Após perder a disputa por poder dentro da área econômica e deixar o posto número dois do Ministério da Fazenda em maio do ano passado, Nelson Barbosa volta ao governo, à frente do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. A ida de Barbosa para o Planejamento deve reforçar um ministério que vinha sendo bastante criticado por economistas de perfil mais heterodoxo por não ter um papel protagonista em um governo com traços desenvolvimentistas.

Barbosa teria ainda proximidade com a assessora econômica do Ministério do Planejamento, Esther Dweck, doutora em economia pela UFRJ, e pode formar uma dupla importante para fortalecer a pasta, especialmente na articulação com empresários para a retomada do investimento de longo prazo, ajudando a deslanchar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com Joaquim Levy na Fazenda, diz uma fonte, o economista poderia reeditar, agora em nova versão, os embates entre Mario Henrique Simonsen e João Paulo dos Reis Velloso, então ministros da Fazenda e do Planejamento do governo Geisel.

PhD em Economia pela New School for Social Research, de Nova York, Barbosa não é um neófito na administração federal. Participou ativamente da preparação do PAC, do Minha Casa Minha Vida e em praticamente todas as medidas econômicas relevantes do primeiro mandato de Dilma. O economista ostenta uma passagem longa por governos do PT.

Barbosa entrou no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, como chefe-adjunto da assessoria econômica do Planejamento, na gestão de Guido Mantega. Foi assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) até ir para a Fazenda quando Mantega assumiu a pasta, em 2006. No ministério, foi secretário de Acompanhamento Econômico entre 2007 e 2008 e secretário de Política Econômica (de 2008 a 2010), em um percurso que culminou com o cargo de secretário-executivo da Fazenda, de 2011 a 2013.

Diferentemente de Guido Mantega, que deixa o cargo, Barbosa teria um perfil menos político e mais técnico. Em meados da década de 1990, prestou concursos para a CVM, Banco Central e a Petrobras. Passou nos três e ficou com o BC. Logo, não são raros os economistas que destacam Nelson Barbosa como uma pessoa de formação muito sólida e que dialoga com várias correntes de pensamento dentro da economia, transitando entre heterodoxos e ortodoxos. Isso decorreria principalmente do seu doutorado na New School, escola de perfil mais plural.

Graduado em Economia na UFRJ, concluiu seu mestrado sob orientação de Maria da Conceição Tavares, em um período crucial na formação de ideias keynesianas sobre a importância do gasto público como indutor do investimento e da demanda agregada. Mas algumas das principais críticas de Barbosa ao governo, ditas por ele em diferentes seminários após sua saída do governo, guardam relação com a contabilidade criativa, colocando-se como um defensor da transparência nas contas públicas. "Apesar de defender rigor fiscal e atentar para a sustentabilidade da dívida pública, Barbosa tem consciência do papel do gasto público e que o Estado deve atuar de forma anticíclica", diz uma fonte.

Como nem sempre ocorre entre os economistas, Barbosa tem trânsito no meio acadêmico e no mercado financeiro. No período em que formou a trinca com Guido Mantega e o secretário do Tesouro, Arno Augustin, Barbosa era considerado o mais moderado pelo mercado. Sua saída da Fazenda - em maio de 2013 - foi interpretada como uma espécie de vitória da contabilidade criativa na área fiscal. Não que ele destoasse de seus pares no conteúdo do que defendia, mas na forma como achava que as coisas deveriam ser feitas. Embora acreditasse que havia espaço para um superávit primário menor, por exemplo, Barbosa avaliava que isso deveria ser feito de forma gradual e às claras.

Depois que deixou o governo, assumiu disciplinas no Instituto Brasileiro de Economia da FGV, escola reconhecidamente liberal. Enquanto manteve em paralelo seu expediente na UFRJ - universidade com traços bem mais heterodoxos. É chamado para palestras em eventos de diferentes ramificações do pensamento econômico. Esteve neste ano em um seminário em homenagem ao economista Celso Furtado, evento de fundos de pensão, além de palestra na Unicamp, universidade que se afasta da ortodoxia econômica.

Barbosa teve ainda passagens pelo Banco Central (de 1994 a 1997) e foi também presidente do Conselho do Banco do Brasil (2009 a 2013) e membro do Conselho de Administração da Vale (entre 2011 e 2013). Foi também membro dos conselhos de administração da Cetip e do Banco Regional de Brasília (BRB).

Em um dos últimos eventos públicos de que participou antes da nomeação, um congresso de fundos de pensão sediado em São Paulo, Barbosa sublinhou a necessidade de gradualismo do ajuste fiscal, mas demonstrou outras preocupações, ao ressaltar que, apesar dos ventos contrários, o governo conseguiu preservar empregos e avançar na questão social além da renda. "Não foi só transferência de renda, mas de serviços públicos como saúde e educação, o que já começou, mas está no estágio inicial". Nas palavras de uma fonte, "é uma pessoa fácil de conversar, muito agregadora e impõe respeito pelas suas capacidades", diz. "É um nome muito forte, não é um nome do partido, mas que era do quadro do governo. Seria um erro não aproveitá-lo".