A presidente Dilma Rousseff já escolheu os principais integrantes de sua equipe econômica no segundo mandato. Fontes do Palácio do Planalto informaram ontem que o ex-secretário do Tesouro Nacional Joaquim Levy vai comandar o Ministério da Fazenda. Já o ex-secretário executivo da Fazenda Nelson Barbosa irá para o Planejamento, e Alexandre Tombini permanecerá no Banco Central (BC). O senador e candidato derrotado ao governo de Pernambuco Armando Monteiro (PTB) vai para o Desenvolvimento, e a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) deverá ficar com a Agricultura.

O anúncio da nova equipe era esperado para ontem, o que criou uma grande expectativa no mercado financeiro. Mas a oficialização, que poderia ser capitalizada positivamente pelo governo, já que desde o início de setembro a presidente deixou claro que Guido Mantega não continuaria à frente da Fazenda num segundo mandato, acabou não ocorrendo. No fim da tarde, a presidente desistiu da divulgação, que agora é esperada para a próxima semana. Interlocutores de Dilma disseram ao GLOBO que o adiamento ocorreu porque o governo quer esperar a votação das mudanças propostas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2014 no Congresso, prevista para segunda ou terça-feira.

A atual equipe econômica quer mudar a lei para conseguir fechar as contas de 2014. Sem a alteração, a meta de superávit primário (economia para pagamento de juros da dívida pública) não será cumprida e os técnicos terão que responder por desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

- O anúncio não foi hoje (ontem) para deixar o Congresso votar a LDO e dar à nova equipe um início sem ter que explicar os problemas fiscais de 2014 - disse uma fonte do governo.

CARLOS HAMILTON DE ARAÚJO FICA COM TESOURO

Dilma também decidiu esperar para que Levy e Barbosa tenham tempo para montar seu segundo escalão. A ideia é que a nova equipe seja anunciada em conjunto. Para substituir Arno Augustin no Tesouro Nacional foi convidado o atual diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo. Segundo fontes da Fazenda, ele já teria aceito. Já o secretário executivo da Fazenda, Paulo Caffarelli, é cotado para assumir a presidência do Banco do Brasil, no lugar de Aldemir Bendine.

A presidente também quer alguns dias para debater com Mantega, e com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, se os dois deixarão o governo ou se serão remanejados para outros lugares. Mantega e Dilma haviam combinado que ele ficaria na Fazenda até 31 de dezembro, mas o anúncio oficial de Levy pode antecipar esse calendário. Quanto a Miriam, seu futuro no governo é incerto. Auxiliares presidenciais diziam ontem que ela poderia assumir a presidência de alguma estatal.

Levy, atual diretor da Bradesco Asset Management, foi a alternativa sugerida a Dilma pelo presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, depois que o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco, declinou, por duas vezes, o convite para ocupar a pasta. Trabuco era a primeira opção do Planalto e tinha um grande apoio do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não aceitou o convite em função de questões societárias e sucessórias que teriam que ser resolvidas no Bradesco. Ele é visto como o sucessor natural de Brandão na instituição. Lula também tentou emplacar o nome do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para a Fazenda, mas Dilma disse não.

Levy, que comandou o Tesouro quando Antonio Palocci era o ministro da Fazenda, foi apontado como alternativa para resgatar a credibilidade da política fiscal. Ele ajudou a executar o ajuste realizado nos primeiros meses do governo Lula, em 2003.

Para Mário Mesquita, sócio do Banco Brasil Plural e ex-diretor do BC, a escolha de Levy aumentará a credibilidade do governo na área: - O nome dele é excelente, tem uma formação muito boa e experiência focada no fiscal.

Para o presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, Levy e Barbosa formarão uma boa dupla, porque "ambos seguem uma linha séria, de falar pouco e fazer muito". Mas a escolha desagradou o núcleo petista, que considera Levy muito ortodoxo e uma opção oposta ao que pregam economistas da escola de Dilma, como o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de maior intervenção do Estado. Eles argumentam que Levy é da linha do arrocho, condenada pela presidente na campanha à reeleição. Seu nome foi uma forma de acalmar o mercado, já que o ponto fraco de Dilma é a política fiscal, com forte deterioração no primeiro mandato. Apenas o anúncio informal já fez com que a Bolsa registrasse a maior alta em três anos, subindo 5,01%.

Barbosa era um dos nomes que Dilma considerava para a Fazenda. E contava com a simpatia de Lula. Acabou levando o Planejamento. Com um perfil desenvolvimentista, porém contrário a gastos excessivos, tem grande afinidade com a presidente, embora tenha deixado o governo em 2013 após se desentender com Arno sobre a política fiscal.

Monteiro também foi um dos nomes endossados por Lula. E teve como outro padrinho o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Andrade. Sua ida para o Desenvolvimento faz com que o governador da Bahia, Jaques Wagner, que era cotado para a pasta, deva ir agora para Comunicações ou Justiça.