Depois de dois pregões consecutivos de queda, o dólar fechou em alta ante o real, ontem, após o discurso do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. A fala dele trouxe dúvidas sobre a continuidade do programa de intervenção diária no câmbio por meio da venda de contratos de swap cambial.

A moeda americana subiu 0,82%, fechando a R$ 2,5275, perto da máxima do dia. Investidores aumentaram a demanda pela divisa após buscar nas entrelinhas do discurso de Tombini pistas sobre a continuidade do programa de intervenção no câmbio em 2015. O cronograma atual prevê oferta diária até 31 de dezembro.

Durante a apresentação da nova equipe econômica, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que continua no cargo, afirmou que o estoque do BC em contratos de swap cambial, que soma cerca de US$ 106 bilhões, atende as demandas do mercado. Ele disse que o programa tem atingido plenamente seus objetivos e permitiu amortecer as oscilações das taxa de câmbio ao mesmo tempo em que oferece proteção aos agentes econômicos. "Entendemos que o estoque de derivativos cambiais já atende de forma significativa a demanda por proteção da economia", afirmou.

O presidente do BC destacou que essas posições serão renovadas no futuro a depender das condições do mercado. Ressaltou que elas não implicam o comprometimento das reservas internacionais, representando 30% desses ativos.

Alguns agentes do mercado interpretaram o discurso de Tombini como uma sinalização do BC de que poderá não renovar o programa de intervenção no câmbio para o ano que vem. O BC mantém as vendas diárias de swap cambial desde 22 de agosto de 2013, que atualmente somam US$ 200 milhões, e tem renovado os contratos que estão para vencer.

Tombini ainda citou que as linhas de dólar com compromisso de recompra, que visam atender a demanda pela moeda no mercado à vista, são sazonalmente ativadas no fim do ano, quando a saída de recursos costuma aumentar. Em novembro, até o dia 20, o fluxo cambial estava negativo em US$ 2,938 bilhões. O último leilão de linha de dólar que o BC realizou foi em 31 de julho, em que ofertou US$ 2,25 bilhões e acabou recomprando US$ 2,050 bilhões. Com isso o estoque de BC nesse instrumento está praticamente zerado.

O discurso do presidente do BC, no entanto, dividiu as opiniões no mercado. Para o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos, a afirmação do presidente do BC de que está confortável com a atual posição em swaps sinaliza que, por enquanto, a autoridade monetária não pretende fazer grandes mudanças nas intervenções no câmbio. "A declaração de Tombini de que no curto e médio prazos nada muda reforça a visão de que o BC continuará promovendo as rolagens e vai analisar as condições de mercado em relação à oferta diária de swaps, que talvez continue no curto prazo."

O anúncio da equipe econômica com perfil mais ortodoxo, com a confirmação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e de Nelson Barbosa para o Planejamento, ajuda a reforçar, no entanto, a visão de que o BC pode interromper as vendas diárias de swaps, já que contará com as políticas monetária e fiscal para conter a inflação.

Em seu discurso após nomeação como ministro da Fazenda, Levy destacou que o objetivo imediato é estabelecer um superávit primário para os próximos três anos, que permita reduzir a dívida pública bruta em relação ao PIB.

O discurso dos ministros não surpreendeu os investidores. Para Campos, tendo em vista a reação dos mercados nos últimos dias, esperava-se a apresentação de medidas mais concretas, como as metas de superávit traçadas serão alcançadas.