Nada que o governo vier a anunciar deverá provocar alteração nas projeções para indicadores de 2014. O ano já foi. Em compensação, tudo o que a presidente Dilma Rousseff vier a indicar e a anunciar amanhã, na apresentação formal da equipe econômica do segundo mandato, afetará as expectativas para 2015, que já está aí.

Hoje, excluindo o diminuto crescimento da economia brasileira, a projeção de inflação para o ano que vem é o indicador que mais preocupa economistas de mercado. E, tomara, provoque a mesma reação no governo em geral e no Banco Central, em particular, porque é da instituição o mandato legal para perseguir a meta de inflação.

A pesquisa Focus mostra que o mercado aderiu à perspectiva de que o IPCA estará subindo ao ritmo de 6,55% daqui a um ano. É inflação que não acaba mais, inclusive, para o Brasil, por ter equivalência a projeções de mais de uma década atrás. Em agosto de 2003, a Focus apontava estimativa mediana de inflação de 6,57% 12 meses à frente.

O posicionamento da presidente e da futura equipe econômica poderá reduzir a projeção de IPCA tão salgado em 2015. Embora a inflação esperada seja comparável à de 2003, outros indicadores financeiros mudaram muito desde então, o que reforça a ideia de expectativas instáveis para o comportamento dos preços.

Há 11 anos, o juro nominal de operações de swap prefixado com prazo de 360 dias superava 21% ao ano e o juro real praticado no país estava no patamar de 13% ao ano. Nesta semana em que a Focus aponta prognóstico de inflação semelhante, de quase 7%, o swap prefixado de 360 dias é cotado na casa de 12% ao ano e o juro real ronda 5,5%.

Analistas econômicos e políticos alertam para a semelhança entre a atual renovação de mandato presidencial e o primeiro ano do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A comparação não ocorre à toa. Em 2003, Joaquim Levy, agora indicado para Ministro da Fazenda, era o secretário do Tesouro Nacional, compondo um governo que decidiu arcar com os custos de um forte ajuste para ganhar credibilidade ao resultado das eleições que consagraram o PT vencedor, instalando pela primeira vez no comando da República um partido de esquerda.

Lá atrás, em meados de 2003, quando a inflação projetada para 12 meses - como agora - colava em 7%, o juro básico da economia brasileira (taxa Selic) estava em um ciclo de baixa, mas pendurado na Lua, em 22% ao ano. Essa taxa básica era inferior, porém, ao recorde de 26,50% marcado entre fevereiro e março daquele ano. O IPCA calculado em 12 meses encerrados em agosto daquele ano era de 15% e a taxa de câmbio esperada para dezembro era de R$ 3,15.

O resultado operacional do setor público consolidado - também em 12 meses frente ao PIB - era deficitário em quase 1%, já mostrando alguma melhora. E, seis meses depois, estava superavitário em 1% para variação de inflação estimada em menos de 7% ao final de um ano. O aperto funcionou. A expectativa inflacionária manteve-se próxima a 4,5% no mandato de Lula.