A maioria das empresas ainda não está preparada para receber os jovens, que representam uma parte cada vez maior do mercado de trabalho e têm necessidades diferentes das gerações anteriores. Quem não mudar para atrair e reter esses profissionais, portanto, vai sofrer com a perda de talentos. Essa é a opinião de Anne Donovan, especialista na nova geração da força de trabalho e líder do processo de transformação de capital humano da PwC.

"São os negócios que precisam mudar, e não os profissionais da geração Y", destaca ela, referindo-se aos jovens nascidos entre 1980 e 1995 - também chamados de milênios. No Brasil, eles representam hoje 40% da força de trabalho e serão a maioria dos profissionais empregados em 2020. Para Anne, que conversou com o Valor em recente visita ao país, dados como esses mostram a urgência de o mundo corporativo ouvir as necessidades dessa nova leva de profissionais e criar estratégias para se adaptar a ela.

A principal diferença entre a geração Y e a X, sua precedente formada por aqueles nascidos entre 1965 e 1979, está no foco dado a determinados aspectos do trabalho que geram satisfação profissional, diz Anne. Enquanto a geração X valoriza o controle sobre o trabalho feito, as oportunidades de se desenvolver e os salários altos, as prioridades dos milênios são flexibilidade, coesão da equipe da qual fazem parte e reconhecimento pelos resultados alcançados. "A geração Y dá muita importância para o ambiente de trabalho."

A PwC, que globalmente será formada por 80% de milênios já nos próximos dois anos, realizou no ano passado uma pesquisa com mais de 40 mil pessoas para identificar essas diferenças e formular uma estratégia para tornar a empresa mais atrativa para as novas gerações. Anne foi responsável pelo estudo e hoje lidera esse processo de mudança.

O grande desafio está em gerir o choque de duas gerações com objetivos praticamente opostos. "Imagine alguém da geração X, que quer controlar o trabalho ao seu redor, sendo chefe de um jovem, que busca flexibilidade e autonomia", diz. A reação natural é exigir que seus subordinados trabalhem da mesma maneira que você, mas apenas mandar não é mais suficiente. "Os milênios não têm medo de questionar o porquê de fazer algo, já que eles passaram a vida inteira com a internet disponível e estão acostumados a obter respostas. É um jeito diferente de pensar."

Os dois principais pontos que ela recomenda que empresas trabalhem - e que são foco do processo da PwC - são a flexibilidade e a transparência. Permitir mais liberdade em relação horário, local e tipo do trabalho realizado pelos profissionais são alguns dos objetivos da empresa atualmente. Entretanto alcançá-los exige mudanças profundas na forma com que os profissionais mais seniores trabalham.

Para a especialista, o primeiro passo é a empresa reconhecer que os profissionais mais jovens podem ter necessidades diferentes e mostrar que está tentando respondê-las - mesmo que isso ainda não esteja acontecendo de forma satisfatória na prática.

Anne ressalta que dar flexibilidade e ser transparente são estratégias que não exigem investimento e podem ser implementadas sem nenhum custo. Por outro lado, são mudanças culturais complexas "Seria mais fácil preencher um cheque do que realizar esses processos", diz.