A atividade econômica fraca no Brasil e a alta no dólar do fim de setembro ditaram a tendência de baixa dos resultados do terceiro trimestre de 2014.

Com espaço menor para melhorar eficiência, os custos e as despesas das companhias voltaram a crescer mais que a receita, com impacto direto no resultado operacional. Além disso, houve um aumento no prejuízo financeiro, que reduziu ainda mais os ganhos nos três meses.

O lucro das companhias abertas caiu 25% no trimestre, quando comparado com o mesmo período do ano passado, para R$ 12,8 bilhões, segundo levantamento do Valor Data com 263 empresas.

Foram excluídas da amostra a mineradora Vale e a holding do setor elétrico Eletrobras, que, pelo porte, acabam distorcendo os números do grupo. (Só para se ter uma ideia desse efeito, o lucro cai 71% quando os resultados das duas são considerados.)

Os dados também não incluem a Petrobras, que adiou a divulgação do balanço do trimestre em meio ao escândalo de corrupção na empresa.

A receita líquida nos meses de julho, agosto e setembro avançou 9,7% no levantamento sem as gigantes, para R$ 297,2 bilhões. Os custos subiram mais - 11,6%. As despesas gerais e administrativas tiveram aumento de 18,9% e as despesas com vendas ficaram 10% maiores.

O levantamento mostra quebra na tendência observada nos últimos trimestres de corte de custos para melhorar a rentabilidade, perante o ambiente macroeconômico desafiador. Com isso, o resultado operacional cresceu menos que a receita. O lucro antes de juros e impostos avançou 4,4% no trimestre, para R$ 36,6 bilhões.

Outro aspecto importante ficou do lado financeiro, por conta do aumento de 10% no dólar do fim de setembro, quando comparado com o mesmo período de 2013, passando para R$ 2,45. A cifra é usada na conversão das dívidas das empresas contabilizadas na moeda americana para o real, na hora de entrar no balanço.

Com isso, o prejuízo financeiro das companhias abertas subiu 66% ante o terceiro trimestre do ano passado, levando à forte queda no lucro líquido do período.

"Na média os resultados vieram ruins, como já era esperado, devido ao impacto negativo do ambiente macroeconômico fraco. Ressalto ainda o impacto do dólar nas empresas, sobretudo as exportadoras, elevando a posição da dívida, mesmo sem efeito caixa", afirma Daniel Utsch, chefe de análise da Fator.

Custos e despesas voltaram a crescer mais que a receita, com impacto direto no resultado operacional

Fibria, Suzano e Usiminas são exemplos de exportadoras que saíram do azul e foram para o vermelho, devido sobretudo à variação cambial. Aquelas que vendem produtos para fora são impactadas porque, por receberem em dólar, optam por captar recursos na mesma moeda, formando o que chamam de "hedge natural". O avanço do dólar médio no período, no entanto, foi menor que o do fim dos três meses, impedindo que a melhora operacional acompanhasse a alta na dívida.

"Nosso prejuízo decorreu unicamente da atualização da dívida pelo câmbio do fim do trimestre, [variável] que não está sob controle da companhia", afirmou o presidente da Suzano, Walter Schalka, em teleconferência de resultados.

Para a produtora de celulose Fibria, a desvalorização do real foi a principal influência no aumento da alavancagem financeira, medida pela relação entre a dívida líquida e o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês). Em setembro, esse índice, em reais, estava em 2,7 vezes, ante 2,3 vezes no fechamento do segundo trimestre. Grande parte da dívida líquida da companhia - 93% do total - está em moeda estrangeira.

Algumas exportadoras enfrentaram ainda o recuo nos preços das commodities, como o observado em minério de ferro, carvão e aço. A mineradora Vale saiu de lucro para prejuízo de R$ 3,38 bilhões no terceiro trimestre. A receita da mineradora recuou 26,8% e a despesa financeira líquida saltou 523,2%. O preço do minério, depois do dólar, foi o principal aspecto negativo.

Na atividade interna, é a indústria que mostra os piores resultados nos três meses. Nos segmento de bens de capital, Randon, Iochpe-Maxion e Marcopolo tiveram queda no lucro e na receita do período. As empresas afirmaram, inclusive, que podem recorrer a férias coletivas para tentar manter os estoques em equilíbrio com as vendas baixas. Algumas empresas também anunciaram redução de investimento.

O diretor de relações com investidores da Randon, Geraldo Santa Catharina, afirmou na ocasião da divulgação dos resultados que a empresa estuda antecipar e ampliar as férias coletivas de fim de ano para a maior parte de seus funcionários. A parada poderia começar em 15 de dezembro e durar três semanas, em vez de duas, como aconteceu em 2013. A Marcopolo dará férias de 22 de dezembro até 12 de janeiro, para acompanhar o calendário das montadoras.

Na opinião do analista Mario Bernardes Junior, que acompanha bens de capital na corretora do Banco do Brasil, os resultados não foram tão ruins quanto poderiam ter sido. "Eu vejo pelo lado positivo de que o ambiente macroeconômico desafiador tem feito com que as empresas se preparem para as turbulências, façam o dever de casa. Por mais que tenhamos visto queda nas margens operacionais, os resultados não vieram tão ruins quanto poderiam ser", afirma o especialista.

No setor de transporte, que está diretamente ligado ao movimento produtivo do país, as perspectivas são piores. As concessionárias de rodovias, que historicamente costumam mostrar evolução gradual na receita, já quebraram a tendência e registram declínio na curva do volume de tráfego, na opinião de Renato Hallgren, analista de infraestrutura de transportes do BB.

"O volume de tráfego dessas concessionárias, que sempre foi positivo, mostrou mudança na curva, e esse cenário preocupante não deve mudar. Além disso, o aumento na taxa de juros teve impacto nas despesas financeiras das companhias, que operam com projetos muito alavancados", diz Hallgren.

A América Latina Logística (ALL), que transporta commodities, ressaltou como o lucro do trimestre foi prejudicado pela demanda mais fraca por seus serviços. Rodrigo Campos, diretor financeiro e de relação com os investidores, disse, após publicar o desempenho do trimestre, que "fazia tempo que a empresa não enfrentava um mercado tão difícil de demanda". A companhia teve queda de 55,4% no seu lucro.

Para aquelas diretamente ligadas ao consumo interno os resultados são mistos. As varejistas que vendem produtos de primeira necessidade, como o Pão de Açúcar, continuam mostrando resiliência. Varejistas têxteis, por outro lado, sentem mais o impacto da desaceleração econômica.

"O grupo Pão de Açúcar publicou um balanço em linha com o que esperávamos e reflete a resiliência do setor de alimentos. Lojas Americanas também mostrou números bons e agradou o mercado com o seu plano de expansão, que prevê abertura de 800 lojas em cinco anos", explica Daniela Martins, analista da corretora Concórdia. "Já Hering e Marisa são exemplos de varejistas que continuam pressionadas com a desaceleração do consumo."

A profissional destaca a Renner como um caso de sucesso no segmento têxtil. A rede de lojas teve melhora de 17,9% na receita líquida e avanço de 16,4% no lucro do terceiro trimestre. "Desde o ano passado, a Renner se mostra como uma das melhores do setor, sobretudo no crescimento das vendas mesmas lojas [das unidades abertas há mais de um ano]", diz Daniela.

Educação continua como o setor em destaque, com forte crescimento de resultados, como nos trimestres anteriores.