A camada mais pobre da população brasileira está mais presente nos câmpus das universidades públicas do país. A participação aumentou quatro vezes entre 2004 e 2013. O dado, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é da Síntese de Indicadores Sociais. Em 2004, apenas 1,4% dos estudantes do ensino superior público faziam parte dos 20% com menores rendimentos. Em 2013, a proporção chegou a 7,2%. Ao mesmo tempo, a presença dos mais ricos nos quadros das instituições teve uma queda significativa, passando de 55% para 38,8% no período analisado. Mesmo assim, a maioria dos alunos do ensino superior público ainda está nas faixas mais altas de renda. O fenômeno também ocorreu nas universidades privadas, onde a participação dos 20% mais ricos caiu de 68,9% para 43% enquanto a dos 20% mais pobres cresceu de 1,3% para 3,7%.

A estudante da Universidade de Brasília (UnB) Anya Almeida, 19 anos, é um exemplo da geração que conseguiu acessar o ensino superior, ao contrário dos pais. Ela cursa gestão de políticas públicas. Para a área em que eu quero atuar, não há outro caminho que não o nível superior. E eu quero ir além. Fazer pós-graduação, mestrado. Além de melhorar a qualidade de vida da minha família, diz a jovem. O pai dela é vigilante e a mãe cuida do caçula em casa. A renda mensal da família fica em torno de R$ 1 mil.

Mesmo em uma universidade pública, estudar não sai barato. Anya só consegue estudar com o auxílio permanência de R$ 465 que recebe da universidade, além do estágio. A maior dificuldade é em relação ao transporte, mas tem a impressão e cópias de textos, além das disciplinas que disponibilizam boa parte do material online e, para participar, é preciso ter acesso à internet, detalha. Se não fossem os complementos de renda, a estudante não estaria mais frequentando o câmpus. Estaria em um emprego de tempo integral, diz. Ela é a única da família que começou a fazer uma graduação.

Diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos considera o avanço no acesso dos mais pobres ao ensino superior significativo. Porém, ele ressalta que, em números absolutos, o dado ainda é muito pequeno. Um grande esforço precisa ser feito. Um ano de escolaridade no Brasil tem impacto de 15% na renda. Colocar mais jovens nas universidades é o caminho natural para estreitar as diferenças sociais, avalia. 

O diretor, que também é conselheiro do Conselho Nacional de Educação (CNE), atribui o aumento de acesso entre os mais pobres às cotas nas universidades públicas e aos programas de financiamento e bolsas estudantis, como o Fies e o ProUni. Mozart, entretanto, destaca que não basta colocar mais jovens de baixa renda nas universidades. A partir do momento em que esse jovem ingressou, precisamos pensar na bagagem dele. E essa questão passa pela melhoria da educação básica, pelos programas de acompanhamento, disse.

Anos de estudo
Outro dado apresentado pela pesquisa é o aumento da escolaridade média da população de 25 anos ou mais, que passou de 6,4 para 7,7 anos de estudo. Esse incremento também foi mais intenso entre os 20% mais pobres, que elevaram de 3,7 para 5,4 os anos de estudo. Entre 2004 e 2013, a proporção de pessoas da faixa etária de 25 a 34 anos com ensino superior praticamente dobrou, passando de 8,1% para 15,2%. Porém, o percentual é o menor, se comparado aos países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Participação
Confira a proporção de cada grupo de renda nas universidades públicas brasileiras (%). O IBGE divide a população em cinco partes para chegar aos quintos. O primeiro grupo corresponde aos 20% mais pobres e o 5° aos 20% mais ricos. As faixas salariais de cada um não foram divulgadas.

2004 2013

1° quinto 2,3 7,2
2° quinto 4,8 11,5
3° quinto 10,3 17,3
4° quinto 24,9 25,2
5° quinto 57,7 38,8

Síntese de Indicadores Sociais IBGE