As portas do mercado de dívida internacional estão praticamente fechadas para as grandes empreiteiras brasileiras suspeitas de corrupção em contratos com a Petrobras, na percepção de investidores e executivos que atuam na área. Enquanto for incerto o impacto financeiro que essas companhias podem sofrer, a expectativa é que o mercado se mantenha receoso.

 

O volume de bônus dessas empresas a vencer no curto prazo não é expressivo, o que limita a necessidade de novas captações. Mas a preocupação dos investidores é que se essa situação perdurar por muito tempo, as empreiteiras podem ser obrigadas a usar o dinheiro em caixa para financiar seus negócios, já que o setor é, por natureza, intensivo em capital. Além disso, há receio de que as denúncias possam afetar o modelo de negócios do setor, que é altamente dependente de contratos públicos.

“Não vejo o investidor dando funding para essas construtoras agora”, afirma Ricardo Carvalho, diretor sênior de crédito corporativo da Fitch Ratings. Em sua avaliação, os investidores não querem se arriscar comprando esses bônus sem conhecer o “real efeito desse escândalo nos negócios das companhias”.

Na semana passada, a agência de classificação de risco colocou as notas de crédito das construtoras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão em análise para possível rebaixamento, citando preocupação com o impacto financeiro e corporativo das denúncias de corrupção na batizada Operação Lava-Jato da Polícia Federal. “Não vemos estabilidade em um setor em que você tem uma série de incertezas que podem afetar as companhias de forma relevante”, diz Carvalho.

O diretor da Fitch explica que, embora a maior parte dessas empresas conte com liquidez satisfatória e opere com perfil de dívida compatível com sua expectativa de geração de caixa, o setor demanda muito capital e, portanto, precisa de níveis elevados de caixa para financiar o ciclo de negócios. “Estamos olhando que capacidade essas empresas terão, principalmente as de rating mais fraco, de renovar linhas bancárias”, diz Carvalho. “Neste momento, não acreditamos na capacidade delas de acessar o mercado de bônus”, acrescenta.

Executivos de bancos que trabalham na estruturação dessas operações acreditam que os investidores cobrariam taxas mais altas para adquirir títulos dessas companhias no momento. Um gestor de renda fixa que preferiu não ser identificado diz que está receoso com o setor justamente porque ainda não ficou claro se as empresas serão penalizadas e, se forem, qual será o impacto financeiro disso. “São empresas que têm dependência grande de contratos com a Petrobras e o governo”, afirma. “A minha preocupação é mais com o negócio em si do que com o vencimento de curto prazo”, diz ele.

Como a maioria das grandes empreiteiras acessou o mercado externo nos últimos anos, não há um volume grande de bônus vencendo nos próximos meses. No caso da Odebrecht, por exemplo, o primeiro vencimento de dívida externa será apenas em 2018, no montante de US$ 204 milhões. O próximo vencimento “expressivo”, segundo a empresa, será em 2025, de US$ 518 milhões. “Assim, não há necessidade de captação ou rolagem de dívida para os bonds da Odebrecht no curto prazo”, informou a companhia em nota.

A Andrade Gutierrez também só têm bônus vencendo em 2018, no valor de US$ 500 milhões, segundo fonte de mercado. A Queiroz Galvão informou que sua construtora não tem bônus em circulação e que o grupo tem apenas US$ 700 milhões em notas para 2018 que foram emitidas pela divisão de óleo e gás, que não está envolvida nas investigações da Polícia Federal. No caso da OAS, o primeiro vencimento é só em 2019 e soma US$ 875 milhões.

A Camargo Corrêa é a que tem vencimento mais próximo, em agosto de 2015, mas o valor é modesto, de US$ 150 milhões, segundo fonte de mercado. “Não existe um grande vencimento concentrado no curto prazo nessas empresas que cobrimos”, resume Alexandre Garcia, analista de crédito corporativo da Fitch.

No mercado secundário, alguns desses títulos perderam valor. Cerca de uma semana após a deflagração da sétima etapa da Lava-Jato, os bônus da OAS para 2019, por exemplo, caíam mais de 50 pontos percentuais e valiam cerca de 40% do valor de face. Os títulos perpétuos da Odebrecht emitidos em 2011 cederam mais de 10 pontos, para 85%. Desde então, os papéis apresentaram alguma recuperação, beneficiados, segundo gestores, pelo bom humor geral com ativos brasileiros causado pela escolha da nova equipe econômica.