Segundo o World Economic Forum, o Brasil é um dos países mais corruptos do mundo, afirmação que a população letrada já está careca de saber. Mas, se você ainda tem alguma dúvida — e é leitor do GLOBO —, pegue o exemplar de 19 de novembro e folheie com atenção página por página. Tirante — como diria Stanislaw Ponte Preta — as chamadas da primeira página e as matérias sobre os bilhões que jorraram dos cofres da Petrobras (que se estendem até a página 10), ainda é possível encontrar outras pequenas pérolas de corrupção ocupando as páginas 12 e 13.

São elas: o desvio de R$ 1,5 milhão pelo ex-secretário de Esportes de Itaboraí, denunciado pelo Ministério Público; a fraude de mais de R$ 15 milhões envolvendo o diretor dos Correios no Rio, já denunciado pelo MP; o arquivamento pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados (ora se não!) da denúncia de corrupção do ex-deputado Rodrigo Bethlem; as fraudes de R$ 60 milhões nas licitações da Prefeitura de Mangaratiba. Ou seja, das 20 páginas da cabeça do jornal, mais de dois terços tratam do tema que nos é tão caro (caro para nós, contribuintes). Por que o jornal não cria logo uma seção para a corrupção, como a de Esportes e a de Economia?

A corrupção corta o país de cima a baixo, da cerveja do guarda aos milhões das empreiteiras. Costumo dizer que, do ponto de vista moral, o Brasil se divide em corruptores e corruptíveis, além de uma irrisória fração dos ditos honestos, tão numerosos quanto nossa população indígena. A que se deve afinal este desvio de personalidade? Dizem que tudo começou com os índios tupis quando perceberam o interesse dos portugueses, recém-chegados, em levar para a Europa nossa fauna nativa, araras e papagaios principalmente. Os silvícolas usavam de uma técnica chamada “tapiragem”, que consistia em alterar o colorido das aves para enganar os compradores. Parece que vem dai a expressão atribuída aos portugueses de “chamar urubu de meu louro”.

Foram os portugueses, porém, que disseminaram a pratica da corrupção. Diferentemente dos peregrinos ingleses que desembarcaram na América do Norte para se fixarem e construírem uma nova vida, os portugueses que vieram atrás de Cabral eram uma escória, um bando de renegados e desterrados que só queriam se aproveitar deste terreno baldio sem ninguém, para enriquecer e voltar à terrinha. Pois foram eles que se encarregaram de fiscalizar o contrabando de pau-brasil, aves, ouro e especiarias contra a Coroa Portuguesa.

Não podia dar certo. Mas aqueles aventureiros portugueses estabeleceram um padrão de rapinagem que de lá para cá só faz se aprimorar. Durma com uma corrupção dessas!