, Eliseu Padilha, e de Portos, Edinho Araújo. O vice-presidente abriu mão de manter Moreira Franco na Aviação Civil.

OS INDICADOS

Aldo Rebelo (Ciência, Tecnologia e Inovação)

Cid Gomes (Educação)

Edinho Araújo (Portos)

Eduardo Braga (Minas e Energia)

Eliseu Padilha (Aviação Civil)

George Hilton (Esporte)

Gilberto Kassab (Cidades)

 Helder Barbalho (Pesca)

Jaques Wagner (Defesa)

Kátia Abreu (Agricultura)

Nilma Lino Gomes (Igualdade Racial)

Valdir Simão (Controladoria-Geral da União)

Vinicius Lajes (Turismo)

Dos 39 ministérios, 22 ainda não têm titulares anunciados oficialmente para o segundo mandato. Dos 13 anunciados ontem, três foram derrotados em eleições majoritárias neste ano. Dois partidos aliados - PP, que perdeu Cidades e deve receber Integração Nacional, e PR, que deve seguir em Transportes - esperam seu quinhão no novo governo.

Antes do anúncio de ontem, Dilma já havia indicado Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa para o Planejamento, e o senador Armando Monteiro (PTB-PE) para o Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, além de ter confirmado a permanência do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

Para lá e para cá. Num gesto de gratidão ao clã Barbalho, que a apoiou na campanha à reeleição no Pará, a presidente escolheu para a Pesca o ex-prefeito de Ananindeua Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho. Apoiado pelo PT, ele perdeu a disputa no Estado para o tucano Simão Jatene.

O PRB, atual controlador da Pesca, foi compensado com o Esporte, para o qual foi indicado o ex-líder do partido na Câmara George Hilton. Com isso, o PC do B mudou de lugar, mas manteve o ministro: Aldo Rebelo vai para Ciência e Tecnologia.

Dilma teve a preocupação de equilibrar o PMDB da Câmara com o do Senado. Para Minas e Energia, convidou seu líder no Senado, Eduardo Braga, que disputou e perdeu o governo do Amazonas. Para a Agricultura, a presidente confirmou a escolha da senadora Kátia Abreu (TO), feita há quase um mês. Kátia pediu à presidente que aguardasse sua nova posse na presidência da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ocorrida há uma semana.

Retribuição. Para o Ministério das Cidades, Dilma escolheu o presidente do PSD, Gilberto Kassab (SP), responsável pelo desmanche do oposicionista DEM em 2011 e pela adesão da nova sigla ao governo. Com isso, o PSD passa a fazer parte oficialmente do ministério - o partido alega que Guilherme Afif, titular da Micro e Pequena Empresa, é escolha “pessoal” de Dilma. 

Como recebeu Portos, que estava ligado aos irmãos Ciro e Cid Gomes, o PMDB abrirá mão do Ministério da Previdência Social. A expectativa era de que a pasta fosse destinada ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que ficará sem mandato. Mas a confirmação de que Alves consta dos nomes citados pelo ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa entre os supostos beneficiários do esquema da Petrobrás excluiu o peemedebista do páreo. O titular da pasta, senador Garibaldi Alves (RN), anunciou que retornará ao Senado a partir de janeiro. A Previdência não tem novo titular definido.

A ideia da presidente era divulgar a nova relação de ministros ontem a partir das 17 horas. Tanto é que Dilma ligou pessoalmente a cada um deles, avisando que o anúncio seria feito ontem. Mas problemas de última hora, como a escolha do novo ministro da Previdência, atrasaram o anúncio. Por isso, somente às 19h55 veio a confirmação oficial dos 13 novos titulares da Esplanada. Todos tomam posse no dia 1.º. / COLABORARAM LISANDRA PARAGUASSU, RAFAEL MORAES MOURA 

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Mudança mesmo, só na área econômica

MARCELO MORAES

Com exceção da entrada de Joaquim Levy, na Fazenda, e Nélson Barbosa, no Planejamento, novos escolhidos pela presidente repetem o perfil da equipe ministerial atual

A presidente Dilma Rousseff definiu nessa terça-feira a maior parte de sua futura equipe ministerial para iniciar o segundo mandato. Mexe daqui, coloca de lá, e seu primeiro escalão terá uma cara tremendamente parecida com o perfil de seus auxiliares no primeiro governo. Exceção apenas na equipe econômica, onde o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é um fiscalista, com atribuição de cortar gastos e se alinhava com os líderes tucanos até pouquíssimo atrás. Sua entrada e a de Nélson Barbosa, no Planejamento, são as únicas mudanças de direção dentro do governo. Somados ao presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro Neto, dão uma cara mais fiscalista e quase liberal aos principais postos da economia do governo.

Os demais titulares, independemente de qualidades e defeitos de cada um, representam, rigorosamente, o mesmo perfil de auxiliar que Dilma teve até agora. O PMDB terá seis pastas agora: Minas e Energia, Agricultura, Aviação Civil, Portos, Pesca e Turismo. Vinicius Lages será mantido no Turismo. Os outros cinco são novos. Respectivamente, o senador Eduardo Braga (AM), a senadora Katia Abreu (TO), o deputado Eliseu Padilha (RS), o deputado Edinho Araújo (SP) e o candidato derrotado ao governo do Pará Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho (PA).

Faz, realmente, muita diferença em relação aos antigos integrantes do PMDB no primeiro escalão, quando contavam Édison Lobão, Neri Geller, Moreira Franco, Garibaldi Alves e o próprio Vinicius Lages? Repetindo: guardadas as qualidades e defeitos de cada um, todos têm o perfil bastante semelhante.

Na Educação, o governador do Ceará, Cid Gomes (PROS), assumirá o controle da pasta. Mas o atual ministro, Henrique Paim, volta a ser o secretário executivo e, na prática, seguirá sendo o gerente da máquina do setor. Na Saúde, Artur Chioro, se mantém,

Dentro do Planalto, o núcleo também continua sendo essencialmente petista. Aloizio Mercadante segue forte na Casa Civil e terá a companhia de Miguel Rossetto na Secretaria Geral da Presidência, no lugar do lulista Gilberto Carvalho. Jaques Wagner será um interlocutor mais próximo de Dilma assumindo a Defesa, no lugar do diplomata Celso Amorim. O petista Pepe Vargas (RS) fará nas Relações Institucionais um papel parecido com o de Ricardo Berzoini na articulação com o Congresso. Deslocado para as Comunicações, Berzoini substitui Paulo Bernardo mantendo o PT à frente da pasta.

As outras distribuições de postos também são variações do mesmo tema, entre elas com o PSD devendo controlar o Ministério das Cidades, PP,  com Integração Nacional, PRB, com Esportes, PC do B, com Ciência e Tecnologia.

Assim, não há dúvidas que a mudança concreta no perfil da equipe acontece apenas na economia. E, mesmo assim, dependerá da autonomia ou não que os novos ministros da área terão em relação à presidente Dilma para indicar os rumos da economia do País.