O início de um novo ciclo de crescimento no Brasil passa necessariamente pelo aumento da produtividade da economia brasileira. A opinião é compartilhada por ministros e pesquisadores que participaram, ontem, do lançamento do livro "Produtividade no Brasil - Desempenho e Determinantes", que reúne a primeira parte de uma série de estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o tema.

ProNo evento, o ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, disse que, apesar de o crescimento da demanda agregada ainda ser importante, em um cenário de baixo desemprego o crescimento só será retomado com aumento da produtividade das empresas.

"A produtividade no Brasil está aquém do tamanho da economia brasileira. Para garantir um próximo ciclo de crescimento, a produtividade deve ser protagonista", acrescentou.

O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Marcelo Neri, apresentou dados que mostram que a remuneração cresceu o dobro da relação "Produto Interno Bruto (PIB) por trabalhador" entre 2003 e 2013. Segundo ele, isso mostra que o crescimento da renda do brasileiro não é sustentável.

"É preciso que se tenha ganhos contínuos de produtividade. Não vamos ter nova mão de obra entrando. É o momento de se discutir novas políticas", completou Neri.

Borges considerou "preocupante" o diagnóstico apresentado pelo livro. Entre as conclusões do trabalho está o fato de que a baixa produtividade no Brasil é um problema estrutural de toda a economia, e não apenas de alguns setores.

Além disso, diversos indicadores mostram que o crescimento da produtividade no país tem sido lento desde a década de 70. Nos anos 1990 e 2000, a trajetória de alta do indicador foi da ordem de 1% ao ano, por uma série de entraves, como estagnação do ambiente de negócios e o grau de informalidade do mercado de trabalho.

Com isso, quando se compara com o resto do mundo, os níveis do país se distanciam continuamente de outros emergentes e dos países desenvolvidos, o que explica a gradual perda de competitividade dos produtos brasileiros.

"Fica claro que é uma questão estrutural porque, mesmo no período de crescimento econômico a produtividade não cresceu", avalia a diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset), Fernanda de Negri, uma das organizadoras do livro.

Enquanto a produtividade do trabalho em geral teve crescimento lento no período, há uma queda continua nos últimos anos quando se considera somente a indústria. Entre 2000 e 2009, o setor registrou retração de 0,4%, sendo - 0,8% na indústria de transformação. O setor agrícola foi o que mais registrou ganhos de produtividade (3,8% no período analisado), mas ainda é o segmento com a pior taxa na economia brasileira.

Feito em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, "Produtividade no Brasil" reúne 13 estudos que analisam a evolução dos indicadores de produtividade brasileira sob diversas óticas. O segundo volume será lançado no início do próximo ano com trabalhos que analisarão como inovação, qualificação de mão de obra, infraestrutura e outras variáveis afetam a produtividade do país.