Título: Mercadante se antecipa e Dilma aprova
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 23/06/2011, Política, p. 9

A presidente Dilma Rousseff aprovou a decisão do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, de se antecipar às pressões políticas da oposição e comparecer ao Senado na próxima semana para explicar seu suposto envolvimento no escândalo dos aloprados. A audiência já estava marcada para que Mercadante expusesse os projetos da pasta, mas ele concordou responder qualquer questionamento feito pelos oposicionistas.

Embora Dilma e os ministros mais próximos considerem que a ressurreição do caso seja um "exagero com base em informações já divulgadas", o gesto de Mercadante foi considerado importante para evitar repetição da crise envolvendo o ex-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, que demorou muito para explicar o aumento de vinte vezes de seu patrimônio em um período de apenas quatro anos.

Palocci foi avisado reiteradas vezes, inclusive por Dilma e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que era melhor esclarecer os projetos desenvolvidos pela consultoria Projeto e como arrecadou R$ 20 milhões apenas em 2010, sendo R$ 10 milhões nos últimos quatro meses do ano, quando já exercia o cargo de coordenador da transição de governo. Não agiu assim e, quando resolveu dar uma entrevista sobre o tema, já era tarde. A presidente não teve como mantê-lo no cargo.

O governo não acredita que o atual episódio tenha o potencial do escândalo que derrubou o ex-ministro Palocci. Na avaliação palaciana, Palocci era alvo mais importante pela proximidade natural com a presidente e pelo status de superministro. Mercadante não goza desse privilégio, por ocupar pasta mais técnica na administração federal e por não ter tido papel de destaque na campanha presidencial. Candidato natural à reeleição para o Senado, ele cedeu aos apelos de Lula para concorrer ao governo de São Paulo contra o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Perdeu, mas por pouco não levou a disputa ao segundo turno.

Fogo amigo Líder das pesquisas de intenção de voto para a prefeitura em 2012, Mercadante está sendo vítima de fogo amigo, como alertam alguns petistas. Militantes do partido ouvidos pelo Correio acreditam que o incentivo para que o atual secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal, Expedito Veloso, voltasse a falar sobre o caso, partiu de ex-companheiros de Mercadante na bancada petista do Senado. Gravações mostram Expedito citando o ministro como o mentor da elaboração de um dossiê que seria usado contra o tucano José Serra na disputa pelo governo de São Paulo, em 2006

Em conversas reservadas, o ministro tem aparentado calma. "Não tenho com que me preocupar. É assunto vencido para o qual já dei as explicações necessárias", declarou, segundo relatos de um interlocutor. Nos últimos dois dias, Mercadante foi presença frequente ao lado de Dilma. Na terça, no Rio de Janeiro, acompanhou a presidente na cerimônia de premiação da 6ª Olimpíada Brasileira de Matemática. Ontem, teve despacho privado no Planalto para tratar de 75 mil bolsas que serão oferecidas para cursos de pós-graduação no exterior.

PSDB tenta reabrir inquéritos Enquanto Mercadante ensaia para falar no Senado, deputados do PSDB protocolaram ontem pedidos de reabertura do inquérito sobre a suposta compra por petistas de um dossiê contra o tucano José Serra em 2006. Os pedidos foram feitos à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República. A oposição quer mais investigação sobre o caso. Em 2006, a PF apreendeu R$ 1,7 milhão com militantes petistas. O dinheiro seria para a compra de informações que poderiam envolver Serra com "a máfia dos sanguessugas", esquema pelo qual se desviavam recursos destinados a compra de ambulâncias.