A economia brasileira, praticamente estagnada, está crescendo pouco mas emitindo muitos gases-estufa. O motivo é o aumento nas taxas de desmatamento na Amazônia e no Cerrado, além do uso maior de combustíveis fósseis na matriz energética.

As emissões brasileiras de gases-estufa aumentaram 7,8% em 2013 em relação ao ano anterior e bateram em 1,5 bilhão de toneladas de CO2. É a primeira vez que aumentam desde 2008.

Esses dados fazem parte das estimativas anuais de emissões do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima. O SEEG é uma ferramenta desenvolvida em 2013 para calcular anualmente as emissões brasileiras e identificar sua origem. O Observatório do Clima, por sua vez, é uma rede de entidades da sociedade civil que estuda a mudança do clima no seu contexto brasileiro.

Embora desaquecida, a economia brasileira ficou menos eficiente em relação às emissões de gases de efeito estufa - está mais "carbonizada", como se diz no jargão. Em uma conta estimada feita por Tasso Azevedo, coordenador técnico do SEEG, produzir na economia de baixo carbono seria conseguir R$ 40 mil por tonelada de CO2. "Estamos bem longe de termos uma economia de baixo carbono", disse ele no seminário em que se divulgaram as novas estimativas.

A relação das emissões brasileiras de gases-estufa com o PIB era de R$ 3.251 em 2012 e passou a R$ 3.090 em 2013. Dito de outra forma, o dado demonstra que se criou menos riqueza emitindo-se mais.

"O aumento nas emissões não é nada desprezível. Todos os setores da economia emitiram mais em 2013", dizCarlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. Segundo ele, o aumento de 2013 representa uma reversão na tendência de queda que acontecia desde 2005, puxada pela redução nas taxas anuais de desmatamento. Em 2012, as emissões brasileiras chegaram a seu menor valor, com 1.454 milhão de toneladas de CO2 equivalente (medida que equipara os outros gases estufa ao CO2). O dado exato de 2013 é 1.568 milhão de toneladas.

O aumento das emissões foi puxado pelas mudanças no uso da terra (35% das emissões totais), com o crescimento no desmatamento da Amazônia e do Cerrado. Energia teve grande responsabilidade (30% das emissões) em função do aumento no uso de energia termelétrica de fontes fósseis e consumo de gasolina e diesel.

A agropecuária continua a ser a principal fonte de emissões: 63,4% em 2013, somando-se desmatamento, energia e resíduos resultantes da produção.

"O pano de fundo de tudo isso é que não trouxemos o tema da mudança climática ainda, de forma estratégica, para dentro das políticas públicas e do desenvolvimento do país", diz Rittl. "Estamos ignorando o clima nos planos de fomento da indústria, nos grandes incentivos à agricultura, nas obras de infraestrutura, na matriz energética. Não consideramos o clima nem para desenvolver estes setores, nem para torná-los menos vulneráveis", continua.

Pará (11,2%) e Mato Grosso (9,4%) lideram o ranking dos Estados mais emissores de gases-estufa no país, seguidos por São Paulo (8,5%) e Minas Gerais (7,5%).

Os brasileiros, per capita, emitem 7,8 t CO2. É o primeiro aumento de emissões por habitante desde 2004 (quando a emissão por brasileiro chegou a 16,4 tCO2 /habitante, índice puxado pelas altas taxas de desmatamento).

Os dados do SEEG estão disponíveis na plataforma online (www.seeg.eco.br). O trabalho envolve organizações como o Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), ImafloraImazon e Iclei.

 

ONU recomenda que mundo fique "neutro em carbono"

 

O mundo deve tornar-se "neutro em carbono" na segunda metade do século para que o aumento global da temperatura fique limitado a 2o C, evitando impactos mais graves da mudança do clima, segundo as Nações Unidas.

A recomendação é que entre 2055 e 2070 a emissão de gases-estufa que se origine da queima de combustíveis fósseis seja neutralizada com o plantio de árvores e o sequestro de gases-estufa por tecnologias de sequestro de carbono (conhecidas por CCS, elas ainda estão em fase de desenvolvimento no mundo).

Está aumentando o hiato entre os compromissos assumidos pelos governos de cortar as emissões de gases-estufa e o que realmente deveria ser feito segundo o que os cenários científicos recomendam, para se ter um regime climático mais seguro, diz um relatório anual preparado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

"Fazer mais agora reduz a necessidade de ações mais drásticas depois, se quiseremos ficar dentro dos limites seguros de emissões", disse em Washington Achim Steiner, sub-secretário das Nações Unidas e diretor executivo do Pnuma, durante lançamento da quinta edição do "Emission's Gap Report" ("A Lacuna das Emissões", em tradução livre).

Desde 1990, as emissões globais de gases-estufa cresceram mais de 45%. "Para se ter uma boa chance de ficar abaixo do limite de 2o C, as emissões de gases-estufa deveriam cair 15%, ou mais, em 2030 em comparação a 2010, estar pelo menos 50% menores em 2050 e no rumo das emissões líquidas zeradas", diz o estudo.

Segundo Steiner, ligar políticas de desenvolvimento com a redução de emissões de gases-estufa "irá ajudar os países a construir infraestrutura de baixo carbono e eficiência energética capaz de suprir as mudanças necessárias ao verdadeiro desenvolvimento sustentável."

Para atingir a meta dos 2o C, as emissões globais não deveriam superar 44 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (medida que nivela todos os gases-estufa às emissões de CO2) em 2020. Mas comparando-se esta espécie de "orçamento de carbono" com os compromissos assumidos pelos governos de reduzir emissões, ainda ficam sobrando 8 bilhões a 10 bilhões de toneladas de CO2 -- o chamado "emissions gap".

Andrew Steer, presidente do think tank World Resources Institute, lembra que o acordo climático global a ser fechado em 2015 em Paris "não deveria ser baseado em emoções ou caprichos políticos, mas deveria ser guiado pela ciência e pelos fatos." A lacuna das emissões não está diminuindo, ao contrário. O estudo, produzido por 38 cientistas de 14 países, estima que melhorias na eficiência energética podem evitar a emissão de 2,5 gigatoneladas a 3,3 gigatoneladas de CO2 anuais. "Eficiência energética não só evita emissões como pode aumentar a produtividade", diz o relatório.

 

País amplia áreas de conservação, afirma ministério

Com a permanência no cargo ainda indefinida, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, fez um balanço dos principais resultados da pasta nos quatro anos de mandato da presidente Dilma Rousseff.

 

Apesar de ter destacado a expansão das unidades de conservação e os quase R$ 1 bilhão arrecadados com compensações ambientais, a ministra não escapou de perguntas sobre o aumento do Desmatamento na Amazônia.

Segundo ela, ainda não há um diagnóstico preciso sobre o que motivou a alta de 29% entre agosto de 2012 e julho de 2013, último dado oficial disponível. "São os problemas clássicos de confrontos de terra e de atividades criminosas de exploração de madeira que estamos combatendo", disse, durante reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

No balanço, a ministra afirmou que o governo está conseguindo ampliar as áreas protegidas na Amazônia o que, segundo ela, reflete o esforço no combate ao Desmatamento. As unidades de conservação somam atualmente 53 milhões de hectares, número que chega a 57 milhões de hectares se consideradas áreas já repassadas ao Ministério do Meio Ambiente pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. A meta do governo é atingir os 60 milhões de hectares até 2020.

Izabella também destacou os valores arrecadados com compensações ambientais pagas por empreendimentos de infraestrutura e logística. Em quatro anos o montante vai somar R$ 935 milhões, recursos que devem ser investidos nas unidades de conservação.