"Se soubesse que a Dilma escolheria o Levy para a Fazenda, teria votado nela e não no Aécio". A afirmação de um diretor de instituição financeira, com certa dose de exagero justificado pela empolgação, dá a medida do quão bem-vinda é a indicação de Joaquim Levy para comandar a pasta, diante de outras opções que chegaram a ser cogitadas. A reação - e o bom humor - se repete entre executivos do mercado financeiro e economistas, que veem Levy como uma "grata surpresa" no balaio de nomes aventados para o Ministério da Fazenda desde a reeleição de Dilma Rousseff. 

"É um nome testado e que sinaliza uma maior autonomia da política econômica", diz a economista- chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. A confirmação de Levy deve garantir um período de "lua de mel" da presidente Dilma com o mercado - ainda que de duração incerta. Para Zeina, é possível que o novo titular da Fazenda se veja obrigado a implementar medidas contrárias ao discurso que integrantes do governo têm feito, em defesa de um ajuste fiscal mais modesto. "O novo ministro vai precisar do apoio da presidente", diz. 

Na opinião de Luiz Fernando de Paula, economista e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), o nome de Levy é sinal de que um ajuste fiscal rígido vem sendo preparado para 2015. Para ele, Nelson Barbosa - cotado para a Fazenda e agora previsto para o Planejamento - não faria um ajuste tão forte quanto Levy deve fazer. Politicamente, as nomeações agradam ao mercado de um lado e ao PT de outro, avalia o professor, que diz que Dilma Rousseff estaria "acomodando diferentes interesses". 

Para o economista da UERJ, a ida de Barbosa para o Planejamento, e não para a Fazenda, tem uma leitura que Lula "vendeu" para Dilma de que a partir de 2003 ele enfrentou o "risco de mercado" e a melhor maneira de enfrentar isso teria sido, segundo o ex-presidente, por meio de uma política econômica mais ortodoxa. A flexibilização viria em seguida. 

Quem conhece Levy acredita que ele dificilmente vá se subordinar a vontades de outros integrantes do Planalto na condução da política econômica e que deve operar com autonomia. É o que afirma Monica Baumgarten de Bolle, sócia- diretora da Galanto Consultoria, para quem o nome de Levy foi "inesperado, mas bem-vindo". Para ela, as duas primeiras frentes de trabalho do novo Ministro da Fazenda devem ser a questão fiscal e o "nó" do setor elétrico. 

"É um nome que dá ao governo mais tempo e mais espaço para fazer ajustes com calma", diz a economista. "Acredito que a nomeação do Levy na Fazenda impede um cenário de rebaixamento na nota soberana do Brasil já no ano que vem." No setor financeiro, não se esconde a preferência ao nome de Levy para a pasta ante o de Nelson Barbosa. "Não sei se a bolsa teria subido 5% se fosse o inverso [com Barbosa na Fazenda]", diz Alexandre Póvoa, sócio da gestora de fundos Canepa Asset Brasil. 

Na sexta-feira, os rumores da formação do novo triunvirato que comandará a economia brasileira, que conta também com a permanência de Alexandre Tombini à frente do Banco Central (BC), fizeram a bolsa disparar e o dólar e as taxas futuras de juros, caírem. Até mesmo os títulos de dívida internacionais emitidos pelo governo brasileiro apresentaram ganhos após a notícia. 

Segundo uma fonte que acompanha o mercado de bônus soberanos, os preços dos títulos de dívida externa do Tesouro Nacional subiram cerca de 9 pontos-base em reação à informação, indicando mais otimismo do investidor estrangeiro com o cenário local. "O Levy é bem melhor visto que o Nelson Barbosa. Já trabalhou em vários órgãos internacionais, tem credibilidade no mercado", disse um operador do mercado de renda fixa internacional. 

Para Póvoa, da Canepa Asset, a expectativa é que a nova equipe econômica apresente um plano fiscal crível de médio prazo. 

"Ninguém espera um milagre para 2015", diz. "O ponto de partida da economia é muito ruim". 

A recuperação da credibilidade junto aos investidores é o grande trunfo do novo time que pode comandar a economia a partir do ano que vem, acredita Póvoa. 

Zeina Latif afirma que a indicação de Barbosa ao Ministério do Planejamento também foi um sinal positivo. "Ele conhece bem os números do governo e a legislação, e estava à frente do projeto de reforma tributária quando estava no governo", diz. Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J.Safra, também cita a área tributária como grande tarefa de Barbosa em sua possível pasta. 

"O Nelson tem experiência no setor público e pode conduzir importantes reformas como a tributária, que visa a unificação das alíquotas de ICMS", afirma. 

Na visão do professor De Paula, Dilma Rousseff pode replicar com a dupla Levy-Barbosa a estratégia que o então presidente Lula usou com Antonio Palocci e Guido Mantega. 

No primeiro governo Lula, Mantega estava primeiramente no Ministério do Planejamento e depois assumiu a Fazenda, com a saída de Antonio Palocci. Mantega entrou na Fazenda no período das políticas anticíclicas. Barbosa pode ser o nome das políticas mais flexíveis depois do ajuste no segundo governo Dilma. 

"Particularmente, vejo que ele [Levy] atende o mercado porque ele conhece tanto o setor público como o setor privado", diz um executivo de um banco público, que pediu para não ser identificado. Na visão dele, o grande trunfo de Levy é ter no currículo passagens pelos dois lados, seja na área de gestão de recursos do Bradesco, seja na Secretaria do Tesouro e no Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Mônica de Bolle resume bem o clima de expectativa que deve imperar ao longo da semana antes do anúncio oficial da equipe econômica. "A indicação já foi boa. A confirmação vai ser melhor ainda."