Título: Euforia e política na Paulista
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 26/06/2011, Brasil, p. 11

Direitos Humanos

A Parada Gay de São Paulo completa hoje sua 15ª edição com participantes cada vez mais dispostos a levar para a avenida vitórias e anseios dos homossexuais

São Paulo ¿ A maior cidade do país vai hoje celebrar hoje o orgulho gay na maior parada do gênero do mundo. A 15ª edição do evento traz um diferencial que se reforça a cada ano. Aos poucos, o desfile pela Avenida Paulista perde a característica carnavalesca e assume um papel político, sem perder o colorido do arco-íris. No meio de 15 trios elétricos que vão desfilar do Museu de Arte de São Paulo (Masp) até a Praça Roosevelt, haverá manifestações políticas contra a homofobia e a favor dos direitos gays. Um dos carros alegóricos vai ressaltar a maior conquista dos homossexuais nos últimos anos: a união civil gay, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Para o presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, Ideraldo Luiz Beltrame, é natural que questões importantes sejam comemoradas. "A parada é a maior concentração popular do país. Não se pode só soltar confetes e purpurinas. Temos que aproveitar para cobrar os nossos direitos e comemorar as nossas conquistas", ressalta. A ideia da organização do evento é reunir mais de 3 milhões de pessoas e, de quebra, alcançar um recorde mundial ao convidar os casais para dançar uma valsa na abertura do evento. "Vamos entrar no Guiness Book", avisa Beltrame.

O tema da parada deste ano reforça o viés político: "Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia!". Setores da Igreja viram uma provocação no lema. O padre Marcelo Tavares, da paróquia de Santana, na Zona Norte paulista, achou desnecessária a referência religiosa. "Na minha igreja, sempre acolhemos homens e mulheres de todos os tipos de orientação sexual. Dentro da própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), não há consenso entre as conquistas dos gays. Há bispos que apoiam, mesmo de maneira velada, e outros que são publicamente contra", ressalta o vigário.

São esperados políticos que defendem abertamente a causa gay, como os senadores Marta e Eduardo Suplicy (PT-SP). A presidente Dilma Rousseff foi convidada pela associação, mas, até ontem à tarde, não havia confirmado presença.

Polêmica Em quase todas as edições da parada, homens musculosos seminus chamaram a atenção do público. Alguns travestis chegam a tirar a roupa. De olhos nos que exageram, a Prefeitura de São Paulo resolveu imprimir um folheto orientando os participantes a se vestir com "trajes mais adequados", já que há presença maciça de crianças no evento. Um painel exposto na rua pela São Paulo Turismo (SPTuris), órgão da prefeitura, orientava manifestantes a usar roupas pouco chamativas. A placa ficou exposta por três horas e meia e foi retirada por ordem do prefeito Gilberto Kassab, segundo fontes da prefeitura.

Outra placa afixada no metrô gerou polêmica ao fazer a seguinte recomendação: "Compre seu bilhete de Metrô antecipadamente e evite o uso de fantasias mais "ousadas" nas dependências do metrô". Tinha até versão em inglês, que, na tradução literal, pedia ao turista evitar "vestir trajes escandalosos". "Esse material é um escândalo. Cada um é gay do seu jeito", reagiu Beltrame.

Violência A organização da Parada Gay está preocupada com alguns pontos vulneráveis para ataques contra homossexuais, como as ruas e alamedas nas proximidades da Paulista e da Consolação. Só no primeiro semestre deste ano, mais de 50 homossexuais foram agredidos na região da Paulista, que tem a maior concentração de gays do país o ano inteiro.