O advogado Robert Finkel, que assina a ação do escritório de advocacia Wolf Popper, estima que a ação coletiva contra a Petrobras tenha um valor total de US$ 100 milhões - um cálculo, segundo ele, conservador. Finkel ainda disse esperar que o processo receba a adesão de cerca de mil investidores. Segundo ele, desde segunda-feira, quando a ação foi apresentada em um tribunal de Nova York, o escritório tem sido procurado por muitos brasileiros, mas também já conversou com alguns americanos.

- Precisamos avaliar a perda por participação, mas imaginamos um valor próximo de US$ 100 milhões. Preferimos ser conservadores e entregar do que prometer muito e não cumprir. Temos bons fatos, e a lei está do nosso lado. A lei americana é muito favorável a investidores que querem reaver o seu dinheiro.

Quem deu início à ação coletiva foi o contador aposentado Peter Kaltman. O investidor comprou recibos de ações (ADRs) da estatal - mil, no valor de US$ 11.585 - em 28 de outubro, bem depois de o escândalo de corrupção ter explodido. Kaltman, que é de Nova York mas atualmente mora no estado de Nevada, é cliente antigo do Wolf Popper. Com outros advogados, ele também já acionara a Justiça ao perder dinheiro com um esquema de pirâmide que resultou numa fraude de US$ 7 bilhões em 2009.

- Temos uma velha relação com ele - diz Finkel, acrescentando que casos como o da Petrobras costumam correr por dois ou três anos.

O caso mais parecido com o da Petrobras que o Wolf Popper já pegou foi contra o Deutsch Bank. Dizia respeito à conduta de uma empresa estrangeira que teve impacto em papéis negociados nos EUA.

Um investidor de Wall Street, que prefere não ter o nome publicado, conta que vem tentando reduzir sua posição em ADRs da Petrobras, mas não pensa em ir à Justiça contra a petrolífera:

- Essa historia é oportunista. Sou o único gerente de portfólio na companhia com ADRs. Se esse assunto se tornar importante, alguém virá falar comigo. Por enquanto, não é importante.

 

 

Investidor deve manter papéis da estatal, recomendam analistas

Não é vantajoso se desfazer das ações, na menor cotação em quase dez anos

Mesmo com o tombo na Bolsa por causa do escândalo de corrupção e um cenário desanimador para o preço do petróleo, donos de ações da Petrobras devem ter sangue-frio para manter seus papéis neste momento de cotações em baixa e alta volatilidade, recomendam analistas.

— Para quem pensa a longo prazo, como os que colocaram dinheiro do FGTS na empresa, o pior negócio seria vender os papéis. Esses investidores tiveram boas oportunidades de vender recentemente, como quando a oposição ia bem na campanha eleitoral e as ações subiram. Agora é preciso ter sangue-frio e esperar — diz Raphael Figueredo, analista da corretora Clear.

Isso porque as ações da companhia estão sendo negociadas aos valores mais baixos desde 2005. Do seu pico no ano, em 2 de setembro, para cá, o papel preferencial da companhia (PN, sem direito a voto) acumula queda de quase 54%, cotado a R$ 11,36. Em termos de valor de mercado, isso equivale a uma perda de quase R$ 169 bilhões.

Não à toa, entre 20 analistas brasileiros e estrangeiros que fizeram recomendações sobre a empresa de novembro para cá, 15 recomendam manter os papéis, enquanto apenas cinco acreditam que o momento é propício à compra, dado o baixo preço. Nenhum sugere a venda.

A curto prazo, analistas dão como certa a alta volatilidade e acreditam que os papéis podem cair ainda mais.

— Sem dúvida, a queda já foi enorme, mas essa trajetória pode continuar. A ação perdeu o patamar de R$ 12, considerado como um ponto de inflexão pelo mercado. O escândalo de corrupção gera uma crise de confiança cuja dimensão é difícil de mensurar, sobretudo depois de a companhia não ter divulgado seu balanço do trimestre — afirma Caio Sasaki, do Portal do Trader.

Virgínia Prestes, professora do MBA de finanças da Faap, só recomenda a venda a investidores cuja maior parte do patrimônio esteja exposta à Petrobras – caso de quem investiu até 50% do seu FGTS em papéis da empresa.

— O momento não é para venda. Mas, acima de tudo, é necessário estar diversificado. Assim, é interessante se desfazer de uma parcela das ações da companhia para realizar outras aplicações — sugere.

Bruno Piagentini, analista da corretora Coinvalores, diz que a reversão da trajetória de queda das ações dependerá de eventos concentrados no primeiro semestre de 2015:

— A companhia precisa divulgar seu balanço com estimativa do passivo gerado pela corrupção, atualizar seu plano de investimentos e manter seu grau de investimento. Isso deve aliviar o nervosismo. Quanto ao preço do petróleo, não deve permanecer tão baixo.

Os investidores também podem se proteger por meio de derivativos, que funcionam como um seguro da ação. Exercitando uma opção de venda (put), adquire-se o direito de vender a ação por um valor predeterminado, mesmo que o papel valha muito menos. Se a ação subir, o único prejuízo será o gasto com o contrato de opção.