Em meio à desaceleração da economia e diante de perspectivas pessimistas também para 2015, muitos investidores decidiram bater em retirada do país e passaram a levar consigo seus dólares em novembro. O saldo de entrada e de saída de recursos em moeda norte-americana, em novembro, ficou no vermelho em US$ 3,507 bilhões no mês passado. Foi o pior resultado desde dezembro de 2013, informou ontem o Banco Central (BC).

Tanto a balança comercial quanto as transações ligadas a operações financeiras registraram deficit nessa conta. Os valores que deixaram o país via importações superaram o volume de exportações US$ 1,358 bilhão, o maior saldo negativo em três meses. Já as saídas de dólares da bolsa e de outras aplicações financeiras, como títulos públicos, superaram as retiradas em US$ 2,149 bilhões no mês — o pior rombo em quatro meses.

Não se trata de um evento pontual. “O fluxo de dólares já vinha piorando recentemente. Então, esse mau resultado de novembro já era esperado”, disse o operador de Câmbio da corretora B&T Marcos Trabbold. Ele chamou a atenção para o fraco saldo da balança comercial, que ainda reflete a debilidade da indústria e a desaceleração dos preços das commodities no mercado internacional.

Remessas
Outro item que tem contribuído para o fluxo negativo é a falta de investimentos no país. No ano, até setembro, a taxa que mede os aportes na compra de empresas ou na ampliação de capacidade produtiva despencou 7,4%, informou na última sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, a chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) recuou para 17,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre.

Isso tem reflexo também sobre a entrada de dólares para aplicações financeiras, como em ações, disse o especialista. “A bolsa está meio de lado, então o pessoal deixa de trazer recursos para cá, reduzindo tudo, até os investimentos diretos”, assinalou Trabbold.

Mas ainda pior do que observar os resultados passados, diz o especialista, é ter em mente que, nos próximos meses, o fluxo de dólares tende a ser cada vez mais negativo, por fatores sazonais. Em dezembro e janeiro, muitas subsidiárias de empresas multinacionais elevam as remessas de lucros e dividendos para suas matrizes, após o fechamento dos balanços. 

 

Petrobras puxa a bolsa

 

CELIA PERRONE

 

 

Depois de cinco quedas seguidas, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou ontem em alta, puxada principalmente pelas ações da Petrobras. As preferenciais da estatal subiram 4,95% e as ordinárias, 5,26% — desempenho insuficiente, no entanto, para recuperar as perdas de mais de 15% nos últimos sete pregões. O Ibovespa, principal indicador do pregão, fechou com valorização de 1,37%, aos 52.320 pontos.

Segundo João Medeiros, analista da Corretora Pioneer, os papéis da Petrobras sofreram um ajuste depois das quedas das últimas semanas. “O petróleo tipo Brent fechou abaixo de US$ 70 (US$ 69,96) e, como a empresa importa o produto, tem uma entrada extra no caixa sem precisar fazer nada”, afirmou.

Já o dólar fechou em queda de 0,74% cotado a R$ 2,557 para a venda. O gerente de Câmbio da Fair Corretora, Mario Batistel, afirmou que, além da expectativa de alta da Selic, contribuiu para esse movimento uma grande entrada de moeda estrangeira. Só na corretora dele foram mais de
R$ 500 milhões. “Os investidores sabem que a Selic vai subir e, como os juros estão baixos nos Estados Unidos e na Europa, vêm aproveitar a nossa taxa”, disse.