Título: Obama de olho na reeleição
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Fonte: Correio Braziliense, 25/06/2011, Opinião, p. 16

O anúncio da retirada das tropas americanas do Afeganistão até o quarto trimestre de 2012 tem os olhos postos nas próximas eleições. Obama afirmou estar cumprindo promessa feita no calor da vitoriosa campanha que o levou à Casa Branca. É verdade. Mas a decisão contraria os comandantes militares, que consideram temerária a aceleração do calendário. Eles preferem desmobilizar menos homens em mais tempo.

Com o ataque às Torres Gêmeas em setembro de 2001, Cabul tornou-se alvo da indústria de guerra americana. George W. Bush, então presidente dos Estados Unidos, mandou 1.300 homens para o país asiático sob a alegação de que os talibãs davam abrigo à rede terrorista Al-Qaeda e ao líder supremo da organização, Osama bin Laden. Passados quase 10 anos, a escalada bélica apresenta números assustadores.

Hoje os militares americanos em território afegão somam mais de 130 mil. Acrescente-se à cifra os 40 mil soldados de nações aliadas. Se as palavras do presidente se transformarem em ação, um quarto do contingente voltará para os Estados Unidos ¿ 10 mil este ano e o restante até o segundo semestre de 2012. A seguir o planejamento para a saída, em 2014 a maior parte das tropas terá retornado para casa. Ficarão 25 mil soldados.

Com a economia em crise, é difícil explicar à população o gasto de elevadíssimas quantias com guerras inglórias. Só os conflitos do Iraque e do Afeganistão abocanharam US$ 1,3 trilhão. O do Afeganistão, além do saldo de 1.600 vidas americanas ceifadas, exige o desembolso mensal de US$ 1 bilhão. Não é sem razão, pois, que 56% dos cidadãos estadunidenses consultados em pesquisa recente afirmaram querer deixar para trás o pantanal afegão com a maior brevidade possível.

Com a crise econômica sem perspectivas de melhora e a opinião pública contrária, não restou alternativa a Obama. Ou ele tomava medida de impacto capaz de lhe melhorar os índices, ou não prosperaria como candidato democrata à reeleição no próximo ano. Agora, ele e líderes europeus envolvidos na guerra terão de negociar com os talibãs uma saída política. Washington se movimenta há algum tempo nessa direção. Um dos acenos: pediu às Nações Unidas que levantem sanções contra Cabul.

Outra adesão necessária é a do Paquistão, cujas relações ficaram estremecidas com a ação que matou Bin Laden. Um celular confiscado em Abbottabad com o mensageiro de Osama revela ligações para um grupo terrorista aliado do serviço secreto paquistanês. Além de abrigar e manter relações escusas com líderes talibãs, Islamabad tem armas atômicas que podem cair em mãos erradas. O Irã, de maioria xiita e líder regional, também precisa se sentar à mesa de conversações. É tabuleiro de peças por demais intrincadas.