Primeiro petista eleito para governar o Ceará, Camilo Santana, de 46 anos, defende temas polêmicos como a volta da CPMF para financiar a Saúde, a revisão da relação do governo com o PMDB e a construção de uma nova base aliada.
Que lição o senhor tira das urnas após as eleições de 2014?
É preciso fazer uma avaliação do resultado das urnas, tendo em vista que foi uma eleição apertada. Mas eu defendo que temos de fortalecer o nosso governo, pois o principal cargo do governo, a Presidência da República, é do nosso partido. O importante é que as mudanças que o país precisa sejam implementadas e sejam aprofundadas, como foi o lema da campanha (de Dilma).
O maior desafio do PT, apontado na reunião do Diretório Nacional, em Fortaleza, está em criar condições para que a presidente Dilma Rousseff possa fazer um segundo mandato melhor que o primeiro. Como dialogar com um Congresso mais conservador?
Eu acho que a presidente Dilma tem um papel importante no PT e os dirigentes, que fazem a relação política do governo, de construir uma nova base de aliados no Congresso. Pelo menos é o que eu defendo: rever essa relação da base aliada do governo, até porque o principal aliado tem sido o PMDB, mas, no momento em que o governo precisa, ou no momento das eleições, a gente viu o quanto os candidatos do PMDB ficaram contra a presidente.
Como se dariam essas mudanças?
Acredito que seja preciso mudar esta correlação de forças e essa relação com a base aliada. Tem setores que defendem a construção de blocos, a fusão de alguns partidos, a construção de frentes. Eu acho que hoje o governo trata o PMDB como se ele tivesse mais força do que tem. Posso até ser ingênuo nessa defesa, mas acredito que a relação tem que ser muito mais republicana do que simplesmente em troca de espaço no governo.
O PMDB vai participar do seu governo? Ocupará algum cargo?
Claro que não!
Qual será a influência dos Ferreira Gomes no seu governo?
Olha, eu tenho uma admiração por eles, até porque poucos tiveram gestos como o de Cid Gomes, para o PT e para a presidenta, que foi o de deixar um partido (o PSB) em nome do projeto da presidente, da reeleição dela.
O PT aprovou resolução em que determina a expulsão de corruptos do partido. O senhor acredita que essa expulsão deva ser imediata, seja de mensaleiros ou de citados na Operação Lava-Jato?
Não se pode expulsar ninguém do partido sem cumprir o regimento e o estatuto do partido. Existem regras e normas. O que tem de ser muito claro para sociedade é que o PT é um partido que combate a corrupção, independentemente de quem esteja envolvido. Em qualquer partido, (o corrupto) tem que ser punido. A determinação da presidenta Dilma e do partido é que, neste governo, qualquer corrupção tem que ser apurada, e as pessoas tem que ser punidas, independente de serem do PT ou de qualquer outro partido. É isso que defendo.
O senhor defende a volta da CPMF. Isso foi conversado com Dilma?
Eu estou abrindo essa discussão novamente. Conversei com governadores petistas da Bahia e do Piauí, que foram a favor. Conversei também com alguns deputados. Vamos ter uma reunião, no dia 9, de todos os governadores eleitos no país, e eu vou apresentar essa proposta. Eu não conversei com Dilma sobre isso, conversei com o presidente do meu partido. Mas não tenho dúvida de que jamais a presidenta Dilma seria contrária, pois acredito que a preocupação com a Saúde é de todos no Brasil.
Por que o senhor defende a volta da CPMF? De quem é a iniciativa?
Essa foi uma iniciativa pessoal minha, pois acho que o Brasil precisa de uma fonte de financiamento da Saúde, para aumentar os recursos nesta área. E a minha preocupação é porque nós sabemos que 2015 será um ano talvez de dificuldades, pela expectativa que se tem. Enquanto nós não temos o pré-sal para que financiar investimentos em Saúde e Educação, é importante pensarmos em novas fontes de financiamento nesta área, a população tem cobrado isso.
Estudos indicam que a CPMF tem efeito direto sobre as taxas de juros, e isso desestimula o crescimento econômico e reduz a base contribuição e arrecadação dos demais tributos.
Estou preocupado com a Saúde, mas se tiver alguma argumentação de que vai ter influência no crescimento do Brasil, vou procurar conhecer esse estudo. Defendo que seja uma CPMF diferente. Ela deve ser exclusiva para a Saúde e deve ser determinado o percentual para estados, municípios e União. E se não for a CPMF, temos que defender um mecanismo de financiamento da Saúde pública no Brasil.
A escolha do Nordeste para a reunião do Diretório Nacional do PT pode significar maior participação do Nordeste no governo?
Não necessariamente, pois eu acho que o importante é o projeto liderado por Dilma. Mas, dos cinco governadores eleitos do PT, três são do Nordeste, e o Ceará tem seu primeiro governador eleito do PT.