A queda nos preços do minério de ferro a um dos menores patamares dos últimos anos está levando o mercado a discutir a possibilidade de a Vale vir a reunir os ativos de metais básicos (cobre, níquel e ouro) em uma nova empresa, que poderia fazer uma oferta inicial de ações na bolsa (IPO, na sigla em inglês). A avaliação de analistas é que uma possível cisão do segmento de metais básicos da Vale ajudaria a melhorar o preço dos ativos e também permitiria à mineradora levantar caixa para fazer frente ao seu programa de investimentos.

A visão do mercado e da própria Vale é que o negócio de metais básicos tem condições de gerar lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões por ano. No terceiro trimestre deste ano, a Vale apresentou um Ebitda ajustado de US$ 3 bilhões dos quais US$ 781 milhões, ou 26% do total, corresponderam ao segmento de metais básicos. Companhias do setor de metais básicos costumam ter valor de empresa ("enterprise value") equivalente a sete vezes o Ebitda anual.

Considerando essa realidade e a previsão de um Ebitda entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões por ano para os metais básicos da Vale, significa que esse negócio poderia valer, separadamente, algo entre US$ 28 bilhões e US$ 35 bilhões, nas contas do mercado. Esse é um número aproximado que não considera o crescimento da dívida da companhia. Outra grande mineradora mundial, a australiana BHP Billiton, anunciou este ano a decisão de separar ativos. A BHP manterá quatro pilares, minério de ferro, carvão, petróleo e cobre, com potássio como o quinto elemento, como noticiou o Valor. Outras commodities, incluindo alumínio, manganês, prata e níquel, deverão integrar uma nova companhia que analistas financeiros estimam poder valer US$ 16 bilhões. A nova empresa da BHP será o maior produtor mundial de manganês.

O diretor-financeiro da Vale, Luciano Siani, disse que há uma diferença importante entre a Vale e o que foi feito no exterior, pela BHP. Disse que os ativos que a BHP deve separar estiveram no mercado para venda por longo tempo. "Nossa situação é diferente. Temos a posição mais competitiva do mundo em níquel, em termos de qualidade e reservas, e os ativos de cobre são excelentes. E esses ativos são parte de nosso ’core business’ [negócio principal]. Então uma separação de ativos, exatamente como foi feita [pela BHP], não vai acontecer. Esses ativos são parte integrante do negócio da Vale", disse Siani.

Ele reconheceu, no entanto, que a empresa tem sempre o dever de avaliar as melhores alternativas para captura e realização de valor de qualquer ativo na companhia. Questionado sobre o argumento de analistas, de que uma eventual cisão dos ativos de metais básicos, poderia gerar mais caixa para a empresa, Siani afirmou: "Vamos começar [a avaliar] todas as alternativas estratégicas no Vale Day." O Vale Day, dia de encontro da mineradora com investidores em Nova York, será em 2 de dezembro.

"A decisão da Vale sobre a gestão de ativos vai depender de quão conservador for o cenário para o minério de ferro", disse Marcelo Aguiar, vice-presidente da área de análise de ações para recursos naturais na América Latina do Goldman Sachs. Antes de tomar uma decisão sobre os metais básicos, a empresa tem a possibilidade de vender ativos, caso das participações societárias no negócio de carvão, em Moçambique, de navios mineraleiros e de uma fatia na MRN (bauxita), disse Aguiar.

"Uma eventual separação dos ativos de metais básicos pode vir a acontecer se o cenário de minério de ferro se tornar ainda mais conservador", disse Aguiar. Ele avaliou que, para os investidores, os ativos de níquel e cobre são mais atrativos. O Goldman Sachs trabalha com a perspectiva de que o preço do níquel atinja US$ 20 mil por tonelada em 2016. Hoje o preço está na casa dos US$ 16,5 mil por tonelada. Já no cobre, o Goldman Sachs prevê que a cotação bata em US$ 7,5 mil por tonelada em 2017 ante os atuais US$ 6,8 mil na Bolsa de Metais de Londres (LME).

Siani disse ainda que a alta dos preços dos metais, em especial do níquel, pode ajudar a compensar, em parte, a redução nos preços do minério de ferro. "Temos aumento de volume de produção e a expectativa de nos tornarmos ainda este ano o maior produtor de níquel do mundo. E temos a produção de cobre e ouro crescendo de forma acelerada." Segundo ele, o mercado tem dado sinais de que haverá um déficit no mercado de níquel, o que elevará ainda mais os preços.

A dúvida que fica, segundo ele, é quando essa alta nos preços vai ocorrer. "Achava-se que seria no primeiro semestre de 2015 e agora já se fala no segundo semestre do ano que vem, mas depende do sucesso que os chineses vão ter em misturar o minério das Filipinas com o minério da Indonésia. Os estoques deles [da China] estão acabando. Então a expectativa é grande. Com a recuperação dos preços do níquel e aumento de volume [de produção], vamos ter em 2015 os metais básicos representando parcela expressiva do resultado da companhia", previu Siani.