Escalado para ser interlocutor com o empresariado, setor que se estranhou com a presidente Dilma Rousseff ao longo do primeiro mandato e mais ainda durante a campanha eleitoral deste ano, o senador Armando Monteiro Neto (PTB-PE) foi confirmado ontem, oficialmente, como novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Além de ser um aceno à parte do PTB que se manteve fiel a Dilma apesar da cúpula partidária ter apoiado a candidatura de Aécio Neves, a chegada de Monteiro agrada a Pernambuco, estado que deu à presidente 70% de votos válidos no segundo turno da corrida presidencial. Mas não tem o apoio fechado dos empresários paulistas, onde está a maior parte do PIB industrial. 

Monteiro destacou, durante o discurso no Palácio do Planalto e na entrevista concedida a jornalistas - a data da posse ainda não está marcada -, o mantra de busca da competitividade na indústria, prometido por Dilma durante o debate dos presidenciáveis na Confederação Nacional da Indústria (CNI). E elencou diversas frases que a própria Dilma defendeu na disputa eleitoral. "Moldamos, nas últimas décadas, uma sociedade plural e conquistamos inegáveis avanços no campo social. E, mesmo diante das adversidades no campo econômico, nossa economia foi capaz de manter uma baixa taxa de desemprego, garantindo o crescimento da renda e do consumo das famílias", disse o petebista. 

Aos poucos, a presidente avança na formação da futura equipe. Ontem pela manhã, ela reuniu-se com o ministro da Saúde, Arthur Chioro. A tendência é de que ele, uma indicação feita pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e avalizada pelo ex-presidente Lula, permaneça à frente da pasta. 

No meio da tarde, Dilma se encontrou com a presidente da rede Magazine Luiza, Luíza Trajano. Dilma tenta, pela terceira vez, trazer para o Ministério da Micro e Pequena Empresa a empresária que é uma das principais empreendedoras do país no setor de varejo. O primeiro contato ocorreu ainda durante o governo de transição, em 2010, quando a pasta nem sequer havia sido criada. A segunda vez foi antes da oficialização do convite ao atual ministro, Guilherme Afif Domingos. 

Quase lá 
A presidente também deve oficializar nos próximos dias as nomeações de Miguel Rossetto, para a Secretaria-Geral da Presidência, Carlos Guedes, para o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), e Gilles Azevedo, para a Secretaria de Assuntos Estratégicos. 

No desenho institucional, Dilma tende também a levar o atual governador da Bahia, Jaques Wagner, para o Ministério das Comunicações. Para evitar que ele ocupe uma pasta esvaziada, a tendência é que o ministério incorpore também as prerrogativas da Secretaria de Comunicação (Secom), especialmente a distribuição das verbas de publicidade. 

Wagner, contudo, não deve levar em frente uma das principais demandas do PT, expressa, inclusive, no documento do Diretório Nacional que se reuniu no fim de semana em Fortaleza: a regulação da mídia. "Wagner não vai tratar disso. O PT esperneia porque tem de espernear. Alguém tem de fazer esse debate, porém não o governo", disse um petista que integra o Diretório Nacional, mas é contrário ao controle da mídia.

 

 

Críticas ao BNDES

 

Armando Monteiro nem assumiu ainda o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e já questionou um dos pilares econômicos do governo petista: o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O novo comandante admitiu que o banco teve papel importante no período de crise, mas adiantou que não há mais dinheiro disponível para manter a política de empréstimo dos últimos anos. 

Mais do que isso: Armando defende que o banco tenha a atuação mais voltada para as micro e pequenas empresas, já que os grandes conglomerados econômicos têm condições de contrair empréstimos no exterior. 

O BNDES tem sido o principal financiador das obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e abriu linha de crédito para as principais empresas do país, como o JBS Friboi e as empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato. 

O banco tem sido alvo de queixas do Tribunal de Contas da União (TCU), que alega não conseguir fiscalizar o destino dos recursos emprestados, a juros subsidiados, às empresas que têm relação com o governo federal. "Desse jeito, nem vale a pena investigar. Eles não repassam as informações", confirmou, em tom de desabafo, um analista do tribunal.