Dilma antecipa dois nomes do PT para o ministério

O Globo - 25/11/2014

Miguel Rossetto vai para Secretaria-Geral, e Carlos Guedes, para o Mda

 

Simone Iglesias e Fernanda Krakovics
BRASÍLIA

 

Como forma de tentar minimizar a insatisfação da esquerda do PT por convidar o ortodoxo Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e a presidente da Confederação Nacional da Agricultura, senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), para a Agricultura, a presidente Dilma Rousseff resolveu antecipar para quinta-feira o anúncio dos petistas Miguel Rossetto para a Secretaria-Geral e de Carlos Guedes de Guedes para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Dilma também deve manter José Eduardo Cardozo no Ministério da Justiça, apesar do desejo dele de ser indicado para a vaga deixada por Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal (STF).

Rossetto e Guedes integram a Democracia Socialista, corrente mais à esquerda do PT e crítica à indicação de Levy e Kátia. Rossetto está no Desenvolvimento Agrário e passou a integrar o núcleo político de Dilma durante a campanha eleitoral. Sua ida para o Planalto era dada como certa pela proximidade com a presidente. Guedes é presidente do Incra e afilhado político de Rossetto.

No caso do Ministério da Justiça, pessoas próximas a presidente afirmam que ela não quer mexer na pasta "no meio do furacão" da Operação Lava-Jato, que investiga esquema de desvio de dinheiro na Petrobras.

Além disso, a indicação de Cardozo para o STF, que precisaria ser aprovada pelo Congresso em votação secreta, enfrenta resistência do PMDB. Os peemedebistas não engoliram a revista feita pela Polícia Federal, durante a campanha eleitoral, em avião da comitiva do senador Lobão Filho (PMDB-MA), que disputou o governo do Maranhão.

Wagner cotado para Comunicações

Dilma marcou para a próxima quinta-feira a oficialização da nova equipe econômica, liderada por Joaquim Levy, Nelson Barbosa, Alexandre Tombini e Armando Monteiro. Pressionada pelas críticas públicas de petistas, incluiu nessa primeira leva Rossetto e Guedes.

Cotado para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que acabou indo para Monteiro, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), foi avisado por Dilma na semana passada que ela daria o Ministério a um empresário. Ontem à noite, ele se reuniu com a presidente no Palácio do Planalto. Interlocutores palacianos afirmaram que Wagner poderia ir para o Ministério das Comunicações.

Além de ter que equacionar um começo de crise com o PT, Dilma começou a negociar espaços com o PMDB. Os dirigentes do partido reagiram à decisão da presidente de convidar Kátia Abreu sem avisar nem ao menos o vice-presidente Michel Temer, que é também presidente nacional do PMDB.

Ontem pela manhã, no Palácio da Alvorada, a presidente recebeu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e fez elogios ao ministro do Turismo, Vinícius Lages, sinalizando anunciar sua permanência na pasta. Lages é aliado do presidente do Senado. Renan, no entanto, afirmou que qualquer definição sobre o Ministério tem que ser discutida com o partido e não apenas com ele.

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Senadores petistas defendem Joaquim Levy

O Globo - 25/11/2014

Humberto Costa lembra, porém, que condução da política econômica é de Dilma

BRASÍLIA

 

Em meio à insatisfação dos aliados com os nomes ventilados para compor o próximo Ministério da presidente Dilma Rousseff, os senadores petistas Humberto Costa (PE) e Jorge Viana (AC) saíram ontem em defesa dos possíveis escolhidos para evitar um processo de "fritura" antecipado.

- Que não morram de véspera os pessimistas, porque o (joaquim) Levy ainda nem chegou à Fazenda, e será o guardião do modelo de desenvolvimento que mostrou que dá certo e que é exitoso. A presidente Dilma jamais abrirá mão de ser ela a condutora da política de desenvolvimento - frisou Costa.

O líder do PT no Senado disse que saía em defesa dos nomes para acabar com o "mal-estar" que estavam tentando disseminar dentro do partido.

- Queremos fazer parte daqueles que querem colocar água na fervura - disse Costa.

Já o senador Jorge Viana foi mais enfático ao elogiar Joaquim Levy, lembrando que ele foi do governo Lula e que a presidente Dilma está escolhendo nomes para fazer correção de rumo na condução da política econômica.

- O Ministério da Fazenda estará em boas mãos. O Joaquim Levy é mais completo: não é banqueiro, é do mundo da economia e tem contato com a vida real - disse Viana.

Muitos aliados, porém, estão com o pé atrás com os nomes cogitados para a nova equipe de Dilma. Alguns mais explicitamente, como o deputado Nilmário Miranda (PT-MG), que criticou no Twitter a escolha de Kátia Abreu para a Agricultura:

"Eu seria hipócrita se mudasse de opinião sobre Kátia Abreu. Como dep. (sic) do DEM teve papel relevante para impedir por muitos anos a votação da PEC da expropriação das terras usadas para trabalho escravo. Ela também teve papel relevante para pasteurizar o Código Florestal. Para a militância dos direitos humanos são dois temas centrais. Também tem forte contencioso com indígenas e quilombolas. A reação ao nome dela é forte nos movimentos".

Deputados da base aliada criticam a falta de habilidade da presidente na montagem do novo Ministério e afirmam que nomes como o de Kátia Abreu e Armando Monteiro são escolhas pessoais de Dilma e não representam as bancadas dos partidos. Outros, mais discretos, mandam recados, como o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), sobre Dilma estar escolhendo sem dialogar ou dando pastas importantes para partidos que apoiaram a oposição, caso de Armando Monteiro (PTB), que apoiou Aécio Neves.

- Prefiro comparar o estágio atual à construção de uma casa. A presidenta está agindo como uma arquiteta. Só ela conhece o projeto. Só poderemos avaliar quando a casa ficar pronta. Por enquanto, a casa está em obras - disse Nogueira.

Lição de Tancredo

Líderes da base alertam para o risco de crises futuras.

- Tancredo (Neves) deixou um ensinamento que deveria ser seguido pelos governantes que buscam a governabilidade: não nomeie ninguém que você não possa demitir. A presidente Dilma está entregando a economia para um ícone do sistema financeiro, a Agricultura, para o agronegócio, e a Indústria, para um líder do setor. Mais corporativista, impossível. Agora só falta nomear um dirigente do MST para o Desenvolvimento Agrário - alfinetou um líder aliado.

A indicação da senadora Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura provocou reações adversas entre políticos que representam o setor. Um deputado da base do governo elogiou a escolha, destacando que a senadora tem legitimidade.

- O nome dela já havia sido considerado no ano passado por Dilma, mas, agora, com a reeleição, ela ganhou mais força - disse esse deputado.

Outro parlamentar, também da bancada ruralista, afirmou que Kátia Abreu vai ocupar um espaço importante e que a aproximação dela com a presidente será benéfica para o setor:

- A oposição reclama porque o governo pode levar um setor importante a se aproximar da Dilma. Os ruralistas gostam do Neri (Geller, atual ministro), mas não dá para comparar. A Kátia tem muito mais força.

No PTB, deputados lembram que compraram briga com o presidente do partido, Benito Gama, que fechou apoio a Aécio, para defenderem Dilma. O líder do PTB, Jovair Arantes (GO), ressaltou que uma conversa prévia de Dilma ajudaria:

- O Monteiro é um grande quadro, mas a bancada federal não foi consultada. Não que a presidente precise consultar, mas a boa relação com a base recomenda a conversa.

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Temer diz que ida de Kátia Abreu para a Agricultura não está decidida

O vice-presidente minimizou as críticas que Kátia tem recebido nas redes sociais

POR CATARINA ALENCASTRO
24/11/2014 18:47 / ATUALIZADO 24/11/2014 19:34
 

A senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) fala sobre acordo firmado em cláusulas fundamentais do Código Florestal - Valter Campanato / ABr

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer disse nesta segunda-feira que ainda não está definida a ida da senadora Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura, como tem sido aventado. Ele disse que conversou com a presidente Dilma Rousseff na semana passada sobre a participação do PMDB no segundo mandato da petista, mas que só em meados de dezembro é que devem ser fechados nomes. Temer minimizou as críticas que Kátia já começou a sofrer nas redes sociais.

- Não há decisão a respeito disso. Pelo menos no tocante ao PMDB, tudo ficou pra dezembro, primeiro ponto. Segundo ponto, seja quem seja indicado haverá os que criticam ou elogiam, as redes sociais são assim. (Kátia) é um bom nome no Senado, não há a menor dúvida, mas tudo isso será decidido lá na frente, não há decisão agora - disse o vice, especificando que entre 15 e 17 de dezembro deverá haver definições sobre indicações de quadros peemedebistas para compor a equipe de Dilma a partir de 2015.

Segundo Temer, Dilma decidirá nesta semana seu time na área econômica e deixará a definição dos demais ministérios para um segundo momento.

- A presidente vai verificar esta semana se decide, pelo menos o que eu sei, se decide a questão da área econômica. E o restante fica para depois - afirmou.

O vice voltou a negar que Fernando Baiano tenha sido um operador do PMDB no esquema que vem sendo investigado na Operação Lava-Jato de pagamento de propina de empreiteiras a funcionários da Petrobras.

- Nós já lançamos notas dizendo que (ele) não tem nada a ver institucionalmente com o PMDB. Primeiro ponto. Segundo ponto, o próprio Fernando Baiano e o advogado dele disseram que o PMDB não tem nada a ver com isso. Então, digamos, insiste-se em colocar 'operador do PMDB', e ele não é operador nenhum do PMDB - anotou.

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PMDB formaliza indicação de Vital do Rêgo para TCU

Simone Iglesias e Maria Lima

BRASÍLIA

O PMDB formalizará hoje a indicação do senador Vital do Rêgo (PB) para ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) na vaga aberta pela aposentadoria de José Jorge. Embora a indicação caiba ao Senado, havia um entendimento prévio entre o presidente da Casa, Renan Calheiros, e a presidente Dilma Rousseff de apoiar a ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos) para o tribunal.

No entanto, a rejeição à petista entre os senadores levou à indicação de um nome do próprio PMDB. Renan já havia indicado este ano Bruno Dantas para a vaga de Valmir Campelo, que se aposentou em junho passado.

Apesar de derrubar uma aspiração do PT e do governo, a bancada do PMDB no Senado nega se tratar de retaliação por não ter participado de negociações que levaram à escolha da senadora Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura. Os peemedebistas dizem apenas que é direito do PMDB do Senado, como maior partido na Casa, escolher quem ocupará a vaga no TCU.

Durante este primeiro mandato da presidente, Vital aguardou por meses sua indicação para o Ministério da Integração Nacional, o que nunca ocorreu.

- Se Dilma indicou Kátia para retaliar o Eduardo Cunha, fez uma enorme bobagem, porque vai retaliar a bancada, a quem cabe a indicação. Indicar o Vital para o TCU não é compensação. O que o TCU tem a ver com Ministério? Esse já é direito do PMDB. Estamos todos acertadinhos entre a gente. Não vamos brigar por ministério. Qualquer coisa podemos partir para uma atuação independente - afirmou um dirigente peemedebista.

Votação secreta define nome

Ideli vinha visitando os gabinetes dos senadores, em campanha, mas há muita resistência a sua indicação pela relação ruim que se estabeleceu entre ela e o Congresso no período em que foi ministra das Relações Institucionais.

A indicação de Vital enfraquece as chances da petista, porque a bancada do PMDB é a maior do Senado e são necessárias 28 assinaturas para subscrever a indicação. Além disso, em uma eventual disputa entre Ideli e Vital, a oposição tende a apoiar o peemedebista como forma de enfraquecer o governo.

Após a validação do requerimento, o pretendente a ministro do TCU deve ser sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, depois, ser aprovado no plenário do Senado. O nome é ainda submetido ao plenário da Câmara. As votações em todas essas instâncias são secretas.