Seria uma injustiça histórica eleger apenas um culpado pelos alagamentos que deixaram Brasília submersa na madrugada de quarta-feira. Todos os governadores, secretários de Obras, presidentes da Novacap e administradores regionais merecem ser incluídos na lista dos responsáveis. Jamais saberemos a extensão dos prejuízos, até porque novas chuvas apontam no horizonte e mais estragos estão a caminho. E mesmo que os temporais não tenham a mesma força e intensidade dos que ocorreram na semana passada, há a certeza de que a cidade não está preparada para enfrentá-los.

As imagens de carros submersos, garagens alagadas, shoppings inundados e correnteza nas ruas chocaram os brasilienses. Assusta mais ainda saber que a capital do país é uma cidade relativamente jovem, mas que vive situação semelhante à de metrópoles centenárias, como Rio e São Paulo. E não há desculpas para o caos provocado pelas chuvas em Brasília. É evidente que faltou planejamento.

A ocupação desordenada das áreas urbanas foi denunciada incansavelmente por especialistas e pela imprensa. Mas nossos governantes as ignoraram. A invasão das águas na Asa Norte vem se desenhando ao longo dos últimos 15 anos, acelerada pela implantação do Setor Noroeste, e as providências atolaram na burocracia dos órgãos públicos e na falta de vontade política. A saída usual foi transferir a culpa pelo atraso nas obras para a Justiça e para o Tribunal de Contas, acusados de atrasar as análises ou suspender licitações. Mas é bom que o eleitor saiba: projetos benfeitos e honestos sempre serão aprovados. 

Enquanto o próximo dilúvio não chega, o governo vai maquiando as ruas para esconder os estragos. Gasta-se mais nesses remendos do que com a infraestrutura urbana. Já o contribuinte paga caro pela incompetência do Estado. Carros foram destruídos, prédios tiveram as instalações danificadas e aparelhos elétricos estão queimados. Nenhuma empresa ou órgão público assumirá essa dívida. A alternativa para os brasilienses que tiveram o patrimônio levado pela enxurrada é voltar a cobrar promessas e fazer valer o voto. Daqui a 12 dias, novos administradores assumirão o comando do GDF, também remunerados com o dinheiro dos impostos. Espera-se deles mais seriedade e rapidez nas respostas à população.