Um economista com formação heterodoxa, personalidade simples e conciliador no trato com os colegas. Carioca da Zona Sul, costumava remar, o que anda longe da sua rotina atualmente. Convidado para o Ministério do Planejamento, o economista Nelson Barbosa, hoje com 45 anos, estudou no Instituto de Economia (IE) da UFRJ, onde fez sua graduação e mestrado, este sob orientação da professora Maria da Conceição Tavares. No doutorado, estudou na New School For Social Research, em Nova York, de formação heterodoxa em nada parecida com a orientação de gigantes como Yale, Princeton, MIT ou Chicago, onde estudou Joaquim Levy.

Diálogo com Dilma. Nelson Barbosa trabalhou no Ministério da Fazenda de 2006 a 2013 Em 2002, passou em concurso para o IE. Lecionava na pós-graduação utilizando modelos que tentam simular situações à frente e prevendo impactos. Um ano depois, se licenciou e foi para o governo. - É uma pessoa sem estrelismo, low profile e simples no trato com os colegas - afirma Antonio Licha, da UFRJ.

Embora não seja filiado ao PT, ele trabalhou no comitê de reeleição do presidente Lula e ajudou a formular o programa econômico da primeira campanha presidencial de Dilma.

Defensor de ideias desenvolvimentistas, Barbosa trabalhou no Ministério da Fazenda de 2006 a 2013. Lá, comandou as secretarias de Acompanhamento Econômico, de Política Econômica e Executiva. O economista ajudou a elaborar as medidas que o governo adotou para combater a crise internacional a partir de 2008, além do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa Minha Vida.

Com isso, Barbosa ficou próximo da presidente Dilma e chegou despertar ciúmes no ministro da Fazenda, Guido Mantega. No entanto, a partir de 2012, passou a disputar espaço com o secretário do Tesouro, Arno Augustin, de quem discordava sobre a forma de conduzir a política fiscal. Na queda de braço, Dilma apoiou Augustin, e Barbosa acabou perdendo, preferindo deixar o governo em 2013.

Quando saiu do governo, se tornou pesquisador associado do Ibre/FGV e professor na Escola de Economia de São Paulo (FGV/EESP), reduto liberal. Ganhou a confiança dos colegas ao defender um maior rigor fiscal, a mudança na regra de reajuste do salário mínimo e do abono salarial. No entanto, sempre deixou claro que apoiava de forma aberta o governo.

O pesquisador Samuel Pêssoa do Ibre tem visões diferentes de Barbosa em muitos aspectos, mas faz elogios ao colega.

- Nelson tem diálogo com a presidente. Reconheço nele um economista bem formado e a minha avaliação é que a escolha da presidente é um sinal de que está muito preocupada com a parte fiscal - afirma.

O diretor de pesquisa do IE, Edmar Almeida, fez mestrado com Barbosa e considera que ele amadureceu e se preparou quando saiu do governo.

- Ele continuou aparecendo na mídia, permitiu que as pessoas validassem suas ideias, que recebesse críticas. Esse período que ele ficou fora do governo serviu para estabelecer a agenda dele, com as críticas, e preparado ele está. Ele é muito técnico, é um economista puro sangue e não é um político - afirma.

Na avaliação de Mário Mesquita, sócio do Banco Brasil Plural e ex-diretor do Banco Central, as atribuições do Ministério do Planejamento deverão ser revistas e ampliadas com Nelson Barbosa no comando da pasta. Ele acha que o economista poderia cuidar, por exemplo, da reforma tributária.

 

Um interlocutor dos empresários no Planalto

 

Convidado para o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Armando Monteiro representa os interesses da indústria. Político - foi deputado e é senador pelo PTBde Pernambuco -, começou a carreira no sindicato patronal.

Ele comandou a Confederação Nacional da Indústria (CNI) por dois mandatos e foi interlocutor dos empresários com o Planalto. Participou ativamente do Grupo de Acompanhamento da Crise (GAC), que reunia periodicamente o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o empresariado, no auge da crise internacional, no fim de 2008 e durante 2009.

DEFESA DO SIMPLES NACIONAL

Na defesa dos interesses da indústria, trabalhou pela aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, que resultou no Simples Nacional, e pela desoneração da folha de pagamento.

Na campanha presidencial, posicionou-se no Senado ao lado de Dilma Rousseff. A dedicação lhe rendeu dois aliados de peso na disputa pelo governo de Pernambuco: Dilma e o ex-presidente Lula, que fizeram campanha para ele no estado. Mas Monteiro perdeu, em primeiro turno, para Paulo Câmara ( PSB), indicado de Eduardo Campos, morto em acidente de avião.

Ao ser indicado para o Desenvolvimento, Monteiro vence o governador da Bahia, Jaques Wagner, outro aliado de peso do governo e que cobiçava a pasta. O senador voou ontem de madrugada para Brasília, onde foi recebido por Dilma, no Palácio da Alvorada, pela manhã. Ele já retornou a Recife para o casamento da filha, segundo fontes.

De acordo com pessoas próximas, Monteiro tem um estilo reservado e não costuma fazer brincadeiras com os funcionários, mas é um sujeito bem humorado. Tem posições firmes, mas sempre está disposto ao diálogo, disse um amigo. Ele tem 62 anos, é formado em Direito e Administração.

Um de seus principais desafios será elaborar um novo modelo de política industrial. Outro consiste em criar condições para que a balança comercial brasileira volte a ser superavitária. De janeiro a outubro deste ano, há um déficit acumulado de quase US$ 1,9 bilhão.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil ( AEB), José Augusto de Castro, comemorou a escolha.

- É um nome da indústria, que é o setor que mais sofre no comércio exterior. Isso facilita a tomada de decisões porque ele já tem um diagnóstico do cenário - disse Castro.