A indústria automobilística enfrenta um ciclo de baixa que ainda não deu sinais de forte reversão. A produção está caindo quase 10% este ano, e a melhora que se viu no segundo semestre foi interrompida pelo tropeço de 9,7% em novembro. A entidade que representa o setor aguarda com bons olhos as mudanças na política econômica, mesmo que isso signifique aumento de juros e redução de subsídios.

O setor foi um dos mais beneficiados pela chamada nova matriz econômica. A redução do IPI barateou o preço dos automóveis, os bancos foram pressionados a conceder crédito, algumas vezes subestimando riscos, e um novo regime automotivo foi elaborado, o que dificultou importações. O boom das vendas, no entanto, parece que chegou ao fim.

O vermelho nos números se espalha por vários subsetores da indústria automotiva. A produção de máquinas agrícolas e rodoviárias encolheu 16,2% de janeiro a novembro. A de caminhões cai 20%, e a de ônibus, 40%. As exportações de veículos e máquinas caem 29%, o que representa uma perda de receita de US$ 4,45 bilhões. Com esses números, só poderia haver redução no quadro de funcionários. Em novembro, havia 7,9% menos empregos nas montadoras, em comparação com mesmo mês de 2013.

O início de um novo ciclo virtuoso, na avaliação do presidente da Anfavea, Luiz Moan, depende da recuperação da confiança na economia. Entre juros altos e inflação alta, o executivo prefere enfrentar um período de encarecimento no crédito, num primeiro momento, para que os índices de preços voltem ao centro da meta e isso aumente a renda das famílias para o consumo.

— Preferimos trabalhar com a realidade das medidas necessárias, do que postergar essas medidas. Subir juros significa derrubar a inflação. Aumentar impostos e cortar gastos significa melhorar a situação fiscal. Tudo que for estrutural, visando o médio e longo prazo, a Anfavea vai apoiar — afirmou.

É verdade que os números do segundo semestre estão mais fortes. A produção de veículos de julho a novembro é 5,5% maior do que entre janeiro a junho. Mas o tombo que se viu em novembro acendeu a luz amarela e os estoques voltaram a subir. O aumento dos juros e de IPI tornarão mais íngreme a ladeira da recuperação no ano que vem.

Terra ardendo

O gráfico mostra como continua desconfortável a situação do setor elétrico, mesmo após o início do período chuvoso. O nível de água dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, que são 70% do total do país, fechou novembro no patamar mais baixo desde o ano 2000, com apenas 16% da capacidade. No dia 3 de dezembro, o percentual havia subido para 16,14%.

Atrasado come torrado

Ontem, foi a vez do Reino Unido e do Banco Central Europeu deixarem os juros estáveis (0,5% e 0,05%, respectivamente). Em 23 países e regiões acompanhados pelo departamento econômico do Itaú Unibanco, 20 mantiveram as taxas neste final de ano. As exceções foram a China (corte de 0,4 ponto, para 5,6%), Indonésia (alta de 0,25, para 7,5%), e Brasil, que vem de duas elevações. Enquanto a maioria dos países aguarda para ver como a queda do petróleo e de outras commodities afetará a economia, o Brasil não teve essa opção. O crescimento próximo de zero sugeriria cortes na Selic, muito elevada. Isso não acontece porque a inflação está acima do teto da meta. O país demorou para começar a fazer ajustes.

CHOQUE DE REALIDADE. Até pouco tempo, prever PIB de 0,8% era coisa de quem apostava contra o Brasil.