A evolução dos negócios de telecomunicações tem mudado drasticamente o perfil de todo o mercado. Com a competição mais acirrada, as receitas das companhias foram afetadas e a corrida pela concentração de mercado que agitou a Europa nos anos 2000 ganhou novo vigor mundialmente. Nesse contexto, empresas fortes ou fragilizadas, mas com o objetivo comum de reduzir custos, decidiram abrir mão do que defendiam com garras há uma década: a posse das torres de telefonia. Esses equipamentos também são poupados como ativos importantes que podem garantir liquidez às empresas em momentos cruciais para gerar fluxo de caixa e fazer aquisições. Um mapeamento das principais transações, feito pela consultoria Value Partners para o Valor, indica que as empresas venderam 18.983 torres no Brasil de 2012 ao segundo trimestre de 2014. Os negócios envolveram torres da Oi, Vivo, CTBC (do grupo mineiro Algar Telecom), GVT, Nextel e do grupo de televisão Band. As vendas atingiram um total de US$ 3,461 bilhões. O valor de cada torre, que variou de US$ 119 mil a US$ 223 mil, hoje está entre US$ 136 mil e US$ 234 mil, em média. Como as operadoras dependem das torres para a comunicação de suas redes, quando as vendem negociam o aluguel com o comprador - geralmente companhias que só trabalham com a gestão de torres. É um meio de levantar financiamento sem recorrer a bancos ou ao mercado, e com custo inferior ao do capital. As empresas de torres pagam pelo ativo e podem fazer mais negócios com essa infraestrutura do que as operadoras, diz Francesco Pellegrino, sócio da Value Partners. Isso porque colocam mais inquilinos por equipamento, diluindo os custos e aumentando a receita. Entre operadoras, o compartilhamento nunca foi uma operação tranquila. Em muitos casos, a convivência na mesma torre é sinônimo de desconfiança e de vizinhança incômoda. A regulamentação do setor de telecomunicações exige que as empresas compartilhem a infraestrutura. A regra demorou anos para ser afinada e os acordos não são fáceis. As discussões são demoradas e a definição de preços muitas vezes requer arbitragem da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O ciúme em relação à cessão de espaço nas torres nasceu com a privatização do setor. Na ocasião, houve uma corrida das teles. Quem construísse sua rede mais rapidamente atraía consumidores primeiro. Naquele cenário, quanto mais o rival demorasse para montar e colocar suas torres em operação, melhor. Mas depois que todas as companhias construíram suas redes, não havia mais motivo para barrar o compartilhamento. Ao contrário, as empresas começaram a ver no modelo de venda e aluguel um meio de gerar fluxo de caixa e reduzir custos. Ainda assim, dependendo da operadora e da região, a resistência pelo compartilhamento continua. De modo geral, a tendência é que as teles mantenham a posse de torres estratégicas - em locais onde não há equipamentos concorrentes, ou a negociação é difícil para novas implantações. É comum ver em um só local a concentração de torres de diferentes operadoras. Em Uberlândia, por exemplo, na mesma quadra existem torres da Algar, Vivo e TIM, diz o presidente da empresa mineira, Divino Sebastião de Souza. Bastaria um equipamento para abrigar as antenas das três companhias. Por outro lado, na avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, região com alto número de empresas em São Paulo, é possível ver o topo de um prédio com um emaranhado de antenas de todas as teles. Nesse caso, não há necessidade de construir uma torre. O próprio edifício faz esse papel, o que ajuda a resolver o problema de falta de locais para novos equipamentos.