Título: Inflação assusta mais que violência
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 23/06/2011, Economia, p. 15
A inflação ainda assombra o brasileiro. Mesmo depois de anos a fio com a carestia sob rígido controle ¿ e poucas exceções, como neste ano ¿, o consumidor não esqueceu da escalada diária dos preços experimentada nos anos 1990. Segundo a pesquisa Pulso Brasil, divulgada pela Federação das Indústria de São Paulo (Fiesp), o assunto ainda assusta mais que violência, desemprego, saúde pública e aumento de tributos. O levantamento, realizado pelo Instituto Ipsus, em parceria com a entidade paulista, ouviu mil pessoas em 70 cidades e nove regiões metropolitanas.
Com uma pergunta nada trivial ¿ "O que faria você perder o sono?" ¿, o questionário do Ipsus chegou à revelação do tema que mais aterroriza as famílias brasileiras. A "volta da inflação" foi a alternativa escolhida por 26% dos entrevistados. A violência urbana ficou em segundo lugar, com 23% das respostas. Na sequência, vieram desemprego (20%), saúde pública (10%) e aumento de taxas e impostos (7%). O restante preferiu não responder. As entrevistas foram feitas entre 23 e 31 de maio.
Memória A preocupação dos consumidores é a mesma de especialistas, que ontem também se assustaram com a alta de 0,23% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), quando esperavam 0,17%. No acumulado do ano, a taxa alcançou 4,10% e está bem próxima do centro da meta (4,5%), mesmo ainda faltando seis meses para o ano terminar. "Essa preocupação tem haver, no caso das pessoas com mais de 40 anos, com uma memória inflacionária que remonta o período da hiperinflação. No caso dos mais jovens, as altas de preços recentes influenciaram as respostas", avaliou André Rebelo, assessor da Fiesp.
A pesquisa separa as respostas também por classe social e, mais uma vez, a carestia figurou como principal preocupação da maior parte dos brasileiros. Para 36% do público AB, o descontrole dos preços é o vilão. Para a nova classe média, a inflação também figura como o maior obstáculo. Pelos dados da Fiesp, 25% da classe C declararam o retorno da carestia como um incômodo. A violência fica em primeiro lugar apenas para as pessoas de renda mais baixa ¿ as esferas D e E da sociedade.
Dor de cabeça A pesquisa da Fiesp sobre os pavores que tiram o sono do brasileiro foi realizada pela última vez em janeiro de 2008. À época, a inflação figurava em 5º lugar. A dor de cabeça das famílias, naquele ano, era o medo do desemprego, que assustava 42% dos entrevistados. A segurança pública aparecia na segunda posição, citada por 32% das pessoas. Apenas 6% tinham receio do retorno da inflação.