Os juros futuros longos e intermediários recuaram ontem na BM&F ainda reverberando a expectativa de uma mudança da política econômica com a nomeação (ainda não oficializada) do ex-secretário do Tesouro Nacional Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Nada, contudo, que lembrasse a euforia de sexta-feira, quando investidores celebraram uma eventual guinada ortodoxa no segundo mandato de Dilma Rousseff com um corte agressivo dos prêmios de risco.

Depois de cair 0,50 ponto percentual na sexta-feira, o contrato futuro de Depósito interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2021 - veículo preferido para as especulações em torno de mudanças na condução da economia - desceu mais 0,09 ponto ontem, para 11,84%.

Analistas listam alguns fatores que impedem, por ora, uma nova rodada agressiva de corte de prêmios de risco. Em primeiro lugar, há uma questão técnica intrínseca ao mercado de juros. Depois do tombo do fim da semana passada, apostar em quedas extras das taxas teria se tornado mais arriscado em relação ao potencial de retorno.

Há também certa apreensão de que a presidente, sob fogo cerrado de uma ala de seu próprio partido, o PT, possa voltar atrás. Alega-se que a necessidade de apagar o "fogo amigo", ao lado da espera pela votação da nova lei orçamentária deste ano, teria levado o governo a postergar a indicação oficial da nova equipe econômica. Além de Joaquim Levy, que ocupa cargo de direção na Bradesco Asset Management (Bram), na Fazenda, o time contaria com o ex-secretário-executivo da Fazenda Nelson Barbosa no Planejamento e a permanência de Alexandre Tombini à frente do Banco Central.

Montada a nova equipe econômica, investidores vão se debruçar sobre o "risco de execução". Além de apresentar um plano de ajuste das contas públicas crível, é preciso que haja autonomia e respaldo político para pôr as medidas em pé. As escaramuças do governo com o Congresso Nacional e as próprias dúvidas sobre o grau de liberdade que Dilma dará à equipe econômica despertam preocupações.

"Tenho dúvida se o mercado já não embutiu quase totalmente nos preços a indicação de Levy. Talvez apenas a confirmação não leve à queda das taxas e o mercado espere para ver as medidas fiscal", afirma Rodrigo Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda.

Uma queda adicional das taxas depende também do apetite do investidor estrangeiro, que minguou em novembro. Depois da entrada líquida de US$ 3,5 bilhões em títulos de renda fixa negociados no Brasil em outubro, houve saída de US$ 519 milhões neste mês até o dia 20, informou ontem o Banco Central (BC). Chama a atenção o desempenho dos títulos públicos mais longos preferidos pelos estrangeiros, cujo prêmio de risco não cede. A NTN-F (papel prefixado) com vencimento em 2025 era negociada ontem com uma taxa a 29,25 pontos-base acima do DI de prazo equivalente, um dos maiores níveis dos últimos meses.

Operadores explicam que a queda das taxas desses títulos depende de um fluxo externo novo, que secou nas últimas semanas. Além das incertezas sobre a definição da escolha da equipe econômica, o noticiário sobre a operação Lava-Jato, que afeta a Petrobras e outras grandes empresas brasileiras, assusta os estrangeiros. Apenas a retomada da credibilidade junto aos investidores pode tirar a pressão sobre os papéis públicos. "Se o Joaquim Levy for confirmado e começar a promover medidas que levem a crer que a trajetória vai mudar, o estrangeiro voltará a aplicar", diz Vitor Carvalho, da Laic gestão de recursos. "Dinheiro é que não falta no mundo para isso."