Vem aí mais um ano difícil, com forte aumento de preços, produção muito fraca e exportações em queda, segundo as novas projeções do Banco Central (BC). Ainda haverá muita insegurança e os empresários estarão pouco dispostos a apostar na recuperação dos negócios. Por isso investirão pouco no aumento da capacidade produtiva e o potencial de crescimento continuará limitado nos anos seguintes. Este é o cenário desenhado pelo pessoal do BC em seu novo Relatório de Inflação, uma revisão trimestral do desempenho e das perspectivas da economia. As novas estimativas apontam um crescimento de apenas 0,2% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e de 0,6% nos 12 meses até setembro de 2015. Mesmo em Brasília é difícil de encontrar previsões muito mais otimistas. O projeto de Orçamento para o próximo ano tem como base uma expectativa de expansão econômica de 0,8% para todo o período de janeiro a dezembro.
O pior desempenho mais uma vez será o do setor industrial, segundo o BC. Haverá crescimento na mineração e nas atividades de produção e distribuição de eletricidade, gás e água, mas dois outros segmentos continuarão em mau estado. A indústria de transformação deve fechar este ano com produção 3,2% menor que a de 2013. Para os 12 meses até setembro de 2015, a contração prevista é de 0,9%. Os números estimados para a construção civil nesse dois períodos são -4,9% e -2,5%. Será uma surpresa, portanto, se o emprego industrial se estabilizar e, mais que isso, voltar a crescer.
O consumo das famílias e do governo continuará a crescer, mas o valor investido em máquinas, equipamentos e construções, incluída a infraestrutura, deverá encolher 1,8% nos 12 meses até setembro. Para este ano, o resultado previsto é uma contração de 7,1%. Os autores do relatório mostram, portanto, pouca esperança de assistir, no próximo ano, a um ressurgimento da confiança e do espírito animal dos empresários. Mas parecem pouco dispostos, também, a admitir a hipótese de uma firme recuperação dos investimentos públicos.
As estimativas sobre o PIB e seus componentes terminam em setembro do próximo ano, mas a sequência é em boa parte previsível. Sem investir no aumento e na modernização da capacidade produtiva, o País continuará com escasso potencial de expansão econômica. Boa parte da recuperação americana, a partir da crise iniciada em 2008, foi possibilitada pelo investimento privado.
Ao investir ainda durante a crise, o empresariado ajudou a reativar a produção e começou a construir a base para um novo período de prosperidade. No Brasil, o governo se vangloriou de haver mantido a economia em movimento enquanto o mundo rico permanecia em crise. Mas o País cresceu menos que outros emergentes nos últimos seis anos. Além disso, o governo foi tão incapaz de aumentar o investimento público quanto de incentivar o setor privado a ampliar a própria capacidade produtiva. O cenário de estagnação descrito no relatório do BC e mostrado nas contas nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram as consequências de uma política errada.
As projeções do balanço de pagamentos complementam o quadro de quase paralisia. O saldo comercial estimado pelos técnicos do BC deve passar de um déficit de US$ 2,5 bilhões em 2014 para um modesto superávit de US$ 6 bilhões em 2015. O déficit em conta corrente deve diminuir ligeiramente, de US$ 86,2 bilhões neste ano para US$ 83,5 bilhões no próximo ano. O comércio de bens continuará muito fraco. O valor exportado, de US$ 234 bilhões, será pouco maior que o deste ano, mas inferior ao de 2013 (US$ 242 bilhões). O valor importado, de US$ 228 bilhões, será pouco menor que o deste ano. A corrente de comércio continuará, portanto, muito limitada e muito menos dinâmica que a de outros emergentes.
Nada mais natural que a permanência de inflação muito acima da meta de 4,5%. O BC estima 6,1% para 2015 e 5% para 2016. Se a projeção for confirmada, nem dentro de dois anos a inflação chegará à meta - um alvo já muito alto pelos padrões internacionais.