A taxa de desemprego voltou a cair em outubro, passando de 4,9% para 4,7%, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Ao contrário da tendência observada nos meses anteriores, contudo, a busca fraca por trabalho não foi o fator mais determinante para o movimento. A população economicamente ativa aumentou 0,6% sobre setembro, mas a alta da ocupação foi maior, de 0,8%.

Parte importante dessa expansão aconteceu, no entanto, em detrimento das contratações com carteira assinada, que encolheram 0,3% na comparação com o mês anterior. A principal influência foi o avanço de 3%, na mesma comparação, do emprego por conta própria – para economistas, mais um sinal de fragilidade do mercado de trabalho do país neste ano, que também ajudaria a explicar o contraste com os números ruins do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

O crescimento do trabalho autônomo representa via de regra perda de qualidade da geração de emprego, pondera Jankiel Santos, economista-chefe do Besi. “É um grupo formado em geral por pessoas que não encontraram nada e tentam se virar como podem”, diz. No mês passado, o emprego por conta própria passou a representar 19,1% da população ocupada, contra 17,9% em janeiro de 2013.

 

Apesar da composição aparentemente mais favorável em outubro, a taxa de desemprego – ainda no menor nível desde 2002 – segue revelando um mercado de trabalho pouco robusto, avalia Flávio Combat, da Concórdia Corretora. Para ele, tanto o aumento da PEA quanto da ocupação se devem, em grande parte, à dinâmica de fim de ano. Nessa época, diz, as empresas ainda estão contratando temporários, movimento que estimula o aumento da busca por vagas.

 

Jankiel ressalta que ambos os indicadores repetiram o comportamento dos meses anteriores na comparação com outubro de 2013 – a PEA cedeu 0,5% e a ocupação não variou. “Na análise de longo prazo, o sinal não é de melhora”, diz. O contingente médio de ocupados no país ainda é 0,3% menor do que em 2013 e a taxa de atividade segue baixa, em 56,2%.

 

Calibrada pela sazonalidade do período, a estimativa do bando ABC Brasil era de leve aumento da taxa de desemprego, que chegaria a 5%. Para Mariana Hauer, economista da instituição, o crescimento significativo do emprego por conta própria, de 6% em relação a outubro de 2013, foi a principal surpresa na divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e explica em parte o descolamento do indicador do Caged, que apurou saldo líquido negativo de aproximadamente 30 mil vagas em outubro.

 

A modesta retração de 0,3% do emprego com carteira assinada em relação a setembro – uma estabilidade estatística -, entretanto, não reflete o cenário desenhado pelo levantamento do Ministério do Trabalho. “De forma geral, o número foi bom, mas mantém a PME bastante descolada dos demais indicadores de atividade. É preciso esperar novembro para concluir se o resultado foi ou não pontual”, afirma. O emprego sem carteira também diminuiu em outubro, 1,9% em relação a setembro e 6,9% sobre outubro de 2013.

 

A taxa de desemprego em Salvador passou de 10,3% em setembro para 8,5% – a retração mais significativa entre as seis regiões metropolitanas que compõem a pesquisa. O indicador manteve-se estável em 6,7% no Recife; passou de 3,8% para 3,5% em Belo Horizonte; de 3,4% para 3,8% no Rio de Janeiro; de 4,5% para 4,4% em São Paulo e de 4,9% para 4,6% em Porto Alegre.