O engenheiro Cláudio Martins Cabrera, de 50 anos, cansou de esperar para receber o apartamento comprado junto à Bancoop em 2008 no Edifício Ilhas de Itália, na Mooca, em São Paulo, e foi na última terça-feira ao 18º Distrito Policial de São Paulo lavrar um Boletim de Ocorrência por estelionato contra o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto (na época ele era o presidente da cooperativa) e contra a Construtora OAS, contratada para terminar o Ilhas de Itália e que vem sendo investigada também pela Operação Lava-Jato. Segundo o engenheiro, a OAS assumiu a construção do edifício onde ele havia comprado seu apartamento e o vendeu para outra pessoa, Roberto José Karsakas. Ele pagou R$ 43,5 mil pelo imóvel em 2008.

— Com a incapacidade da Bancoop de construir o imóvel, Vaccari contratou a OAS para finalizar o edifício, forjando assembleias de moradores, reforçadas por seus capangas petistas. A OAS assumiu as obras e mudou o projeto, vendeu metade do terreno do empreendimento por R$ 21 milhões e revendeu imóveis já pagos à Bancoop. Em 2011, mandei uma correspondência à OAS desejando quitar todo meu débito, para receber a escritura, mas nunca mais recebi qualquer resposta. Só agora soube que eles venderam meu apartamento para outra pessoa — disse Martins Cabrera.

A delegada Adonilza Lopes de Oliveira deve mandar abrir inquérito contra Vaccari e a OAS.

Martins Cabrera é apenas um dos 3.100 prejudicados pela Cooperativa dos Bancários da CUT. Helena de Campos Malachias, de 63 anos, comprou em 2001 um apartamento no Residencial Anália Franco, na Zona Leste, pelo qual pagou R$ 160 mil em parcelas mensais. A Bancoop disse que lhe entregaria o imóvel em 2006, mas a torre B do edifício está inacabada até hoje, virando um gigantesco esqueleto de 21 andares. Duas torres desse empreendimento estão com as estruturas enferrujando. Só as torres C e D terminaram.

— Agora me informaram que vão terminar a obra, mas que eu preciso pagar mais R$ 90 mil, por conta das dívidas da cooperativa no mercado, ou em parcelas de R$ 3 mil mensais. Como eu ganho R$ 5 mil como aposentada, não tenho como pagar essa dívida — disse Helena, que mora na casa de irmãos “de favor”, enquanto não recebe seu imóvel.

O mais grave acontece com o casal de idosos Filomena, de 83 anos, e Domênico Junes Carnevalli, de 89 anos. Eles receberam as chaves do apartamento no bloco D do Anália Franco, cujas obras foram entregues há dez anos, mas nunca conseguiram a escritura definitiva. Agora, para receber a escritura, a Bancoop pede o pagamento de outros R$ 90 mil, por conta do rateio das dívidas da cooperativa.

— Caímos no conto do vigário do Vaccari. Ele enganou milhares de pessoas. Não sei como consegue colocar a cabeça no travesseiro. Eu e meu marido podemos morrer a qualquer hora e ainda não recebemos a escritura. Eu sou cardíaca, uso marcapasso e não posso ficar nervosa. Por isso, fui morar na casa dos meus filhos em Florianópolis. Não tenho como pagar a dívida que me cobram — disse Filomena.

O mesmo acontece com o casal Dinalva e Bonerges Lombardi, uma das cinco mil famílias que receberam um apartamento, mas que há dez anos lutam para obter a escritura definitiva do imóvel que ocupam no bloco D do Anália Franco.

— É como obra de igreja, não acaba nunca. Eles querem que paguemos pelas dívidas da cooperativa, mesmo já tendo quitado nosso apartamento há 14 anos — disse Bonerges, que é presidente da associação dos moradores do Anália Franco.

Presidente da Associação das Vítimas da Bancoop, Marcos Sérgio Migliaccio diz que o PT e a CUT instrumentalizaram a cooperativa.

— Em quase todos os residenciais terminados moram petistas. O residencial Anália Franco deixou 132 famílias sem apartamentos, mas o número dois do Ministério da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, conseguiu seu imóvel.

A “cooperativa dos companheiros” tem uma dívida hoje de R$ 86 milhões. O agravante da história é que a dívida está sendo rateada agora entre os oito mil associados, inclusive entre os 5 mil que já estão de posse dos imóveis, mas que não podem tirar escritura até hoje por conta da “quebra” da entidade. Para saldar a dívida, a cooperativa quer que cada um dos filiados pague um adicional de R$ 90 mil para tirar a escritura definitiva dos imóveis.

— Esse Vaccari é um grande cara de pau. Paguei R$ 100 mil pelo meu apartamento no Residencial Altos da Mooca em 2005 e até hoje não tenho escritura. Agora, para recebê-la, a Bancoop diz que eu preciso pagar mais 30 prestações de R$ 3 mil. Certa vez o Vaccari nos disse numa reunião que as 252 famílias do Altos da Mooca teriam que pagar uma dívida de R$ 8 milhões. Esse dinheiro deve ter ido para o caixa do PT. É uma corrupção sem tamanho — disse Tânia Moraes, uma das vítimas da Bancoop.

A cooperativa diz que a “reestruturação da Bancoop está em sua fase final” e que foram entregues 5.697 imóveis aos cooperados pela cooperativa, restando apenas 131 unidades, distribuídas em três empreendimentos, para serem entregues. Tais empreendimentos estão em processo avançado de análise da solução para seus casos específicos, sendo que um deles tem assembleia marcada para o próximo dia 13/12 para decidir sobre uma proposta de solução”.

O GLOBO, no entanto, constatou a existência de inúmeros “esqueletos” de edifícios tanto em São Paulo como no litoral paulista, cujas obras estão abandonadas pela cooperativa dos bancários.