Título: Chuva de dólares no interior
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 26/06/2011, Economia, p. 16

Agências especializadas em trocar reais por moedas estrangeiras crescem em todo o país, especialmente nas cidades de médio porte

A combinação entre o aumento da renda e o real forte estimula os brasileiros a viajar cada vez mais ao exterior. Esses turistas, somados aos quase 40 milhões de novos integrantes da classe média, fazem a festa em lojas, restaurantes e hotéis de terras estrangeiras. Na mesma proporção, cresce a procura por dólares, euros, libras em espécie ou em cartões pré-pagos, o que impulsiona o negócio de trocar dinheiro no país. Com isso, as agências de câmbio e seus correspondentes pipocam em todos os cantos, especialmente nas cidades médias, uma vez que as taxas são bem menores do que as cobradas nas operações com cartão de crédito.

Antes restritas aos aeroportos e hotéis de luxo, as agências de câmbio agora são mais frequentes em shopping centers. Desde 2010, o número de correspondentes cambiais saltou 46,24%, para 830 estabelecimentos, conforme dados compilados pelo Correio ¿ existem 167 instituições autorizadas pelo Banco Central a fazer transações com moedas estrangeiras. Só nos primeiros cinco meses do ano, foram abertas 98 lojas, a maioria em cidades como Anápolis (GO), Ipojuca (PE), Botucatu (SP), Jundiaí (SP), Bauru (SP), Resende (RJ), Londrina (PR), Barbacena (MG), Passo Fundo (RS) e Campos dos Goytacazes (RJ). A tendência é que o ritmo continue acelerado, devido ao potencial de crescimento dos negócios com a vinda dos estrangeiros para eventos como a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016.

De olho no mercado, o Grupo Fitta traçou uma estratégia de expansão no interior. "O número de turistas cresce muito fora dos grandes centros urbanos e estamos mapeando os locais para ampliar a nossa rede", revela o presidente da empresa, André Nunes. Ele pretende inaugurar a terceira loja em Brasília, no Park Shopping, no mês que vem. Hoje, o grupo tem duas franquias no Distrito Federal: uma no Conjunto Nacional, outra no Lago Sul. "Estudamos abrir novas unidades ao redor do DF ou em cidades próximas. O mercado daqui é diferenciado, com público de alto poder aquisitivo e imune às crises."

A estratégia da Fitta é crescer nas cidades médias. "Estamos em Aparecida de Goiânia e Anápolis, por exemplo. Nossas apostas são em locais com mais de 100 mil habitantes fora do eixo Rio-São Paulo", afirma Nunes. Com 57 franquias em funcionamento, a empresa prevê um salto de 54% nas receitas, que chegariam a R$ 850 milhões apenas com as franquias. O grupo, que estima faturar R$ 4 bilhões no ano, tem oito lojas próprias em funcionamento e seis em fase de implantação.

Agressividade O Grupo Confidence também tem uma estratégia agressiva. Com seis lojas no DF, registrou expansão de 100% no volume de transações de janeiro a maio e a previsão é de saltar 140% até o fim do ano. O vice-presidente de Marketing da empresa, Paulo Volpe, informa que o desempenho é resultado da expansão das lojas tanto no interior quanto nos grandes centros. "Estudamos ampliar a rede em cidades com mais de 200 mil habitantes nos próximos quatro anos", revela. O grupo deve abrir mais uma loja em Brasília até dezembro de 2012, por causa do forte potencial de faturamento.

De olho na Copa, o Banco Rendimento tem como estratégia principal ampliar sua presença nas 12 capitais onde os jogos serão realizados. "Vamos investir em novas lojas e na melhoria das existentes, para aprimorarmos o atendimento", conta o gerente de Câmbio, Helio Ozaki. A instituição tem hoje 45 filiais, e deverá aumentar, em breve, o espaço de atendimento da agência em Brasília.

Imposto A recente alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas compras com cartão de crédito no exterior, de 2,38% para 6,38%, incentivaram as transações com cartão pré-pago ou de câmbio em espécie. Elas são taxadas em 0,38%. A migração ocorre de forma acelarada. "Tivemos um aumento de 65% nas vendas de cartão pré-pago somente neste ano", diz Ozaki. "Essa modalidade cresce pela segurança em operações com volumes grandes. Nem os bancos têm mais interesse em manter quantias elevadas de moedas estrangeiras em seus cofres. É muito custoso", explica André Nunes. O grupo Fitta, por sua vez, registrou avanço de 30% na comercialização dos pré-pagos.

A venda desse meio de pagamento tem crescido não somente entre os que viajam. O administrador de empresas Rodrigo Corsini Lueneberg, 40 anos, foi à agência de câmbio comprar o cartão para fazer usar em sites norte-americanos. "Como a taxa do cartão pré-pago é bem menor do que a de crédito, vou fazer o teste. Qualquer economia vale a pena", afirma. Apesar de terem obtido a autorização do BC , os Correios ainda não se decidiram pelo serviço, os Correios. A Caixa Econômica Federal também não sabe quando as lotéricas entrarão no negócio.