As suspeitas de envolvimento de grandes empreiteiras em um esquema de fraude em licitações na Petrobras não impediram que pelo menos duas empresas que atuam no setor fechassem captações recentemente. A Andrade Gutierrez e uma companhia do grupo da Queiroz Galvão levantaram um total de R$ 910 milhões por meio de emissões de debêntures.

A operação da Andrade, que até o momento não apareceu como alvo das investigações da Polícia Federal, movimentou R$ 600 milhões e foi realizada por Banco do Brasil e Bradesco BBI. A Queiroz Galvão Desenvolvimento de Negócios, que controla os negócios do grupo na área de infraestrutura e não integra a unidade de engenharia, obteve R$ 310 milhões em uma emissão que foi coordenada pelo Banco Votorantim.

Não está claro se as debêntures chegaram a ser vendidas a investidores ou ficaram na carteira dos próprios bancos. As instituições financeiras costumam conceder crédito a empresas via emissão de debêntures, que são isentas do imposto sobre operações financeiras (IOF).

De janeiro a outubro deste ano, as emissões de títulos no mercado local atingiram quase R$ 80 bilhões, de acordo com dados da Anbima, associação que representa as instituições que atuam no mercado de capitais. Desse total, estima-se que apenas 33% das emissões de títulos de dívida no mercado local foram vendidas a investidores. Procurados, os bancos e as companhias informaram que estão em período de silêncio e não podem comentar o assunto.

As suspeitas de corrupção envolvendo contratos com a Petrobras colocaram os negócios das grandes empreiteiras brasileiras na berlinda. Entre os riscos para as companhias está justamente o de refinanciamento da dívida no curto prazo.

Praticamente todas as empresas do setor possuem dívidas no mercado local ou externo. Na semana passada, a agência de risco Moody’s rebaixou a classificação de risco de crédito da OAS e da Mendes Junior, enquanto a Fitch colocou a nota de todas as empreiteiras, incluindo a Andrade e a Queiroz Galvão, em observação negativa.

Embora não tenha sido alvo da recente operação da PF que cumpriu 27 mandados de prisão e 49 de busca e apreensão, a Andrade Gutierrez precisou pagar mais caro para captar os recursos. Com prazo de três anos, as debêntures possuem custo de 115,66% da taxa interbancária (CDI), equivalente à taxa básica de juros (Selic). Para efeito de comparação, a companhia levantou R$ 430 milhões por dois anos no fim do ano passado pagando 108,60% do CDI.

A Andrade possui classificação de risco ‘BBB-’ em escala global pela Fitch, dentro da categoria de grau de investimento. Os bancos aparentemente estão confortáveis com o risco de crédito da companhia, já que a emissão de debêntures não conta com garantias.

A Queiroz Galvão Desenvolvimento de Negócios também captou recursos por três anos. A taxa de juros da emissão foi de 115,60% do CDI. O grupo do qual a empresa faz parte está entre os investigados por suposta fraude em licitações da Petrobras. A empresa que emitiu as debêntures não possui rating, mas a construtora Queiroz Galvão possui avaliação ‘AA-’ na escala nacional da Fitch.

 

Captação da Petrobras só sai com divulgação de balanço

 

O adiamento da publicação do balanço do terceiro trimestre em meio às denúncias de corrupção colocou por terra os planos da Petrobras de realizar uma captação de recursos no mercado de capitais local com a emissão de debêntures de infraestrutura, pelo menos por enquanto.

A estatal vinha conversando com frequência com bancos de investimento com o objetivo de realizar uma emissão local de pelo menos R$ 3 bilhões, segundo fontes de mercado. As debêntures de infraestrutura possuem isenção de imposto de renda para pessoas físicas e investidores estrangeiros.

A Petrobras recebeu autorização do Ministério de Minas e Energia para fazer a emissão em abril. Os recursos captados precisam ser destinados para o projeto de construção de um trem de refino de petróleo no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

Havia a expectativa de que a operação ocorresse ainda neste ano. Mas sem a divulgação do balanço a empresa fica impedida de acessar o mercado. Mas pelo menos em tese a Petrobras teria condições de retomar o processo em um espaço curto de tempo assim que regularizasse a situação.

A companhia se enquadra na regra da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de emissor com grande exposição ao mercado, para os quais a autarquia concede registro de emissões em um prazo de cinco dias úteis. "A dúvida é saber como ficará o apetite dos investidores por papéis de dívida da companhia após os problemas", diz uma fonte.

A Petrobras possui grande necessidade de financiamento no mercado para fazer frente ao plano bilionário de investimentos para os próximos anos. A empresa realizou neste ano uma emissão de debêntures tradicional, sem o benefício fiscal para os papéis de infraestrutura, no valor de R$ 800 milhões. Os papéis foram adquiridos pelo J. P. Morgan, que posteriormente reempacotou os títulos e vendeu a investidores por meio de um fundo de recebíveis (Fidc).