Os preços do petróleo estão cedendo, recuaram 30% nos últimos cinco meses e tendem a continuar caindo. Há tensão entre os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que se reúnem em Viena na quinta-feira, para que seja feito um corte imediato na produção. Ele é defendido principalmente por países que têm situação fiscal em deterioração e cujas receitas foram muito abaladas pela queda recente, como Venezuela e Irã. A Arábia Saudita, o maior produtor, reluta em dar esse passo, confiante de que poderá desalojar produtores de fora do cartel que têm custos de produção bem superiores aos seus, especialmente, os de “shale oil”, grande responsável pelo aumento da oferta nos últimos anos.
 
O recuo dos preços é reflexo do desaquecimento chinês e da estagnação na Europa. A demanda global em 2014 deverá ser a menor em cinco anos, com um consumo de 92,4 milhões de barris por dia. Mas a oferta americana desequilibrou o jogo. A produção dos EUA atingiu 9 milhões de barris por dia, a maior desde os anos 1980. O boom do petróleo não convencional despeja hoje no mercado quase a metade dessa produção, ou 4 milhões de barris por dia, e reduziu substancialmente as importações dos EUA, o segundo maior consumidor mundial depois da China.
 
Os países do cartel da Opep viram, com isso, seu forte poder de mercado minguar consideravelmente. Em outubro, sua fatia na oferta global declinou para 40%, para algo perto dos 35 milhões de barris por dia, enquanto que a produção fora do cartel avançou para 57,1 milhões.
 
Após um mês de negociações entre os países do cartel, uma ação conjunta para reduzir produção ainda está longe do consenso. Embora tenham peso determinante para elevar as cotações, a Opep precisa conquistar aliados de fora, e um dos mais visíveis e possivelmente dispostos é a Rússia. Isolada politicamente, sob sanções econômicas de Estados Unidos e Europa, a Rússia tem na queda dos preços uma adversidade a mais. Pelo menos metade do orçamento russo se escora nos combustíveis. Juntas, Rússia e Arábia Saudita detêm um quarto da produção global.
 
Na reunião de quinta, a Opep tem de decidir cortar de 1 milhão e 1,5 milhão de barris por dia, para que as cotações possam reagir. Ainda que a interrupção do fornecimento no Irã, Iraque e Líbia, nos últimos dois países motivados por guerras civis, tenha retirado de circulação 3,5 milhões de barris por dia, o avanço da oferta do petróleo não convencional supriu inteiramente a lacuna.
 
A cotação do petróleo tipo Brent caiu 30% desde junho e é hoje de US$ 80 o barril. A do WTI acompanhou o tombo na mesma proporção e está em US$ 76. Cálculos do banco Société Générale sugerem que o corte de um milhão de barris na oferta da Opep poderia fazer o preço do Brent saltar para a casa dos US$ 90. O preço da inação promete ser pesado. Analistas preveem que, com o fortalecimento do dólar e recuo das commodities, tendências que devem perdurar nos próximos dois anos, o preço do WTI poderia cair para US$ 50 ou até menos em 2017. Nesse caso, a exuberante produção do petróleo não convencional se tornaria, em boa parte, antieconômica, pois a fronteira entre lucros e prejuízos, estaria em torno de US$ 65 por barril.
 
Para a recuperação da economia mundial, a queda dos preços do petróleo é uma boa notícia. Cálculos do Fundo Monetário Internacional apontam que a redução de 20% das cotações, magnitude já ultrapassada pela realidade, daria impulso ao PIB mundial de 0,5 ponto percentual em um ano e de até 1,5 ponto no segundo ano. Apesar dos efeitos claramente positivos, a derrocada das cotações assustou bancos centrais, que lutam contra uma inflação muito abaixo da meta e perigosamente cadente, como o BC Europeu, ou tentam impedir a volta da deflação, como o do Japão.
 
Para a Petrobras, que acelerou a produção do pré-sal, a tendência baixista pode trazer preocupações a médio prazo. No curto prazo, ela é benéfica porque a balança de combustíveis do país é deficitária. Cotações menores e aumento da oferta da Petrobras diminuíram bem o buraco nas contas externas do setor, de US$ 21,3 bilhões para US$ 16,72 bilhões de janeiro a outubro deste ano em relação ao mesmo período de 2013. A queda aproximou os preços domésticos dos internacionais, um movimento que até agora está obstruído pelo controle do governo sobre a política comercial da estatal.