Título: Problema cultural
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 26/06/2011, Economia, p. 12

Muitas famílias ficam endividadas em vez de enriquecerem porque, simplesmente, as ideias sobre dinheiro não convergem ou vão para o ponto errado. Uma pessoa nem tem ideia de quanto a outra ganha e cada uma vive o presente sob o pretexto de que a vida é curta e a morte é certa. Para o economista Gustavo Cerbasi, "o dinheiro só não traz felicidade, quando não se sabe o que é felicidade. Planejamento financeiro tem um objetivo muito maior do que não ficar no vermelho".

Ele ressalta que o descontrole financeiro está enraizado na cultura brasileira. Isso, segundo os analistas, está evidente quando se observa o orçamento das quase 40 milhões de pessoas que entraram para a Classe C e o mercado de consumo nos últimos 10 anos. A maioria evoluiu na renda, mas manteve velhos e prejudiciais hábitos. O planejamento, contudo, é vital, sobretudo quando o assunto é dinheiro.

A organização financeira, também denominada entre os analistas de independência futura, não requer cálculos complexos ou grandes habilidades com números e calculadoras, explica Cerbasi, que, em seu livro, apresenta uma série de tabelas e maneiras bem simples de controlar o orçamento, pagar as dívidas, investir e ainda garantir boa aposentadoria, desde que escolhidas as alternativas corretas.

O economista indica, por exemplo, que nem sempre o melhor caminho é comprar à vista ou se comprometer com financiamento. Às vezes, o mais rentável é aplicar o dinheiro por algum tempo. Ele cita o exemplo de um casal que precisa de R$ 100 mil para comprar um imóvel. Se optar por um financiamento pelo período de 20 anos, com juros de 1% mensais, mais a inflação, terá de pagar prestação média de R$ 1.101. Caso a opção seja por alugar uma casa no mesmo valor, o desembolso mensal será de R$ 800, "na pior das hipóteses".

O importante, na segunda opção, é que o casal tome o cuidado de poupar a diferença de R$ 301 ao longo dos 20 anos em que estaria comprometido com o financiamento. Ao receber juros líquidos de 0,6% ao mês (após taxas, impostos e inflação), o casal acumulará, no período, o equivalente, em valores de hoje, a R$ 168.710,50. "Não é mágica. É matemática financeira", garante. (VB)

Gastos do dia a dia Para um bom planejamento é preciso organizar as despesas em várias categorias. Algumas são básicas, para a sobrevivência, como moradia e educação. Mas é nos dispêndios diários (transporte, alimentação, roupas, sapatos) que mora o perigo. Normalmente, nessa parte da planilha, se concentram os maiores excessos e o "ralo" pelo qual o dinheiro está escoando aparece. É bom que todos tenham olhos atentos e vejam onde cada um pode ajudar a economizar de verdade.