O juiz federal convocado do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) Pablo Dourado mandou soltar todos os 34 presos investigados na Operação Terra Prometida. Entre eles estão Odair e Milton Geller, irmãos do ministro da Agricultura, Neri Geller. Há ainda 18 foragidos, a quem a decisão não foi estendida. A operação da Polícia Federal (PF) desarticulou na semana passada uma organização criminosa responsável por fraudes na concessão de lotes destinados à reforma agrária em Mato Grosso e complicou a permanência de Geller à frente do ministério.

O processo tramita em segredo de Justiça, mas a assessoria de imprensa do TRF1 informou que a prisão foi substituída por outras medidas cautelares. Os investigados não poderão se ausentar da região onde moram sem autorização da Justiça. Também deverão manter seus endereços atualizados na Justiça. Outra obrigação é sempre comparecer aos atos processuais aos quais forem intimados. Caso não observem essas medidas, voltarão para a prisão. Na última segunda-feira, o presidente do TRF1, Cândido Ribeiro Filho, havia negado 18 habeas corpus a presos na operação.

As investigações podem complicar a situação do ministro. Testemunhas ouvidas pela PF e pelo Ministério Público Federal (MPF) apontam o envolvimento do ministro. Trechos sobre os supostos vínculos dele com os desvios do programa já foram enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF). Geller foi citado várias vezes ao longo da investigação. A suspeita é que ele tenha favorecido a negociação ilegal de lotes e até se tornado proprietário de um deles. O programa do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) prevê a distribuição de 1.149 lotes de 100 hectares. Hoje cada um desses lotes está avaliado pelo mercado local em R$ 1 milhão. Segundo as investigações, as fraudes podem ter gerado prejuízo de R$ 1 bilhão à União.

Usando da influência financeira e política, o grupo é suspeito de aliciar e ameaçar posseiros da reforma agrária, obrigando-os a ceder seus lotes a preços bem abaixo dos de mercado. Segundo a PF, as ameaças eram feitas inclusive com o uso de armas. Os lotes eram regularizados com ajuda de servidores do Incra. Os presos poderão ser indiciados por crimes contra o meio ambiente, falsidade documental, estelionato e corrupção.

Na quarta-feira, Geller falou pela primeira vez em público do assunto. Em audiência na Comissão de Agricultura da Câmara, o ministro negou que ele ou qualquer membro de sua família tivesse cometido irregularidades. Disse também que nunca foi e nunca será "malandro".